segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Por que a Folha só ouviu o ‘guru do STF’ agora? by Paulo Nogueira

by Paulo Nogueira
Ele teve que vir ao Brasil para ser ouvido
Ele teve que vir ao Brasil para ser ouvido
Outro dia perguntei se os brasileiros iam esperar que Genoino morresse para se mexer.
Foi a mesma sensação que tive agora, e não só agora, para dizer ao verdade, ao ver a entrevista que a Folha deu com o jurista português José Joaquim Gomes Canotilho. O jornal o declara “guru” dos juízes do Supremo, tantas vezes Canotilho foi citado, em julgamentos diversos, por eles.
Canotilho criticou basicamente todo o processo do Mensalão: a ausência de um segundo fórum de julgamento, a onipresença de Joaquim Barbosa em todas as etapas do caso e os poderes extraordinários do Supremo, não encontrados, segundo ele, em nenhuma corte europeia.
A reação imediata banal que vem é: que processo cheio de falhas, deus do céu.
Mas a pergunta mais útil é: por que aquele tipo de colocação – que joga luz nas sombras, uma das atividades mais nobres do jornalismo – não veio na hora certa, em meio ao julgamento?
Injustiças poderiam ser evitadas. Absurdos poderiam ser corrigidos.
No caso da Folha, especificamente: por que ela não ouviu Canotilho antes?
E aí chegamos ao lastimável papel da mídia brasileira no julgamento.
A Folha não ouviu no momento devido o “guru” dos ministros por duas razões.
Primeiro, porque ele não estava no Brasil, e a mídia brasileira sofre de um provincianismo pavoroso.
Canotilho teve que vir ao Brasil – está lançando um livro – para que a Folha o ouvisse sobre um tema de extraordinária importância.
Segundo, porque não convinha colocar no debate uma voz dissonante – nem à Folha e muito menos às coirmãs Veja e Globo.
Tente, agora que Canotilho virou notícia no Brasil, encontrar alguma coisa dele na Veja, por exemplo.
O mesmo sentimento de atraso já me assaltara quando vi o jurista Ives Gandra Martins dizer que Dirceu estava sendo condenado sem provas.
Ora, por que ele não disse aquilo antes que a sentença fosse proferida?
Bandeira de Mello, outro jurista consagrado, também ganhou um destaque tardio quando sugeriu, dias atrás, que o PT processasse Joaquim Barbosa, a quem chamou de mau.
Depoimentos como o de Canotilho, Gandra e Bandeira de Mello teriam ajudado os brasileiros a entender melhor o julgamento do Mensalão e a evitar excessos que são a injustiça mascarada de justiça.
Por que só agora depoimentos tão relevantes vieram para o debate? Como réus que possam ter sido condenados iniquamente vão ser indenizados, caso – como suspeito – fiquem clarom, com o correr dos dias, os erros do Supremo?
A posteridade há de colocar Joaquim Barbosa no devido lugar. Aliás, espero que o julgamento de Barbosa perante os brasileiros não seja feito apenas pelos pósteros – mas pelo presente.
Mas o banco dos réus, nesse episódio todo, não será ocupado apenas por JB e quase todos colegas de STF.
Também a mídia – notadamente a Veja e a Globo – estará sentada no mesmo banco.
Paulo Nogueira | Novembro 24, 2013 às 7:31 pm | URL: http://wp.me/p32SsY-fLY

domingo, 24 de novembro de 2013

Senna e eu (Harold Von Kursk)


