quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Carta Maior por Saul Leblon

Fala FHC: como seria o Brasil em mãos tucanas?



Um grande banco de São Paulo reuniu nesta 3ª feira três vigas chamuscadas do incêndio neoliberal que ainda arde no planeta: Clinton, Blair e FHC. Que um banco tenha promovido um megaevento com esses personagens a essa altura do rescaldo diz o bastante sobre a natureza do setor e da ingenuidade dos que acreditam em cooptar o seu 'empenho' na travessia para um novo modelo de desenvolvimento. Passemos.

As verdades às vezes escapam das bocas mais inesperadas. Clinton e Blair jogaram a toalha no sarau anacrônico do dinheiro com seus porta-vozes. Coube ao ex-presidente norte-americano sintetizar um reconhecimento explícito: 'Olhando de fora, o Brasil está muito bem. Se tivesse que apostar num país, seria o Brasil'.

Isso, repita-se, vindo de um ex-presidente gringo que consolidou a marcha da insensatez financeira em 1999, com a revogação da lei de Glass-Steagall.

Promulgada em junho de 1933, três meses depois da Lei de Emergência Bancária, que marcou a posse de Roosevelt, destinava-se a enquadrar o dinheiro sem lei, cujas estripulias conduziram o mundo à Depressão de 29.

A legislação revogada por Clinton submetia os bancos ao rígido poder regulador do Estado. Legitimado pela crise, Roosevelt rebaixou os banqueiros à condição de concessionários de um serviço sagrado de interesse público: o fornecimento de crédito e o financiamento da produção. Enquanto vigorou, a Glass Steagall reprimiu o advento do supermercado financeiro, o labirinto de vasos comunicantes dos gigantes financeiros em que bancos comerciais agem como caixa preta de investimento especulativo, com o dinheiro de correntistas.

O democrata que jogou a pá de cal nas salvaguardas do New Deal elogiou o Brasil, quase pedindo desculpas por pisotear o ego ao lado do grande amigo de consensos em Washington e de corridas de emergência ao guichê FMI.

Mas FHC é um intelectual afiado nas adversidades.

A popularidade contagiante do tucano, reflexo, como se sabe, de seu governo, poupa-o da presença física nos palanques do PSDB, preferindo seus pares deixá-lo no anonimato ocioso para a necessária à defesa do legado estratégico da sigla.

É o que tem feito, nem sempre dissimulando certo ressentimento, como nessa 3ª feira mais uma vez.

Falando com desenvoltura sobre um tema, como se sabe, de seu pleno domínio sociológico, ele emparedou Clinton, Hair e tantos quantos atestem a superioridade macroeconômica atual em relação à arquitetura dos anos 90.

Num tartamudear de íngreme compreensão aos não iniciados, o especialista em dependência - acadêmica e programática - criticou a atual liderança dos bancos públicos na expansão do crédito, recado oportuno, diga-se, em se tratando de palestra paga pelo banco Itau; levantou a suspeição sobre as mudanças que vem sendo feitas - 'sem muito barulho'' - na política econômica ("meu medo é que essa falta de preocupação com o rigor fiscal termine por criar problemas para a economia”) e fez ressalvas ao " DNA" das licitações - que não reconhece, ao contrário de parte da esquerda, como filhas egressas da boa cepa modelada em seu governo.

Ao finalizar, num gesto de deferência ao patrocinador, depois de conceder que a queda dos juros é desejável fuzilou: 'houve muita pressão para isso'.

O cuidado tucano com os interesses financeiros nos governos petistas não é novo.

Há exatamente um ano, em 31 de agosto de 2011, quando o governo Dilma, ancorado na correta percepção do quadro mundial, cortou a taxa de juro pela primeira vez em seu mandato, então em obscenos 12,5%, o dispositivo midiático-tucano reagiu indignado. A pedra angular da civilização fora removida por mãos imprevidentes e arestosas aos mercados.

O contrafogo midiático rentista perdurou por semanas.

Em 28 de setembro, Fernando Henrique Cardoso deu ordem unida à tropa e sentenciou em declaração ao jornal ‘Valor Econômico’: a decisão do BC fora 'precipitada'.

Era a senha.

Expoentes menores, mas igualmente aplicados na defesa dos mercados autorreguláveis, credo que inspirou Clinton a deixar as coisas por conta das tesourarias espertas, replicaram a percepção tucana do mundo:"não há indícios de que a crise econômica global de 2011 seja tão grave quanto a de 2008", sentenciou, por exemplo o economista de banco Alexandre Schwartzman,indo para o sacrifício em nome da causa.

Nesta 4ª feira, o BC brasileiro completa um ano de cortes sucessivos na Selic com um esperado novo recuo de meio ponto na taxa, trazendo-a para 7,5% (cerca de 2,5% reais).

Ainda é um patamar elevado num cenário de crise sistêmica, quando EUA e países do euro praticam juros negativos e mesmo assim a economia rasteja.

Uma pergunta nunca suficientemente explorada pela mídia, que professa a mesma fé nas virtudes do laissez-faire, quase grita na mesa: 'Onde estaria o Brasil hoje se a condução do país na crise tivesse sido obra dos sábios tucanos?'

