quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

7 Hábitos das pessoas cronicamente infelizes

Eu costumo ensinar sobre a felicidade e, quanto mais aprendo sobre isso, muito mais claros se tornaram os hábitos de quem não é feliz.
Há sete características que pessoas infelizes apresentam cronicamente.
De acordo com Sonja Lyubomirsky , pesquisadora da Universidade da California: “40% da nossa da nossa capacidade de sermos felizes depende de nós mesmos.”
Se isso é verdade, e é, há esperança para todos nós. Há bilhões de pessoas no nosso planeta e sabemos claramente que alguns são verdadeiramente felizes. O resto de nós oscila entre felicidade e infelicidade, dependendo do dia.
Ao longo dos anos, eu aprendi que há certos traços e hábitos crônicos que pessoas infelizes parecem ter dominado. Mas antes de lhes mostrar, deixe-me lembrar: todos nós temos dias e até mesmo semanas ruins.
A diferença entre uma vida feliz e infeliz é quantas vezes e quanto tempo vamos ficar lá.
Aqui estão as sete características de pessoas cronicamente infelizes.

1. Sua crença padrão é que a vida é dura.

As pessoas felizes sabem que a vida pode ser dura e tendem a passar por momentos difíceis com uma atitude de enfrentamento e não de vitimização. Elas assumem a responsabilidade sobre seus atos e ficam focadas em resolver o problema o mais rápido possível.
A perseverança na direção da resolução de problemas é uma característica de uma pessoa feliz. As pessoas infelizes se vêem como vítimas da vida e ficam presas no “olha o que aconteceu comigo”, ao invés de encontrar um caminho para se livrar do problema.

2. Acreditam que a maioria das pessoas não é confiável.

Existe um discernimento saudável das relações que são boas das que são más para nós, mas a maioria das pessoas felizes tendem a confiar em seus companheiros. Elas acreditam no lado bom das pessoas ao invés de achar que são perseguidas por todo mundo que está lá  fora pronto para pegá-las. Geralmente são mais abertas e amigáveis com as pessoas que encontram. As pessoas felizes alimentam um sentimento de comunidade em torno de si e conhecem novas pessoas com o coração aberto.
As pessoas infelizes são desconfiadas e assumem previamente que estranhos não podem ser confiáveis. Infelizmente esse comportamento começa lentamente a fechar a porta a qualquer conexão fora de um círculo interior e frustra todas as chances de encontrar novos amigos.

3. Concentram-se no que está errado neste mundo ao invés de se focarem no que está certo.

Há muita coisa errada neste mundo, mas as pessoas infelizes fecham os olhos para o que está  realmente certo neste mundo e se concentram no que está errado. Você pode reconhecê-los a um quilômetro de distância, eles serão os únicos que se queixam e respondem a quaisquer atributos positivos de nosso mundo com “sim, mas”.
As pessoas felizes são conscientes das questões globais, mas equilibram a sua preocupação com o que é certo. Eu gosto de chamar isso de manter os dois olhos abertos. As pessoas infelizes tendem a fechar um olho em direção a algo de bom neste mundo de se distrair do que é errado. As pessoas felizes mantém a vida em perspectiva. Elas sabem que o nosso mundo tem problemas, mas elas também mantém um olho sobre o que é certo.

4. Comparam-se aos outros e são invejosas.

As pessoas infelizes acreditam que a sorte de outro alguém rouba a sua própria sorte. Elas acham que não há coisas boas suficiente para todos e constantemente comparam o que têm com o dos outros. Isto leva a inveja e ressentimento.
As pessoas felizes sabem que a sua boa sorte e circunstâncias de vida são apenas sinais de que elas também podem aspirar a alcançar. As pessoas felizes acreditam que elas carregam um modelo único que não pode ser duplicado ou roubado por qualquer pessoa no planeta. Elas acreditam em possibilidades ilimitadas e não se atolam pensando que a boa sorte de uma pessoa é algo limitado..