Postado em 23 nov 2013

Para mim, é difícil escrever sobre Ayrton Senna. Ele era o meu herói. Ele era o meu deus. Eu vivia ou morria com cada corrida sua. Sua morte em maio de 1994, em Ímola, foi um choque e me deixou devastado por algum tempo. Eu era repórter de F-1 e tive de me afastar porque não pude assistir as provas por um ano.
Estive com ele algumas vezes em minha carreira. Havia essa magnífica aura de calma controlada que ele irradiava. Mas era a pureza de sua visão de corrida e de comando que garantiu seu lugar na história.
Senna tem sido aclamado como o maior piloto que já viveu. Embora existam alguns que prefiram Michael Schumacher ou mesmo o pueril Sebastien Vettel, a verdade é que ninguém se compara a Senna. Qualquer um que tenha visto imagens do Grande Prêmio de Mônaco, em 1988, sabe do que estou falando.
Foi uma prova que ele perdeu. Mas atingiu um nível diferente de consciência enquanto acabava com todos os outros concorrentes no circuito de rua.
“Eu já estava na pole e ia mais e mais rápido”, disse ele. “Uma volta após a outra, eu me superava. E de repente percebi que não estava mais dirigindo o carro de forma consciente. Eu seguia meu instinto, numa dimensão diferente. Estava muito acima do meu limite”.
Na volta 66, na Curva Portier, à entrada do túnel, Senna bateu. Tirou o capacete e foi para casa, que ficava a 200 metros dali. Só duas horas mais tarde é que deu sinal de vida a Ron Dennis, chefe da escuderia.
Eu era um jovem repórter do Montreal Daily News quando fui pela primeira vez ao Brasil e encontrei Senna no Rio em 1988, quando a corrida ainda era na pista de Jacarepaguá.
Entramos na tenda de um dos patrocinadores e começamos a falar  da corrida do dia seguinte e as suas impressões. Fiquei imediatamente impressionado com a graça extraordinária do homem. Eu não me lembro de todos os detalhes da nossa conversa, mas ele não estava particularmente feliz com o set-up do carro. Recordo-me do sorriso tímido que veio com o fim do nosso breve encontro enquanto estávamos apertando as mãos.
Eu o vi no México, mais tarde, onde rodou na volta 67 quando estava com 54 segundos de vantagem sobre o segundo colocado.
Foi surpreendente e um tanto embaraçoso para o melhor piloto do mundo. Em vez de uma vitória fácil, ele saiu de sua surrada McLaren espantado e zangado com o que admitiu ser um “lapso de concentração”.
“Por que Senna continua empurrando o carro até o limite quando poderia abrandar o ritmo e cravar sua segunda vitória consecutiva na temporada?”, perguntei ao engenheiro-chefe.
“A resposta está no excesso de orgulho e auto-confiança”, respondeu ele. “E no fato de ele ser simplesmente bom demais”.
Um gênio pode não respeitar as regras comuns de comportamento. No caso de um piloto, ele não consegue ir mais devagar só porque está tão à frente dos demais. Senna foi um corredor puro, um homem comprometido com a ampliação de seus limites (Gilles Villeneuve, Nigel Mansell, Jochen Rindt e Jim Clark também fazem parte dessa lista).
Ao avaliar os maiores de todos os tempos, a discussão mais freqüente é geralmente aquela que envolve compará-lo a Schumacher. Ambos foram brilhantes. A de Senna foi brutalmente interrompida, enquanto a do alemão se beneficiou indiscutivelmente da melhor equipe da história, a Ferrari de Ross Brawn e Jean Todt (Vettel e a equipe atual da Red Bull se classificariam em segundo).
Eis o que Bernie Ecclestone me disse sobre qual dos dois seria o número 1:
“Isso é muito, muito difícil de dizer. Obviamente, eles estavam em carros diferentes e em diferentes épocas. Mas se eles estivessem no mesmo carro, Ayrton teria ficado na frente. Minha aposta teria sido em Ayrton Senna. Ele era um piloto puro. Ele era destemido. Ele acreditava em si mesmo. Ele era um piloto completo que não conhecia fraqueza. E era um bom homem”.
“Quem ganharia uma prova de classificação com carros iguais?”, perguntei. “Senna!”, ele me disse.
– OK. Senna vs Schumacher. Uma volta. Carros idênticos. Quem ganha?
– Senna!
– Senna vs Schumacher. 60 voltas. Carros idênticos. Quem ganha?
– Senna! (Um grande sorriso se desenha no rosto de Ecclestone)
Esses comentários foram feitos há uma década e, apesar de Bernie ter sugerido nas últimas semanas que acha que Vettel pode ser o maior piloto da história, isso é muito mais uma declaração provocativa promocional do que sua opinião genuína. Ecclestone sabe que não há ninguém que se possa comparar a Ayrton Senna.
Senna era um artista, bem como um competidor ferrenho. Ele pode estar morto, mas a memória de seu perfeccionismo e seu brilho superam patos mecânicos como Vettel e Schumacher. Era uma força da natureza, um exterminador, um monstro.  Ele corria até o infinito ao invés de até a linha de chegada. Ele desafiou os princípios de engenharia e ignorou barreiras psicológicas.
Ayrton foi o cometa que abriu caminho em nossa Via Láctea. Era tão bonito vê-lo correr. Se há algo de que me arrependo na carreira foi de não ter lhe dito, numa das inúmeras vezes em que o vi a caminho dos boxes, a palavra em português que ele me ensinou: obrigado.
Sobre o Autor
Alemão, naturalizado canadense, Harold tem 52 anos e é, além de jornalista, diretor de cinema. Em mais de 20 anos, entrevistou atores e cineastas para a mídia americana e europeia. Com todas teve grandes conversas. Exceto por Scarlett Johansson. "Ela é uma linda diva mimada", diz.