As ressalvas feitas por FHC no evento de banqueiros desta 3ª feira deixa a inquietante pista de que seríamos agora um grande Portugal, ou uma gigantesca Espanha - um superlativo depósito de desemprego, ruína fiscal e sepultura de direitos sociais, com bancos e acionistas solidamente abrigados na sala VIP do Estado mínimo para os pobres.

Em tempos de eleições, quando candidatos de bico longo prometem fazer tudo o que nunca fizeram, a fala de FHC enseja oportuna reflexão.
Postado por Saul Leblon às 19:11

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

do blog da Cidadania( EDUGUIM)

A ‘redenção’ de Joaquim Barbosa.



Acabo de ler mais um dos incontáveis textos de “colunistas” do consórcio demo-tucano-midiático paridos após o ministro do STF Ricardo Lewandowski ter inocentado o petista e ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, contrariando o relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, que votou por sua condenação.
Entre outras reflexões, desanima a previsibilidade que vai se comprovando sobre o que diriam esses “colunistas” sobre os votos antagônicos dos dois juízes. A última coluna que li foi de Miriam Leitão, que, como todos os seus congêneres na grande mídia, por óbvio deu razão a Barbosa.
Outra reflexão, que é a que orienta este texto, versou sobre a “redenção” de Barbosa na mídia que a sua posição sobre o mensalão, desde o início alinhada ao que ela quer, está lhe proporcionando agora, após ter sido alvo midiático por tanto tempo.
A maledicência midiática contra Barbosa teve início já em 2003, quando de sua nomeação como ministro do STF pelo então recém-empossado presidente Lula. Os mesmos “colunistas” insinuavam que o juiz chegara aonde chegara simplesmente por ser negro.
Segundo diziam aquelas más línguas, Lula queria um negro – qualquer negro – para a vaga que surgira naquela Corte e Barbosa era o que havia à mão. Como sempre ocorreu quando o ex-presidente deu oportunidades a negros – fosse no ensino superior, fosse na Suprema Corte –, eclodiu todo um discurso midiático sobre “meritocracia”, à qual o escolhido não faria jus.
Nos anos seguintes, as militâncias midiática e governista travariam, sobretudo na internet, um furioso embate sobre Barbosa. Governistas defenderiam a belíssima história de vida de um negro pobre, filho de pedreiro, e a mídia oposicionista diria que sua escolha fora “política”, como se as de todos os juízes do STF não fossem.
Barbosa, porém, fez por merecer o cargo de ministro do STF. Aos 16 anos, saiu de casa. Foi viver em Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do jornal Correio Brasiliense e estudou em colégio público. Chegou à universidade e ao bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde obteve seu mestrado em Direito do Estado.
Barbosa também foi Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki, Finlândia, e depois foi advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) (1979-84).
Prestou concurso público para procurador da República e foi aprovado. Licenciou-se do cargo e foi estudar na França por quatro anos, tendo obtido mestrado e doutorado pela Universidade de Paris em 1990 e 1993.
Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro. Foi professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi visiting scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia em Nova York (1999 a 2000) e na Universidade da Califórnia Los Angeles School of Law (2002 a 2003).
Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês, alemão e espanhol. Toca piano e violino desde os 16 anos de idade.
Ufa! É uma trajetória de tirar o fôlego. Ainda assim, ao ser indicado para o STF – uma corte para a qual as indicações têm menos que ver com o currículo do indicado do que com as conveniências políticas de quem indica –, só o que a mídia enxergou foi “populismo” de Lula, que o teria escolhido “só por ser negro”.
Os anos foram se passando e Barbosa continuou sendo alvo de narizes torcidos da elite midiática, sendo visto por ela como “o juiz negro de Lula”.
Essa situação se agravou em abril de 2009 durante sessão do STF que analisava uma lei paranaense que estendia a aposentadoria do setor público a funcionários de cartórios. Naquela oportunidade, Barbosa se desentendeu com o juiz “da oposição”, Gilmar Mendes.
Diga-se que os dois juízes já vinham se estranhando devido aos habeas corpus “cangurus” que Mendes dera a Daniel Dantas nas horas mortas da madrugada, e devido à perseguição do juiz “tucano” ao juiz Fausto de Sanctis e ao delegado da operação Satiagraha Protógenes Queiroz, condutas de Mendes que Barbosa criticava duramente.
A discussão entre os dois juízes foi duríssima e permaneceu por semanas a fio no noticiário. E, claro, confirmando a previsibilidade de viés que ressurge agora na disputa retórica entre o relator do inquérito do mensalão, o mesmo Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski. Todavia, à diferença de hoje, àquela época a mídia tomou partido do adversário do juiz negro.
Editoriais e colunas dos grandes jornais e os blogs e sites da grande mídia na internet praticamente trucidaram Barbosa. Na imprensa paulista, por exemplo, Folha de São Paulo, Estadão e Veja saíram, furiosamente, em defesa de Gilmar Mendes contra Joaquim Barbosa.
Em 24 de abril de 2009, a Folha publica o editorial “Altercação no STF”. O previsível editorial, já no primeiro parágrafo, demonstrava a que vinha:
O ministro Joaquim Barbosa excedeu-se na áspera discussão travada anteontem com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Não se justificam os argumentos “ad hominem” e a linguagem desabrida empregada por Barbosa em sessão aberta na mais alta corte brasileira (…)”
No mesmo dia, o Estadão, sempre mais passional, partiu para o insulto em editorial sob o título “Falta de compostura”:
“(…) Na sessão de quarta-feira, durante o julgamento de um recurso do governo do Paraná contra decisão do STF, que em 2006 considerou inconstitucional a lei que criou o fundo de previdência do Estado, o ministro Joaquim Barbosa, que dialogava com o presidente da Corte, Gilmar Mendes, perdeu a compostura (…)”
Na coluna de Eliane Cantanhêde, na Folha, tudo no Day After da “altercação” entre Barbosa e Mendes, não foi diferente:
“(…)Era uma discussão técnica qualquer, os dois (Barbosa e Mendes) se desentenderam e Barbosa perdeu a compostura (…)”
No blog de Reinaldo Azevedo, no portal da revista Veja, o pitbull da publicação repisa a questão racial em relação a Joaquim Barbosa:
“(…) Eu tenho verdadeiro horror, asco mesmo, de quem costuma reivindicar o lugar do oprimido (…)”
Os anos foram se passando e Barbosa acabou ficando com a relatoria do inquérito do mensalão. A partir dali, quando foi ficando claro que o fato de ter sido indicado por Lula não estava pesando no viés que assumira em relação ao caso, o discurso midiático contra si foi sendo abrandado, chegando, hoje, a se tornar o novo queridinho da mídia no STF.
Uma coisa é certa: a conduta de Barbosa no âmbito do inquérito do mensalão lhe valeu “redenção” na mídia. De juiz que chegara ao STF pelo único “mérito” de ser negro e de “juiz de Lula”, converteu-se em profundo conhecedor da lei e exemplo de “isenção” – sem, por óbvio, a ressalva de que o mérito de nomear um juiz “isento” é de Lula.
Joaquim Barbosa é um vencedor. Sua trajetória, antes empanada por acusações de cunho racial na mídia, não encontra mais óbices. A postura que adotou no julgamento do mensalão quebrou as resistências que a cor de sua pele sempre lhe gerou entre uma elite que agora o idolatra e defende, ao menos enquanto lhe for útil.

