domingo, 13 de maio de 2012

Muito Bom , estão começando as movimentações .


13/05/2012

Rede Desenvolvimentista: os intelectuais vão à luta

A disposição de discutir os desafios do país, não de um ponto de vista diletante ou apenas acadêmico, mas engajado, organizado e direcionado à busca de soluções para os gargalos do desenvolvimento brasileiro, reuniu meia centena de economistas das mais diversas especialidades na semana passada na Unicamp. A iniciativa, desdobrada em três dias de debates, divididos em cerca de uma dezena de mesas, foi o segundo passo na implantação da Rede Desenvolvimentista. Nascida na universidade, a Rede pretende consolidar-se como uma caixa de ressonância da agenda do desenvolvimento, ancorada em propostas e projetos para o Estado brasileiro e a integração sul-americana.

A iniciativa tem um significado histórico encorajador. Cada época tem sua usina de reflexão estratégica. A Cepal cumpriu esse papel nos anos 50/60, de um ponto de vista progressista. O nacional desenvolvimetismo do ISEB funcionou como um tink thank das reformas de base que agitaram a vida política e intelectual do país até 1964. O ocaso da agenda do desenvolvimento a partir dos anos 90 tem razões políticas conhecidas. A hegemonia do credo neoliberal tornava dispensável a reflexão de natureza propositiva sobre os rumos do país. O mercado era rei. Seus centuriões midiáticos, mas também academicos, blindavam a agenda econômica e o debate político.O círculo de ferro circunscrevia governos, partidos e intelectuais nos limites das reformas requeridas à livre ação dos capitais, ungidos à condição de sinônimo de eficiência e autossuficiencia na ordenação da economia e da sociedade. 

A desordem financeira que eclodiu em 2008 rasgou a fantasia desse corso afinado na ditadura do Estado mínimo com suas privatizações e regressividade social. Ao dobrar a aposta no enrêdo anacrônico a Europa oferece um condensado pedagógico de sua natureza letal na vida dos cidadãos e da engrenagem produtiva. Mais que tudo ,porém, a chocante desagregação da sociedade europeia nos recorda que o colapso de um ciclo não leva automaticamente ao passo seguinte da história. 

Novos atores e novos projetos devem assumir o comando do destino brasileiro. 
A Rede Desenvolvimentista avança nesse hiato entre dois mundos. E se propõe a pavimentar um pedaço da travessia organizando a discussão de agendas estratégicas para superar os torniquetes da supremacia neoliberal sedimentados na esfera financeira, industria, cambial e tecnológica.

O termo 'social desenvolvimentismo' sintetiza o eixo desse comboio de idéias e forças políticas que busca resgatar o direito soberano de uma sociedade planejar o seu crescimento e o seu futuro.

Com o risco de afrontar nuances pode-se dizer que uma constatação permeou os debates e discussões da Rede Desenvolvimentista: o desenvolvimento brasileiro vive uma dobra decisiva; o equilíbrio frágil entre crescimento e justiça social, perseguido a partir de 2003, e que diferencia o desenvolvimentismo atual da versão economicista dos anos 50, requer um alto estrutural para se instaurar de forma consistente e duradoura. O modelo chinês de arrocho salarial não serve por princípio --assim como não serve a eficiência exportadora alemã, ancorada igualmente em arrocho.

"Voces sabem quanto ganha uma administradora de empresas terceirizada na Alemanha de Merkel? Pois bem ganha 800 euros, quase o salário de empregada domética no Brasil", exemplificou Luiz Gonzaga Belluzzo em sua intervenção sobre os componentes da crise internacional. O tripé requerido, feito de aceleração do investimento, salto de produtividade e avanços sociais, sobretudo na educação, não está,portanto, desenhado;nem há modelos prontos a perseguir. O fenômeno da desindustrialização evidencia o custo de se prolongar essa indefinição no tempo. O fôlego industrial do país hoje é 5% inferior ao que existia no pré-crise de 2008. Poderá recuar mais 5%, advertiu-se no debate da Rede. Quem acha que é pouco deve ser informado que a corrosão ocorre justamente nos setores de ponta, que dão o comando aos demais segmentos da produção. 

Não se trata de um fetiche manufatureiro: ter indústria significa ter um setor de bens de capítal arrojado capaz de irradiar competitividade e eficiência ao conjunto do sistema produtivo. 

Inúmeras medidas são evocada na superação dessa regressividade fabril, que não decorre apenas do câmbio defasado e dos juros siderais, ainda que eles tenham um peso importante. Um ensaio de consenso emergiu dos debates: o mercado não fará isso pela sociedade brasileira. Seja na frente do investimento, da pesquisa, do crédito e do salto educacional requerido, o Estado democrático deve assumir um papel hegemônico no processo. 

Não se prescinde do mercado, sobretudo do mercado de capitais, mas as insuficiências desse ator ficaram evidentes na recente queda de braços entre o governo e a banca em torno da reduçao dos spreads . A pendência só se inclinou a favor da redução do custo do dinheiro (mas empacou na expansão do crédito) quando o governo Dilma decidiu politizar o tema e acionou uma poderosa alavanca indutora: os bancos estatais, que normatizaram o significado do interesse nacional nos dias que correm. Esse trunfo está presente também na economia do petróleo, graças à regulação soberana das reservas do pré-sal, mas ele inexiste em outros segmentos e esferas modeladoras do desenvolvimento. Fundos de investimento de longo prao, por exemplo, são diluídos e desconectados. A criação de um 'fundo dos fundos', que reunisse capitais públicos, caixas de pensão e mesmo capital estrangeiro de longo prazo --comandados por um grande ordenador estatal, como o BNDES-- foi uma das idéias-força registradas no evento da Unicamp, na intervenção do economista Jorge Matoso. 

Difícil sintetizar a rica diversidade de idéias afloradas nesse engatinhar promissor da Rede Desenvolvimentista. Mas uma intervenção colhida no calor dos debates sugere que os limites do passado, finalmente, perderam a prerrogativa de pautar o futuro : "O Brasil tem que perder o medo de discutir novamente um tema interditado nos anos 90: a criação de novas empresas públicas, estatais que possam nuclear setores estratégicos e fazer o mesmo que os bancos públicos e a Petrobrás fazem hoje em suas áreas de referência: colocar o mercado a serviço do país'.
Postado por Saul Leblon às 12:11

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