Como o PSDB se tornou a nova UDN


Postado em 23 nov 2013
Minilacerdas
Minilacerdas
E o PSDB virou, no ocaso de seus líderes históricos, a versão pós-moderna da UDN.
A UDN, em sua inglória, desprezível, abjeta existência, funcionou assim: perseguiu o poder e, na falta de votos, fez horrores. Esteve por trás de dois golpes contra presidentes populares: Getúlio Vargas e João Goulart.
A UDN, como o PSDB hoje, representava o interesse do chamado 1%. Era a direita, em suma. Não a direita civilizada que você tem em países adiantados como a França e a Inglaterra, para não falar da Escandinávia, mas a direita predadora típica da América do Sul.
Como o PSDB, a UDN tinha a mídia na mão: Roberto Marinho, os Mesquitas e outros varões de Plutarco, aspas e pausa para rir.
Uma única vez a UDN chegou ao poder pelos votos. Foi em 1961, quando trouxe para seu lado, numa aliança de ocasião, um demagogo histriônico chamado Jânio Quadros.
Mas Jânio logo se cansou da tutela da UDN, e fez coisas que a desagradaram profundamente, como condecorar Che Guevara.
Lacerda, o Corvo, começou a atormentar Jânio, e este depois de sete meses renunciou. Terminava assim a breve estada da UDN no poder, pelas mãos de Jânio.
O sucessor de Jânio, João Goulart, o Jango, foi triturado pela UDN, que batera às portas dos quarteis para chamar os militares e recorrera à CIA para garantir o sucesso do golpe que planejava.
Os crimes de Jango: quando ministro do Trabalho de Getúlio, ele fez com que os empresários recorressem não à polícia para tratar de questões trabalhistas, mas que negociassem com os sindicatos.
Presidente, criou o 13.o salário, que o Globo, em manchete, disse que era uma calamidade nacional.
O golpe militar tramado pela UDN deu errado para ela. Os militares gostaram do poder. Lacerda acabaria cassado, e pateticamente foi atrás de Jango para uma aliança contra os generais que não lhe deram a presidência na bandeja, como ele queria.
A UDN foi dissolvida pelos militares, e repousa hoje na lata de lixo.
Meio século depois, o PSDB acabou por fazer as vezes dela.
O PSDB não tem ninguém com a oratória brilhante – embora nefasta – de Lacerda. Tem apenas minilacerdas, o maior dos quais é Serra e o mais velho, FHC.
Como a UDN, o PSDB também não tem ninguém capaz de ganhar uma eleição presidencial. A saída é procurar algum novo Jânio.
Mas quem?
O nome mais óbvio é Joaquim Barbosa. Só que Joaquim Barbosa não é Jânio. Ou melhor: é Jânio em parte. Tem os defeitos de Jânio, como a megalomania e o apego fanático aos holofotes, mas não as virtudes políticas de Jânio.
Jânio falava a linguagem do povo, se vestia como o homem simples da rua, e cuidava até da caspa que o aproximava do cidadão simples. JB tem uma linguagem que ele próprio não parece entender. É empolado, confuso. E quer ser parecido, ao contrário de Jânio, não com o brasileiro médio, mas com a plutocracia. Até apartamento em Miami ele comprou.
Mas, no desespero, o PSDB parece ver em JB o novo Jânio. Rumores dão conta de que Aécio o estaria cortejando para uma chapa.
É uma aliança previsível: a direita busca os seus iguais.
Mas JB, repito, não é Jânio. No jogo das similitudes, o PSDB sim é a UDN.
E isso é uma tragédia não para o Brasil, porque as circunstâncias de hoje são bem diferentes das de 1954 e de 1954 – mas para o próprio PSDB.
Como a UDN, a posteridade o colocará no devido lixo reservado àqueles que defendem os interesses de uma rarefeita elite que levou o Brasil a ser um dos recordistas mundiais de desigualdade social.

sábado, 23 de novembro de 2013

COM GENOINO, DIRCEU E DELÚBIO. PEQUENO MOMENTO, GIGANTE PELA EMOÇÃO Dirceu e Delúbio disseram aos deputados que eles sabem o que fazer em suas “trincheiras”

Conversa Afiada reproduz texto do jornalista Ricardo Borges:


O dia 20 de novembro de 2013 vai ficar marcado na minha vida, assim como a data de 17 de junho desse mesmo ano, quando o Congresso Nacional foi invadido por milhares de jovens, que gritavam aos brados por um país melhor e mais digno. Essas duas datas, que relembram o período sombrio que o país vivenciou nas décadas de 60,70 e 80 – na ditadura militar -, mas, claro, de outra forma, modo e contexto.

No dia 20, acompanhei um grupo de parlamentares do Partido dos Trabalhadores que visitaram José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e o ex- deputado do PTB-MG Romeu Queiroz, no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.