sábado, 25 de agosto de 2012

Blog "Chuta que é macumba"

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21 agosto 2012


Corinthians, modéstia à parte - O caminho do êxtase



Novamente voltamos para o 14º capítulo do livro "Corinthians, modéstia à parte", de Nailson Gondim. O trecho desta postagem destaca a função social do corinthianismo, artigo raro em nossa torcida nos últimos anos. Não me estenderei, porque as palavras de Gondim falam muito melhor - com grifos meus em especial.

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O caminho do êxtase

Futebol é alienação, pois desse caminho não escapa. Na Copa do Mundo, então, o ufanismo nacional mostra como esse esporte é mobilizador, manipulador e, dependendo das possibilidades da Seleção, atração presidencial. Mede-se por aí. Todos sabem disso; todos desconhecem isso. Problema para a sociologia política esclarecer. Agora, corinthianismo não é alienação. É futebol também porque nasceu desse meio, veio para ficar e continuou com sua origem em razão da autenticidade que não perde. Mas, por meio desse esporte, escolheu o caminho da fé, em que andam a vitória e a derrota, o sorriso e a lágrima, o abraço e o soco... A sociologia política não esclarece isso. Não pode. Há misticismo, mitologia e magia por trás do corinthianismo - caminho pelo qual não se reza cartilha, não se cumpre estatuto, não se é doutrinado por catecismo. Possui regulamento, instintivamente, mas nada rígido. A obrigação - todos os seus sabem - é acreditar sempre, não invejar jamais e orgulhar-se do que é. Regra complicada para os leigos que procuram cores, nível social e engajamento em grupos preocupados com individualidades, em vez de união. No corinthianismo, cada um tem conhecimento de sua responsabilidade espiritual com o compromisso concebido. Não há juramento - não se pede - e cada qual é livre em seu direito, sempre reconhecido, de aplaudir e vaiar. Faz de todos fiéis e não reprime quem grita um palavrão, quem bebe uma pinga a mais ou quem leva embora a bola chutada do campo para as arquibancadas. Momento de desabafo e descontração de um trabalhador, de um estudante, de um desempregado. Gente sem cadeira no Legislativo, mas com presença assumida com seu povo nos estádios. "Todos próximos da alienação" - generalizarão. O corinthianismo não pode distanciar-se disso. Tem de estar no meio. E o único caminho aberto para os desamparados, os explorados e os que lutam sem parar contra os desvios de outros caminhos. Concentra em seu seio fortes e fracos, bonitos e feios, ricos e pobres... O corinthianismo não é ciência, religião ou utopia. É um caminho igual a muitos: com pedras, espinhos e barreiras. Mas, com uma diferença: o corinthianismo leva ao êxtase.