Ao chegar ao local, o rosto dos parlamentares mudou, tomado pela energia negativa do ambiente e pela situação de ver os companheiros de partido passando por aquela situação.

Depois de uns 13 minutos, esperando a liberação para visitar os envolvidos na Ação Penal 470, passamos por um detector de metal, deixamos nossos pertences (celulares, bolsas e documentos pessoais) e fomos para a sala do diretor do complexo penitenciário para presos em regime semiaberto.

A sala de aproximadamente 15m2, pintada na cor verde, com cadeiras na cor preta e a mesa do diretor ocupando boa parte do espaço, estava muito quente e sem ventilação, e ficou rapidamente pequena  com a quantidade de deputados.

Esperamos por cerca de cinco minutos no aguardo de Dirceu, Delúbio, Genoino e Romeu. Antes de os petistas entrarem na sala, que também tinha  janelas no lado direito e na frente, com vistas ao complexo, os deputados avistaram os presos saindo do complexo em fila, com agentes na frente, do lado e atrás, num sol escaldante da Capital Federal.

Os deputados que viram aquela cena começaram a chorar e a se emocionar .

Todos chegaram juntos. Mas,  o primeiro a entrar na sala foi Genoino.

Ele estava com uma camiseta branca, com gotas de sangue próximo ao umbigo, calça da cor bege, tênis da cor preta com umas tirinhas laranja e com uma postura firme.

Chorou ao abraçar os visitantes.

Em seguida, veio Dirceu. Ele estava de camisa polo também na cor branca, bermuda bege e sandália de couro, na cor marrom.

Depois chegou o Delúbio, também de camisa branca, bermuda bege,  sandália branca e com os cabelos molhados.

Por último, apareceu Romeu Queiroz, que estava vestido de branco, calça bege e sandália.

Depois de abraçar todos e todas, Genoíno falou em nome do grupo, com o tom de voz rouca. Contou como foi a prisão e como estava passando esses dias no complexo penitenciário da Papuda.   Ele falou da situação de sua saúde e todos ficaram ainda mais preocupados. Durante sua fala,  sempre mencionou a preocupação de Dirceu e Delúbio com sua saúde. Disse que teve que beber água da torneira, o que agravou seu problema de saúde e, após pedidos dos companheiros aos agentes penitenciários, liberaram água potável para ele.

Os presos demostraram muita indignação com a forma como foi organizada a operação midiática, em Brasília. Também informaram que chegaram ao delegado e o mesmo informou que não poderia prendê-los, pois não havia nenhum mandado de prisão.

Elogiaram a profissionalismo dos delegados e dos agentes.  Recriminaram apenas  atuação de um veiculo de comunicação do país (membro do PiG) pela forma como agiu na veiculação da prisão.

Genoino parou de falar e passou a palavra para Delúbio e Dirceu. Os dois disseram o que esperam e quais as expectativas daqui para frente. Pediram apoio aos parlamentares e falaram que cada um sabia o que fazer em suas “trincheiras”.

Como eu estava próximo de Delúbio, perguntei como era o tratamento dos outros presos com eles. Delúbio disse que eles estavam evitando aproximação com os presos, mas eles estavam enviando bilhetes de apoio e solicitando coisas.

No final, eles relembraram os momentos da criação do Partido dos Trabalhadores.

Ficamos lá por cerca de 40 minutos e, em seguida, voltamos para a Câmara.

A van que levou os parlamentares, que, antes estava “vestida” por conversas políticas, foi tomada pelo silêncio, pelo olhar de tristeza e indignação.

Confesso que foi um momento único em minha vida. Não sei se irei passar por outro momento como este. Aquele pequeno espaço de tempo tornou-se gigante e inesquecível!


Ricardo Borges é jornalista e assessor de imprensa na Câmara dos Deputados.

Por que os médicos cubanos são tão queridos?