Julgamento político . Isso é ruim.( Blog da Cidadânia)


A esta altura, os réus políticos do julgamento do mensalão devem estar soltando foguetes. Tudo por conta do estrondoso voto do ministro-revisor do processo, Ricardo Lewandowski, o qual deixou o ministro-relator, Joaquim Barbosa, em situação tão difícil que se viu obrigado a pedir espaço para tréplica.
Os réus políticos desse inquérito, como se sabe, são o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu.
A condenação desses quatro réus é vital para que prevaleça a teoria de que o governo Lula institucionalizou um esquema de compra de votos de parlamentares para apoiá-lo em votações na Câmara – até hoje não há explicação sobre por que o esquema teria sido engendrado só para uma das Casas do Congresso, tendo o Senado ficado de fora.
A absolvição parcial de Cunha põe em xeque a teoria de esquema criminoso engendrado pelo governo Lula. A divergência em relação à aceitação de grande parte das teses da Procuradoria Geral da República pelo relator foi tão contundente que fez Barbosa pedir “réplica”, deixando ver que seu relatório não fala por si mesmo.
Como se diz, toda explicação que precisa de explicações adicionais não é boa.
Mais do que isso, a parcela do público que se acostumou a ler ou a ouvir análises da mídia sobre o mensalão que deixavam poucas dúvidas de que teria sido “o maior escândalo de corrupção da história” e de que haveria provas robustas de corrupção institucionalizada no governo Lula, já começa a refletir sobre a politização do julgamento.
Não há dúvida de que o que se viu na última quinta-feira no plenário do STF foi um embate político. A divergência de Lewandowski mostra que as acusações estão longe de ser inquestionáveis. As pessoas começam a entender que carregam boa dose de subjetividade.
A peça de acusação do procurador-geral da República buscou demonstrar um caso aparentemente simples de ser julgado por ser dotado de provas robustas. Quem mergulhou na argumentação de Lewandowski certamente se surpreendeu, pois revelou que não é tudo tão simples.
As pessoas dotadas de um mínimo poder de análise dos fatos já percebem a fragilidade, ao menos, do discurso que colocou no mesmo balaio todos os 38 indiciados no inquérito, pois vai ficando claro que deve haver inocentes e culpados sendo julgados.
Mais: os embates políticos entre juízes, as picuinhas, tudo isso contribui para a tese de que há interesses ocultos ou de condenar ou de absolver, e de que isso ocorre por razões que não se coadunam com o Direito.
Para os que transformaram um juízo que deveria ser sóbrio e técnico em um espetáculo, em um verdadeiro circo ou em uma novela, tudo o que não poderia ocorrer é o que está ocorrendo. Sem uma condenação rápida e indubitável de todos, sem a sobriedade dos juízes que se espera em um caso assim, fica difícil ignorar que há algo mais por trás disso tudo.
Para ajudar a extirpar o caráter técnico do julgamento, surgem ataques na mídia a Lewandowki por ter absolvido Cunha. Isso logo após ela ter demonstrado agrado pela parte do trabalho desse ministro que concordou com o relator do processo.
Então ficamos assim: juiz que concorda com as teses políticas da mídia sobre o mensalão, é bom; juiz que discorda, é ruim. Evidentemente que a antítese dessa premissa acaba se viabilizando, ou seja, juiz que concorda é ruim e juiz que discorda, é bom.
Ao dividir o STF entre juízes honestos e juízes tendenciosos, a mídia põe a Corte sob suspeita e cria ambiente para que qualquer resultado sobre os réus políticos, ao menos, torne-se questionável. Para quem sonhou com uma condenação inquestionável do governo Lula, esse é o pior cenário.

Brigada Miguel Bataglia:origem da porcada

Esclarecendo: Razões históricas do ódio palestrino

Cabe uma revisita ao tema que frequentemente é debatido sem a devida informação histórica. Seria o Palmeiras o resultado de uma dissidência direta do Corinthians?

A resposta é “não”. No entanto, trata-se de um “não” complexo. No ambiente político da segunda década do Século 20, os dois clubes expressam diferentes concepções filosóficas nascidas na mesma colônia.

Ao contrário do que se possa imaginar, a Itália nunca teve coesão. Já na Roma antiga, havia forte inimizade entre “optimates” e “populares”. São estes primeiros, da elite conservadora, que combatem Julio Cesar, especialmente por seu empenho em conceder direitos às massas.

No ambiente político da segunda metade do Século 19, a Itália é um país profundamente dividido e confuso. A rigor, a Itália unificada moderna surge somente em 1861, quando Vittório Emanuelle II de Savoia converteu-se em soberano.

É época de furioso debate político. No cenário do Risorgimento, o pensamento político do carbonário Giuseppe Mazzini não é marxista, mas é republicano e, em teoria, progressista. O país unificado, ao contrário, ganha um soberano, da Casa de Savoia.

A Itália cultiva ódios seculares. Em 1868, por exemplo, um jovem de 14 anos protesta contra a injustiça social numa carta raivosa enviada ao rei. Pela “insolência”, acaba preso. Seu nome é Errico Malatesta.

Esse revolucionário precoce adere ao anarquismo já em 1871. É um dos mais dedicados militantes da causa. Nos anos seguintes, trata de disseminá-la também entre os italianos que emigravam para as Américas.

Cabe dizer que no fim do Século 19 havia desemprego e fome na Itália. Durante décadas, muita gente foi simplesmente “exportada” como mão de obra barata. O objetivo do governo era aliviar-se do excedente populacional.

A contratação desses trabalhadores atendia aos interesses do capitalismo nascente nas Américas. No Brasil, o povo da bota substituía os negros nas senzalas, em situações análogas, trabalhando duramente para os barões do café.

Os militantes ítalo-anarquistas foram os primeiros a protestar contra o sistema de exploração do trabalho imigrante. Na aurora do Século 20, a colônia é fortemente influenciada pelos escritos de Oreste Ristori e Gigi Damiani, que escreveram em jornais como o La Battaglia e se dedicaram à criação de escolas libertárias.