Postado em 23 nov 2013
Exigiram a volta deste médico cubano em Feira de Santana
Exigiram a volta deste médico cubano em Feira de Santana
Os médicos brasileiros aprenderam uma coisa rapidamente com a chegada de seus colegas – ou rivais, segundo a visão dominante entre eles – cubano: são detestados.
Exagerei?
Então vou colocar a coisa de forma mais branda: não são amados. Especificamente entre os brasileiros desvalidos, esta é uma verdade doída que nem os médicos brasileiros podem contestar sem enrubescer.
O episódio de Feira Santana é particularmente revelador. A força do tema é tanta que Feira de Santana, pela primeira vez em muitos anos, virou assunto nacional.
Um médico cubano teria escrito no papel uma dose errada para uma criança com febre. Na consulta em si, segundo a mãe da criança, o médico explicou tudo com clareza e acerto.
Alguém teve acesso à receita e a usou para denunciar o cubano. Ele foi afastado.
E isso gerou uma revolta entre as pessoas, as humildes pessoas, que tinham sido atendidas pelo cubano.
A primeira da lista da revolta era a própria mãe do garoto. Ela se mobilizou pela reintegração do cubano. Em sua simplicidade, disse o que todos sabemos: os cubanos tratam seus pacientes com carinho e atenção, enquanto os brasileiros, retiradas como de hábito as exceções, sequer os olham.
De certa forma, os mal-amados médicos brasileiros são vítimas. Eles foram e são educados num sistema mercantil em que a saúde é uma mercadoria com finalidades estritamente lucrativas.
São fortemente influenciados por gigantescos laboratórios multinacionais que simplesmente quebrariam se a humanidade, subitamente, se tornasse saudável.
Por viverem da doença, os laboratórios estimulam os médicos – sempre convidados a bocas livres em hotéis e cidades especiais – a receitar remédios sempre.
É raro você sair de uma consulta sobre um colesterol alto sem que o médico indique medicamentos, em vez de uma vida mais saudável com exercícios e uma dieta menos assassina.
A internacionalmente aclamada medicina cubana tem outra visão da saúde.
Para os médicos cubanos, a chave está na prevenção. Tenha bons hábitos. Em Cuba, existe o chamado doutor comunitário. Como um amigo, ele acompanha as pessoas de uma determinada região.
Uma vez por ano, o doutor comunitário faz uma visita de surpresa ao paciente, em sua casa, para ver se seus hábitos estão de acordo com uma vida de saúde.
É por isso que é comum, em Cuba, você ver idosos se exercitando na praia. O resultado é que a expectativa de vida em Cuba, a despeito das limitações econômicas impostas pelo duríssimo embargo americano, é uma das maiores do mundo.
Além de tudo, a medicina, em Cuba, conservou algo do sacerdócio e do idealismo que o império do dinheiro foi destruindo no Ocidente, incluído o Brasil.
A principal motivação de um candidato a médico, no Brasil, é a remuneração. É uma das profissões mais bem pagas.
Dentro dessa lógica pecuniária, o jovem médico vai se estabelecer onde pode ganhar mais dinheiro: São Paulo, por exemplo.
Por isso, e pela inação de tantos governos, milhões de desvalidos em cidades remotas ficaram ao longo dos tempos sem um único médico.
Ou, como no caso de Feira de Santana, com médicos que gostariam de estar em outro lugar, com uma clientela disposta a pagar 400, 500, 600 reais por uma consulta.
Os médicos brasileiros, diante da chegada dos cubanos, têm agora duas alternativas.
Uma é ficar sabotando-os. É a mais fácil.
Outra é, humildemente, aprender com eles. É a mais sábia, tanto para os médicos brasileiros como para a sociedade como um todo.
A não ser que os médicos brasileiros se reinventem, logo as pessoas – e não estou falando apenas das desvalidas – passarão a sonhar em ter um médico cubano para cuidar delas.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

DARCY RIBEIRO......nada a acrescentar

"Aos olhos das nossas classes dominantes, antigas e modernas, o povo é o que há de mais réles. Seu destino e suas aspirações não lhes interessa, porque o povo, a gente comum, os trabalhadores, são tidos como uma mera força de trabalho - um carvão humano - a ser desgastada na produção. É preciso ter coragem de ver este fato porque só a partir dele, podemos romper nossa condenação ao atraso e à pobreza, decorrentes de um subdesenvolvimento de caráter autoperpetuante..."
Darcy Ribeiro

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Apoiar a brutalidade de Joaquim Barbosa foi uma das coisas mais baixas que Fernando Henrique Cardoso fez em sua vida política.

Paulo Nogueira
Divulgação
Não sei o que é pior no martírio de Genoíno: o silêncio de Lula ou a voz de Fernando Henrique.

Se Lula acha que basta dizer, privadamente, que está com Genoino, comete um grande engano.

Há situações que exigem bravura, e até o risco que a audácia traz sempre, e esta é uma delas.

Genoíno não pode ser triturado física e mentalmente sem que Lula se manifeste claramente em sua defesa.

Lula vai esperar que Genoíno morra para berrar sua solidariedade a um companheiro de tantas jornadas? Vai deixar que os carrascos liderados por Joaquim Barbosa comandem os acontecimentos e submetam Genoíno a uma tortura ainda mais infame que a que ele sofreu na ditadura?

Repito: ainda mais infame, porque teoricamente vivemos hoje uma democracia. E é essa democracia que vai matando Genoíno sob a omissão de tantos, e mais que todos Lula.