Na capital paulista, o movimento anarquista influencia fortemente os trabalhadores da indústria nascente, de modo especial em bairros como Lapa, Bom Retiro, Brás e Belém.

Cabe lembrar que parte dos imigrantes da “bota” já era, desde a década de 1890, influenciada por ideias conservadoras e nacionalistas dos “fasci”, grupos de doutrinação política que atuavam em várias cidades italianas.

Nas primeiras décadas do século passado, o pensamento de extrema-direita, autoritário e violento, amadurece numa Itália empobrecida e dividida. Vale destacar que o fascismo adquire solidez doutrinária já em 1919, por meio dos escritos e da ação de propaganda de Benito Mussolini.

Essa corrente tem, entre outras características, uma ideia de suprematismo. São italianos saudosos da glória romana, quase sempre praticantes da xenofobia, mesmo quando vivem em outros países.

O Sport Club Corinthians Paulista nasce fortemente influenciado pelas ideias anarco-humanistas. A rigor, muitos intelectos anarquistas viam o futebol como elemento de alienação. No entanto, incentivavam qualquer ação que gerasse protagonismo das massas trabalhadores, mesmo na área do esporte.

Afirma-se que Michelle (Miguel) Bataglia, nosso primeiro presidente, teria aprendido sobre a doutrina anarquista no período em que trabalhou na empresa de energia Light, nos primeiros anos do Século 20.

Bataglia pronunciou a frase que nos define: “o Corinthians vai ser o time do povo, e é o povo que vai fazer o time”. Trata-se de “ação direta”, princípio libertário segundo o qual o cidadão deve atuar de forma prática para aprimorar a sociedade. Essa é a busca de protagonismo defendida pelos ítalo-anarquistas.

Nesse segmento da comunidade ítalo-brasileira via-se já presente o apreço pela diversidade, pela miscigenação e pela universalização de direitos.

O projeto de fundação já exibe essa característica. Não importa a raça e o credo do associado. O objetivo é criar uma experiência transdisciplinar (os fundadores já falavam em bibliotecas) de inclusão e compartilhamento de experiências.

O Palestra Itália surge em 1914, supostamente orgulhoso da performance do Pró-Vercelli e Torino, agremiações que excursionaram pelo Brasil. O objetivo claro é criar um grande clube que congregue e represente a colônia italiana da cidade.

Entre os fundadores, destacam-se funcionários da Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. A primeira camisa do time tem como símbolo a cruz de Savoia, em homenagem à monarquia italiana.

Com o tempo, a influência dos diretores do conglomerado Matarazzo faz com que o clube atraia ítalo-brasileiros associados a outros clubes.

Cabe lembrar que, em 1920, a aquisição do campo de futebol e do terreno do Parque Antarctica somente é possível por meio de pesado investimento da própria Companhia Matarazzo.

As diferenças estão, portanto, expostas. O Corinthians é um clube de trabalhadores diversos, não somente operários, com forte influência do movimento anarquista e do pensamento de esquerda. É, por natureza, simpático à miscigenação cultural.

O Palestra Itália congrega operários e também figuras proeminentes da comunidade, especialmente no segmento industrial. Há um viés conservador, especialmente no grupo dirigente. A proposta é preservar identidades e estabelecer uma genuína representação da comunidade italiana.

O primeiro gol do Corinthians foi marcado por Luigi Salvatore Fabbi, italiano de Parma, no campo do Bom Retiro, em partida contra o Estrela Polar, em Setembro de 1910. Em 1914, Fabbi transferiu-se para o Palestra Itália.

O primeiro gol do Palestra Itália foi anotado em 1915, por Bianco Spartaco Gambini, em jogo contra o Savoia. O jogador atuaria pelo clube por 17 anos. Cabe lembrar que Bianco jogou pelo Corinthians em 1914. Foi campeão paulista. Como capitão, foi o primeiro atleta a levantar a taça pelo alvinegro.

Ao lado de Neco, Amilcar foi o grande destaque do Corinthians em seus primeiros anos, pelo qual jogou de 1913 a 1923. Depois, também transferiu-se para o rival, no qual fez 100 jogos, entre 1924 e 1930.

Parte desse processo de migração se explica pelo golpe de 1915, quando o Corinthians se desligou da Liga Paulista de Futebol para se filiar à Associação Paulista de Esportes Atléticos. A liga da elite, entretanto, não inscreveu o clube dos operários e o deixou de fora do torneio.

Neste ano, portanto, o Corinthians ficou de fora dos dois torneios paulistas, o que explica o reforço concedido ao Palestra. Cabe salientar que, na época, era comum que um mesmo jogador defendesse duas ou mais equipes. Era o caso dos atletas do Botafogo, que compunham a base do primeiro esquadrão corinthiano.

No caso de Bianco, acredita-se que a transferência tenha origem no interesse da família Gambini em participar de um clube exclusivo da colônia. A questão de Amílcar está ligada, afirma-se, a problemas da família Barbuy com a direção corinthiana da época.

De fato, portanto, não há qualquer desmembramento no Corinthians que valide a teoria de que uma dissidência direta criou o principal rival. Nos primeiros 20 anos de Corinthians, a presidência foi ocupada várias vezes por ítalo-brasileiros, como Bataglia, Magnani, Giacominelli, Cassano, Tipaldi e Collona.

É certo, porém, que já ao final da segunda década do Século 20 gerou-se um clima de antagonismo entre os dois clubes, alimentado também por visões de mundo divergentes.

Se muitos corinthianos participaram da greve anarquista de 1917 (vide eventos do jogo contra o Ypiranga, em 22 de Julho daquele ano), há evidências de que o Palestra seguiu rumo contrário, especialmente por contar com o apoio financeiro das indústrias Matarazzo.

Com o advento do fascismo, as diferenças de pensamento se tornaram mais claras. Para muitos, Mussolini era a Itália, e a Itália no Brasil era representada pelo Palestra.

Embora não exista registro de baixas oficiais entre os associados alvinegros, não há dúvida de que algumas famílias, originalmente simpáticas ao Corinthians, acabaram aderindo à proposta do exclusivismo itálico.

Com o passar do tempo, mantiveram-se as divergências de pensamento, enquanto crescia a rivalidade nos gramados. Este, entretanto, tem por objetivo lançar luzes apenas sobre os primórdios dessa disputa que vai muito além do futebol. O resto rende um livro inteiro.

sábado, 18 de agosto de 2012

Interessante...........

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17/08/2012

América do Sul: a hora de um novo ciclo


A incerteza mundial trouxe novas condicionalidades à agenda do desenvolvimento na América do Sul. Vive-se uma corrida contra o tempo. A crise legitimou o descolamento progressista anterior em relação ao torniquete dos mercados desregulados. Mas a travessia inconclusa enfrenta agora o icebergue das dificuldades trazidas pela implosão da ordem neoliberal. A volatilidade financeira e a retração do comércio externo cobram um novo pacto político de crescimento. Investimentos são requeridos para integrar infraestruturas e associar cadeias produtivas.

Está em jogo o gigantesco impulso industrializante representado pelo mercado de massa regional, cobiçado pelo mundo rico em crise. Com a adesão da Venezuela, o Mercosul passa a ser a quinta economia mundial; reúne uma população de 270 milhões de habitantes (70% da América do Sul); um PIB de US$ 3 trilhões (mais de 80% do PIB sul-americano). Até que ponto os países dispõem de coesão política e estrutura estatal para ordenar essa travessia sob a ótica do interesse público? O Brasil está apto a ser o guarda-chuva aglutinador do processo? A quem cabe a iniciativa do novo ciclo?

Na Argentina, a direita acusa Cristina Kirchner de rumar para um capitalismo de Estado que pretende determinar o que as empresas devem produzir, em que quantidade, a que preço e com que taxa de lucro. No Brasil, setores da esquerda criticam Dilma Rousseff por uma suposta guinada privatista: o pacote de infraestrutura anunciado esta semana, US$ 65 bi de obras em concessões ao setor privado, prescreve extamente onde investir, quanto, a que prazo e com que taxa de retorno (leia mais aqui) .

Tensões internas e geopolíticas vão se acirrar nas escolhas estratégicas colocadas na mesa dos governantes e das instâncias regionais de agora em diante. O relógio da crise não admite hesitações: é hora de um novo ciclo na história regional.

Blog da Cidadania, é ler para entender.

Blog da Cidadania por Eduardo Guimarães

Privatização é igual a concessão? Qual é a verdade?