Não é um espetáculo edificante a falta de palavras de Lula, decerto. De certa forma, ela está no mesmo patamar das abjetas declarações de Fernando Henrique Cardoso sobre o deprimente espetáculo das prisões dos reus do Mensalão.

A quem FHC pensa que engana com aquela conversa de virgem num lupanar? Apoiar a brutalidade de Joaquim Barbosa foi uma das coisas mais baixas que FHC fez em sua vida política.

Octogenário, esperto, FHC não tem o direito de achar que alguém possa acreditar, como ele disse, que a Constituição foi defendida com as prisões.

Ora, FHC comprou a Constituição em 1997 para poder se reeleger. Como contou à Folha na época um certo “Senhor X” – que até os mortos do cemitério de Brasília sabiam tratar-se do deputado Narciso Mendes, do Acre – sacolas com 200 mil reais (530 mil, em dinheiro de hoje) foram distribuídas a parlamentares para que a Constituição fosse alterada.

Os detalhes oscilam entre a comédia e a tragédia, como contou Mendes. Os parlamentarem tinham recebido um cheque, como garantia. Comprovado o voto, os cheques foram rasgados e trocados por sacolas cheias de dinheiro, como numa cena de Breaking Bad, a grande série em que um professor de química com os dias contados vira um traficante de metanfetamina para garantir o futuro da família.

E sendo isso de conhecimento amplo, geral e irrestrito FHC defende, aspas, a Constituição que ele comprou há 16 anos?

FHC, no fim de sua jornada, lamentavelmente vai se tornando parecido com o sinistro Carlos Lacerda, o homem – ou o Corvo, como era conhecido --  que esteve por trás da morte de Getúlio e da deposição de Jango.

FHC, em nome sabe-se lá do que, se presta hoje a fazer o jogo de uma direita predadora que, à míngua histórica de votos, faz uso indecente de “campanhas contra a corrupção” para derrubar administrações populares.

Sêneca, numa de suas passagens mais inspiradas, disse o seguinte: “Quando lembro de certas coisas que disse, tenho inveja dos mudos”.

É uma passagem que se aplica perfeitamente a FHC.

Espremido entre a loquacidade falaz de um ex-presidente e o silêncio inexpugnável de outro, Genoíno vai vivendo seu martírio – o segundo numa vida só, o primeiro na ditadura, este nessa estranha democracia.

BANDEIRA DE MELLO: PT TEM QUE PROCESSAR BARBOSA O Supremo nada mais foi do que a “longa mão” da Globo Overseas.


“DIREITOS FORAM VIOLADOS PELO STF”, DIZ JURISTA



Por Luiz Felipe Albuquerque

Do Brasil de Fato SP

O julgamento do caso do “Mensalão” foi político e inconstitucional, na avaliação de Celso Antônio Bandeira de Mello, que é reconhecido como um dos mais brilhantes e respeitados juristas brasileiros.

Professor Emérito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- -SP), Bandeira completa 77 anos na próxima semana envergonhado com o papel cumprido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento.

“Esse julgamento é viciado do começo ao fim. Agora, os vícios estão se repetindo, o que não é de estranhar. Não vejo nenhuma novidade nas violações de direitos. Confesso que fiquei escandalizado com o julgamento”, diz.

Nesta semana, 11 condenados do processo foram presos, como o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, e o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu. Bandeira critica o “açodamento” das prisões e considera “gravíssimo” o tratamento dado a Genoíno, que passou recentemente por uma cirurgia no coração e está doente.




A prisão dos condenados da ação antes do julgamento dos embargos infringentes cumpriu o rito jurídico?
Houve um açodamento. Começaram a cumprir em regime fechado mesmo aqueles que deveriam estar em regime semi-aberto. A meu ver, todo o julgamento foi ilegal. Diria até inconstitucional. A começar, por suprimir uma instância, quando fizeram todos serem julgados no STF, o que não era o caso. Esse julgamento é viciado do começo ao fim. Agora, os vícios estão se repetindo, o que não é de estranhar. Não vejo nenhuma novidade nas violações de direitos. Confesso que fiquei escandalizado com o julgamento.


Por que José Dirceu e José Genoíno foram levados para Brasília, se trabalham em São Paulo?
Foi por exibição do presidente do Supremo [Joaquim Barbosa] , que saiu de foco por uns dias e quis voltar. Mas é uma mera interpretação subjetiva. Só posso dizer que é uma coisa lamentável. Não há nada que justifique. Em princípio, eles deveriam cumprir a pena o mais próximo possível das residências deles. Se eu fosse do PT ou da família pediria que o presidente do Supremo fosse processado. Ele parece mais partidário do que um homem isento.


Genoíno deveria receber um tratamento diferente pelo fato de estar doente?
É gravíssimo. Tenho quase 80 anos de idade e nunca na minha vida vi essas coisas se passarem. Nunca. Ele tinha que ter um tratamento em função do estado de saúde dele. É o cúmulo o que está se passando. É vergonhoso.


Genoíno e Dirceu dizem que são inocentes e que são presos políticos em plena democracia. Como o senhor avalia isso?
Eles têm razão: foi um julgamento político. Não foi um julgamento com serenidade e isenção como deveria ter sido. Basta ver as penas que eles receberam, piores do que de indivíduos que praticaram crimes com atos de crueldade e maldade.


José Dirceu foi condenado com base na teoria do domínio do fato. Existem provas concretas que o condenasse?
Esse é outro absurdo. Não existe nenhuma prova concreta que justifique essa atitude. É simplesmente um absurdo e um retrocesso no Estado de Direito. Primeiro, o próprio elaborador dessa teoria [o jurista alemão Claus Roxin] já afirmou que foi mal aplicada. Segundo, essa teoria é uma bobagem, pois contraria princípios do Estado de Direito. Uma pessoa é inocente até que se prove o contrário. Isso é uma conquista da civilização. Portanto, são necessárias provas de que realmente a pessoa praticou um crime ou indícios fortíssimos. Sem isso, não tem sentido.



Genoíno foi condenado por ter assinado um cheque de um empréstimo como presidente do PT. Depois, o valor foi pago pelo partido. Esse procedimento justifica a condenação dele?
Não justifica. As condenações foram políticas. Foram feitas porque a mídia determinou. Na verdade, o Supremo funcionou como a longa manus da mídia. Foi um ponto fora da curva.


E a atuação do ministro Joaquim Barbosa?
Certamente, ele foi o protagonista principal, mas não foi o único, porque não podia ter feito tudo sozinho. Quem brilhou nesse episódio foi o ministro Ricardo Lewandowski, que foi execrado pela mídia e pela massa de manobra que essa mesma mídia sempre providencia. Se o Judiciário desse sanções severíssimas à mídia, como multas nos valores de R$ 50 milhões ou 100 milhões, agiriam de outro jeito. Mas com as multinhas que recebem, não se incomodam a mínima.


Você acredita em uma contra ofensiva em relação ao Poder Judiciário, diante das contradições cada vez mais evidentes nesse episódio?
Acho muito difícil, porque a mídia faz e desfaz o que ela bem entende. Na verdade foi ela a responsável por tudo isso. O Supremo não foi mais que as longa manus da mídia.

Hannah Arendt e o prazer de Joaquim Barbosa com a luz dos refletores


Postado em 22 nov 2013
Hannah Arendt
Hannah Arendt

Em 1961, a filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt foi a Jerusalém cobrir para a revista New Yorker o julgamento de Adolf Eichmann. Eichmann havia sido capturado em Buenos Aires pelo serviço secreto. Durante o nazismo, fora chefe da Seção de Assuntos Judaicos e responsável pela organização do esquema de deportação para os campos de extermínio.
A reportagem saiu em duas edições e, posteriormente, virou o livro “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”. Essa expressão, que ela consagrou, estava na última linha do último capítulo do livro. Arendt se assombrou com a mediocridade de Eichmann, um burocrata que só se utilizava de clichês para falar, sem traços de anti-semitismo, um funcionário ambicioso sem discernimento moral e dotado de cega obediência aos superiores. Onde estava o monstro?
Publicado seu relato, ela foi acusada de nazista, perdeu amigos, recebeu ameaças de morte. Tocava no assunto delicado da cooperação de organizações judaicas no transporte para os campos. E criticou duramente o julgamento.
O que ela conta sobre o sensacionalismo em torno da corte cabe no que se viu aqui, transmitido ao vivo, durante o processo do mensalão.
Segundo Arendt, o julgamento, que deveria ser grandioso, perdia dimensão com a pequenez do réu e a atitude da promotora e com o clima de “acerto contas”. Era algo que o estado israelense queria transformar em um espetáculo inesquecível para as próximas gerações. Ela insiste na teatralidade que colocava em xeque a noção de justiça do caso.
Para Arendt, o julgamento “foi instaurado não para satisfazer as exigências da justiça, mas para aplacar o desejo e talvez o direito de vingança das vítimas”. Ela enxergava a o seguinte paralelo: “Um julgamento parece uma peça de teatro porque ambos começam e terminam com o autor do ato, não com a vítima”. Eichmann se transformou no símbolo do nazismo e estava pagando por todos os crimes do regime — e também pela perseguição histórica aos judeus. Foi condenado e enforcado.
Arendt denunciou a vontade insaciável do promotor Gideon Hausner de aparecer. Estava na imprensa o tempo todo, lançava olhares para a plateia, gostava e sabia se utilizar das câmeras (o julgamento foi televisionado; está no YouTube). Hausner ganhou elogios públicos de John Kennedy por sua atuação. Mais tarde, teve ele mesmo uma carreira política.
“A Justiça não admite coisas desse tipo”, disse ela, referindo-se à vaidade e ao exibicionismo.”Ela exige isolamento, admite mais a tristeza do que a raiva, e pede a mais cautelosa abstinência diante de todos os prazeres de estar sob a luz dos refletores.” Luz sem a qual Joaquim Barbosa, por exemplo, não sobrevive.
A história da filósofa em Jerusalém, aliás, está no bom filme “Hannah Arendt”, lançado neste ano no Brasil. Existe em DVD.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Publicado em 21/11/2013 WANDERLEY: GENOINO PARA PRESIDENTE Prof Wanderley Guilherme dos Santos não conhece muitos Genoinos: um homem de bem