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Nos últimos dias, com a divulgação do governo federal de um pacote de investimentos multibilionário que o país fará em infraestrutura – setor que padece há décadas a fio com profunda falta de investimentos –, uma discussão lateral tomou o debate público: o governo petista está ou não está fazendo o que o PT criticou em governos anteriores?
A última campanha eleitoral à Presidência da República (2010) envolveu longa e dura discussão do tema no âmbito dos ataques de parte a parte que se estabeleceram entre os então candidatos Dilma Rousseff e José Serra.
Pelo lado do PT, os ataques consistiram em carimbar na testa de Serra que quando o PSDB governa vende patrimônio público a preço vil e sem contrapartida de mecanismos de proteção ao consumidor. Seria a tal “privataria tucana”.
Eis, aí, a razão de as primeiras páginas dos maiores jornais do país terem amanhecido o dia posterior ao anúncio do “mega PAC” em infraestrutura com manchetes afirmando que Dilma “privatizou”. Foi, por óbvio, um recado claro da imprensa à sociedade: “O PT mentiu na campanha eleitoral de 2010, pois quando governa é tão privatizante quanto o PSDB”.
Há, ainda, outro recado contido na campanha de denunciação subliminar – mas nem tanto – que a imprensa vem fazendo de uma suposta incompatibilidade entre o discurso de campanha do PT e a sua prática ao governar: denuncia-se a privatização porque, como ficou claro naquela última campanha eleitoral, o povo a desaprova.
A acusação da imprensa e da oposição ao PT é tão séria quanto a desse partido aos que o acusam. Do lado oposicionista-midiático, enquanto se tenta acusar o PT de incoerência, recorre-se à rejeição popular contra as privatizações. Do lado do governo petista, acusa seus acusadores de mentirem ao dizerem que privatizar é o mesmo que dar concessão.
Para o espectador isento, aquele que não tem razões político-partidárias e ideológicas e que quer políticas de Estado que atendam ao interesse público, o que se quer saber, no fim das contas, é se as razões que o levam a rejeitar as privatizações do PSDB continuarão presentes nas concessões petistas.
Em primeiro lugar, há a questão do patrimônio público. Ao menos um fato o mínimo de honestidade impõe que os adeptos da tese de que privatização é concessão reconheçam: os contratos de concessão de estradas, por exemplo, prevêem que voltarão ao controle do Estado. Não foram vendidas como a telefonia, que jamais voltará a ser pública.
Nos dois casos, porém, as empresas privatizadas ou cedidas em concessão por prazo determinado estão sob regulação do Estado. E é nesse ponto que as concessões podem reproduzir o que aconteceu com as privatizações da era tucana.
Para facilitar a análise, fiquemos nos mesmos exemplos: estradas e telefonia.
Na telefonia, em razão dos contratos fechados pelo governo Fernando Henrique Cardoso, a do Brasil é a mais cara do mundo e os serviços, não. Pode-se reconhecer, porém, que há instrumentos para ao menos exigir dos “donos” da telefonia brasileira que invistam e primem pela qualidade dos serviços e essa é tarefa deste governo, não do anterior.
Recentemente, porém, viu-se o governo agir para obrigar aqueles que compraram a telefonia nacional a, pelo menos, prestarem melhores serviços.
Restam os preços. No Brasil, continuam absurdos. As cláusulas de reajuste e de reservas de mercado firmados na era tucana impedem a queda de preços, mas faltam ações do atual governo – e do anterior, também petista – no sentido de mudar ou repactuar as condições com os que exploram a telefonia no país.
Se isso ocorrer com as concessões de estradas, sempre ficando em um só exemplo do que está sendo “alugado” – e não vendido – à iniciativa privada, ai sim haverá elementos para dizer que, tanto no formato petista de entrega de gestão de serviços à iniciativa privada quanto no formato tucano, no fim é tudo a mesma coisa.
Todavia, agora é cedo para julgar. Ainda não se sabe o que acontecerá, o que faz dessas previsões que se está vendo, a mais legítima empulhação político-partidária por parte da imprensa.
Na opinião deste blog, porém, quem tem que defender a tese de que concessão não é privatização e mostrar que a gestão petista não é omissa na regulação e fiscalização dos serviços como era a gestão tucana, é o governo Dilma.
Se o governo federal e o próprio PT não vierem a público destacar as diferenças reiteradamente – assim como é reiterada a acusação de que o que houve foram privatizações –, aí fica difícil. As pessoas serão enganadas.
Agora, um fato é inquestionável: concessão não é privatização. Vender essa idéia é tentar enganar as pessoas. E se Dilma quiser pode fazer picadinho dessa tese. Ela tem espaço, voz e argumentos para tanto. Só precisa ter vontade de esclarecer o público.
Privatizar é vender e conceder é alugar. Estradas sob concessão voltarão a integrar o patrimônio público, mas a telefonia, que foi vendida, nunca mais. Ou então que os defensores da teoria de que é tudo a mesma coisa digam quando é que a Vale, por exemplo, voltará a ser estatal como as estradas irão voltar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Rafael Castilho/A farsa continua

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Jogos de Londres escancaram farsa da democracia liberal




Enquanto rolam os Jogos Olímpicos, a Síria está dividida em uma guerra civil sem prazo para terminar.

Em nome da democracia, os países ocidentais não disfarçam seu apoio às tropas rebeldes que avançam contra o exército de Assad.

Estes rebeldes Sírios recebem dinheiro e armas para combater o regime autoritário daquele país. São os “rebeldes do bem”.  Assim como os “terroristas do bem” que executaram em praça pública o Kadaffi, presidente da Líbia. Todos tratados como heróis.

A “exportação” da democracia liberal tornou-se nas últimas décadas uma cruzada do “Eixo do bem” contra o “Eixo do Mal”, segundo caracterização do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush.

Em nome desta democracia, tão cara à burguesia, foram realizadas guerras e bombardeios que custaram a vida de milhares de pessoas, além de bilhões de dólares nas contas da indústria bélica estadunidense.

O resultado mais visível destas guerras é o colapso na economia dos Estados Unidos com efeitos em dominó nas bolsas dos países do “centro”, derretendo o neoliberalismo.

Milhões de desempregados e endividados têm saído às ruas dos países ricos, protestando por transformações em seus modelos econômicos.

Porém, seja em Wall Street, seja em Madri, em Londres, ou mesmo em Paris, a reação destes governos é sempre a mesma: prisão dos manifestantes e paulada para dispersar a multidão.

Em Londres, alguns jovens continuam presos somente por convocar as manifestações por meio das redes sociais.

Os rebeldes sírios ou líbios são brindados como heróis e recebem armas e dólares para derrubar seus governos e defender a “democracia”.

Já os manifestantes dos países ocidentais são tratados como bandidos terroristas e colocados na cadeia.

Voltando aos Jogos Olímpicos, tomamos conhecimento que foi proibido nos locais de competição, como estádios e ginásio, o uso de camisetas que contenham conotação política.

A ordem é impedir a entrada de torcedores exponham seus pensamentos políticos, ou mesmo os que inadvertidamente estejam vestindo camisetas “políticas”, com especial atenção às camisetas com a face do Che Guevara.

Atletas também foram advertidos da proibição de quaisquer formas de manifestação ideológica.