Poucos parlamentares conhecem os meios e os modos de negociar e fazer a boa politica - PHA

Conversa Afiada reproduz artigo de Wanderley Guilherme dos Santos, extraído da Carta Maior:

JOSÉ GENOÍNO PARA PRESIDENTE



No exercício de seu mandato ou na presidência de seu partido é unânime o aplauso no julgamento de seu caráter e de sua conduta como político.


O deputado José Genoino é credor da admiração e respeito de pessoas civilizadas. E, sem dúvida, também de solidariedade ao ser vítima em condições pessoais adversas de arbitrariedades jurídicas de caráter inegavelmente político.  A dignidade com que se porta desde o início da perseguição dispensa, contudo, a pieguice caritativa que ofende mais do que homenageia.

Não freqüento a política partidária e converso com políticos muito raramente. É possível que não tenha trocado idéias com nenhum deles mais do que meia dúzia de vezes. Nada a ver com rejeição à atividade. Ao contrário. Tenho uma simpatia natural por quem se dispõe a cuidar da cidade, do estado, do País em condições de constante disponibilidade e resistente aos desconfortos de toda ordem a que a atividade obriga ou paga em recompensa.

Não surpreende que seja proporcionalmente ínfimo o número de candidatos a postos eletivos e, sendo estes de número bastante reduzido, o risco de ser derrotado é elevadíssimo. Destino da esmagadora maioria dos postulantes. Daí que a inclinação voluntária a ocupar um lugar na representação de outros apresente espinhoso problema a ser resolvido pela psicologia social ou pela biologia, ainda não sabemos. Descobrir subconjuntos de políticos desonrados compromete a atividade tanto quanto a negligência profissional de alguns médicos macularia a prática cirúrgica ou clínica. Fazer política é nobre, fazê-lo com integridade é confortador para o cidadão comum, sujeito às leis que regem a convivência social e a sobrevivência pessoal.

Pois o deputado José Genuíno é um desses políticos exemplares. Observador atento do que se passa nesse mundo tão caótico como parece ser a disputa política, sempre encontrei na figura pública de José Genoino o representante reto sem dogmatismos, firme sem agressividade ou vociferações, flexível sem pusilanimidade, leal sem titubeios a seu partido e a seus correligionários. Aplicado no que faz, tornou-se um dos mais eruditos representantes parlamentares no conhecimento das regras de funcionamento da Câmara dos Deputados, dos labirintos da legislação e da administração da normal concorrência entre os pares para tornar vitoriosas as teses que defendem. 

No exercício de seu mandato ou na presidência de seu partido é unânime o aplauso no julgamento de seu caráter tanto por seus companheiros de legenda quanto por eventuais adversários políticos. Magnânimo nas votações vitoriosas na Câmara, não abriga rancor nas derrotas pelo voto de seus pares. Tem como testemunhas a seu favor todos os parlamentares de qualquer persuasão ideológica com os quais conviveu e convive.

Esse deputado José Genoino não capitulou face ao absurdo e excepcional processo que lhe moveram, nem se dobrou diante da condenação previa e notoriamente contratada. Combateu e combate até hoje o combate dos homens de bem. Não está sozinho na caminhada. Mas é bastante provável que todos os atuais injustiçados e perseguidos, na mesma ou em cela carcerária vizinha, nele encontrem o ícone tornado sangue e nervos da resposta à violência covarde que se esconde em veneráveis mantos.

Bem sei que José Genoino não pode ser legalmente candidato à Presidência da República. Esboçar sua figura pública é um modo de traçar o perfil do que a população almeja encontrar em seus líderes e que não tem sido mostrado com a desejável abundância pelos pré-candidatos em circulação.

José Genoino para Presidente – eu votaria com confiança em seu nome