Alguém poderia explicar do que se trata esta abstração que é a democracia liberal burguesa?

Por que será que somente os governos “não alinhados” com o “eixo do bem” são tratados como autoritários?

Irã, Cuba, Venezuela, Bolívia e Argentina são exemplos de países tratados como ditaduras, ou governos totalitários, embora quase todos estes tenham eleições regulares.

Será que esta liberdade de expressão, pensamento e organização política é mesmo respeitada nos países “desenvolvidos”?

Ou esta democracia liberal burguesa, pela qual milhares de jovens vêm morrendo em cruzadas estúpidas, é só mais uma farsa cada vez mais escancarada aos olhos e bolsos nus da comunidade internacional?

sábado, 4 de agosto de 2012


A ofensiva neoconservadora e a Venezuela no Mercosul

A adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul consolida no coração da América Latina uma referência de recorte progressista sem precedentes na região
por Márcia Denser

Na contraofensiva do conservadorismo abjeto que tem dado ultimamente seu show de horror ao próximo perante o mundo inteiro (vide o deputado conservador britânico que classificou a abertura dos Jogos Olímpicos como uma “cerimônia esquerdista e lixo multicultural”. Com uma Inglaterra orgulhosa do que viu na abertura, o primeiro-ministro David Cameron procurou se afastar de seu colega conservador. No plano político, bandeiras de Taiwan e da Coréia do Sul provocaram conflitos diplomáticos. A Olimpíada de 2012 e seus conflitos de bandeiras provaram mais uma vez, parafraseando Von Clausewitz, que o esporte é, como a guerra, a “política por outros meios”), a cúpula do Mercosul dá boas vindas à Venezuela de Hugo Chávez.

No exercício da presidência do Mercosul até dezembro deste ano, o Brasil coordenou a cúpula extraordinária do bloco nesta terça-feira (31), celebrando a entrada de seu quinto membro, a Venezuela. “Estamos conscientes de que o Mercosul inicia uma nova etapa”, disse Dilma Rousseff, que considerou o significado histórico da entrada venezuelana por marcar a primeira ampliação do bloco desde a sua criação em 1991, estendendo-o da Patagônia até o Caribe, além de incrementar sua economia: “Considerando os quatro países mais ricos do mundo, EUA, China, Alemanha e Japão, o Mercosul somado é a 5° força”, destacou Dilma.

A propósito, nos chamou a atenção um editorial da agência Carta Maior, assinado por Saul Leblon. Com o título sugestivo “Enfrentamentos reais e miragens conservadoras”, ele observa que a adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul consolida no coração da América Latina uma referência de recorte progressista sem precedentes na região, em razão da abrangência institucional e o fôlego econômico intrínseco ao bloco agora liderado por Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Pepe Mujica e Chávez.

Leblon comenta que se a Cuba dos anos 60 exerceu um magnetismo ideológico superior ao desse quarteto, seu ardor não se traduziu numa organização duradoura com o alcance que o Mercosul possui e deve ampliar graças à incorporação do detentor da maior reserva de petróleo cru do mundo (a Venezuela tem 296,5 bilhões de barris, seguida da Arábia Saudita, com 264,5 bilhões de barris).

Trata-se de mais um confronto no qual os interesses conservadores, refletidos no bombardeio midiático contrário a essa inclusão, foram habilmente vencidos. Não é um revés em torno de uma questão bizantina menor. Os que hoje, como há uma década, protestam contra a presença venezuelana, são os mesmos que, paralelamente, defenderam a ALCA como alternativa a uma inserção global do continente assumidamente subordinada e dependente aos EUA. Felizmente, foram derrotados.

Há pouco, no golpe contra Lugo, enfatizado com a suspensão dos golpistas no âmbito do Mercosul, o jornal ‘Estadão’ destilou a nostalgia da velha agenda. Em editorial, aconselhou a direita paraguaia a responder à punição jogando-se nos braços dos EUA, de modo a consumar, pelo menos, mais uma mini-Alca regional, na expressão do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.

E conclui Leblon, em seu melhor estilo barroco-belicoso: “A opção de desenvolvimento regional integrado e soberano, reafirmada pela Cúpula de Brasília do Mercosul, insere-se assim numa espiral de enfrentamentos em que o guarda-chuva maior do conservadorismo verga sob o peso da dissolução da ordem neoliberal. É nessa esquina de derrotas históricas apreciáveis que a seção brasileira perfila armas e concentra tropas para fazer do julgamento do chamado mensalão uma espécie de 3º turno simbólico de sua anemia política”.

O fato é que o conservadorismo aferra-se a batalhas do passado na esperança de apagar do imaginário social a percepção de que seus interesses e credo são parte de um mundo que irá ruir muito em breve no futuro. Estrondosamente.

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Curso de Extensão Universitária em MEDICINA HIPERBÁRICA

domingo, 5 de agosto de 2012

A que ponto se chega.............................

Ruy Castro - Prazeres da "melhor idade"



RIO DE JANEIRO - A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" -algo entre os 60 anos e a morte.

Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.

Privilégios da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da "melhor idade", estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.

Outra característica da "melhor idade" é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar.

Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi, eufórico: "Que nada! Estou voltando da farmácia!". E esta, de fato, é uma grande vantagem da "melhor idade": você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.