5. Esforçam-se para controlar tudo.logo terapia saiba mais

As pessoas felizes dão alguns passos por dia para atingir seus objetivos, mas percebem, no final, que há muito pouco controle sobre o que fazemos e que a vida joga a sua própria maneira.
As pessoas infelizes tendem a tentar controlar todos os resultados e desmoronam em uma exibição dramática quando algo não dá certo. As pessoas felizes podem ser tão focadas quanto, mas ainda têm a capacidade de seguir o fluxo e não se acabarem quando surgem os obstáculos.
A chave aqui é estar  focado e orientado para o gol mesmo sabendo que o jogo pode ter que mudar.

6. Consideram o futuro com preocupação e medo.

As pessoas infelizes enchem seus pensamentos sobre como TUDO poderia dar errado.
As pessoas felizes assumir uma saudável dose de ilusão e se permitem sonhar com o que elas gostariam de ter na vida.  As pessoas infelizes preenchem esse espaço da cabeça com constante preocupação e medo.
Pessoas felizes sentem medo e preocupação, mas fazem uma importante distinção entre sentir e viver. Quando o medo ou preocupação passa por suas cabeças, elas vão se perguntar se existe uma medida que pode ser tomada para evitar que o problema aconteça (há responsabilidade novamente). Se não, elas percebem que estão exagerando e deixam o assunto para lá.

7. Enchem suas conversas com fofocas e reclamações.

As pessoas infelizes gostam de viver no passado. O que aconteceu com elas e as dificuldades da vida são sempre a escolha da conversa. Quando elas pensam em coisas para dizer, elas preenchem sua conversa falando da vida dos outros e fazendo fofocas.
As pessoas felizes vivem no agora e sonham com o futuro. Você pode sentir a energia positiva delas. Elas são animadas com o que estão fazendo, gratas pelo que elas têm e sonham com as possibilidades da vida.
Obviamente nenhum de nós é perfeito. Todos nadaremos em águas negativas de vez em quando, mas o que importa é o tempo que ficamos lá. Ter hábitos positivos diariamente é o que diferencia as pessoas felizes das pessoas infelizes. Não é necessário fazer tudo perfeitamente.
Caminhe, caia, levante novamente, repita. É no levantar-se que reside toda a diferença.
Por Tamara Star, via: Life Hack
Traduzido e ADAPTADO por Josie Conti
Do original:7 Habits of Chronically Unhappy People

8 coisas que as pessoas felizes fazem, mas não comentam


A maioria das pessoas gosta de pensar que é feliz, mas no fundo elas podem não necessariamente acreditar ou se sentirem realmente felizes.
Quando você olha ao redor e vê pessoas com quem cresceu tirando o máximo proveito da vida enquanto você continua indo para um trabalho que você não gosta e repetindo a mesma rotina dia após dia, é fácil se sentir menos grato pela a vida que tem.
Então, quais são os segredos das pessoas felizes? O que elas fazem de diferente para tirar o máximo proveito da vida enquanto o resto de nós apenas observa?

1. Elas dão

Focar apenas no dinheiro é a maneira mais certa de ser infeliz. De fato, em estudos sobre a felicidade, os pesquisadores descobriram que uma vez que você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades básicas, existem apenas duas outras maneiras que o dinheiro pode ajudá-lo. Uma delas é melhorando a sua posição social e o outra é para doar. Ao usar o seu dinheiro para ajudar aos outros, em vez de desnecessariamente amontoá-lo, as pessoas felizes se sentem como se elas estivessem fazendo uma contribuição positiva para o mundo.

2. Elas evitam o drama

Pessoas felizes tendem também a cuidar de suas próprias vidas. Enquanto outras pessoas apegam-se à provocações e fofocas, as pessoas felizes optar por concentrar-se em suas próprias coisas. Elas prestam maior atenção em si mesmas e deixam que outras pessoas vivam e digam o que quiserem.  Com certeza essa  é uma maneira simples para maximizar a felicidade.

3. Elas são gratas

Elas não passam o tempo todo querendo o que as outras pessoas possuem ou sonhando com uma vida melhor. Em vez disso, elas reservam alguns momentos de cada dia para pensar sobre todas as coisas que elas apreciam e fazem questão de serem gratas por elas.

4. Elas olham para o lado positivo

Quando as coisas ficam difíceis, os verdadeiramente felizes são muitas vezes inabaláveis. Fixar-se em falhas e imaginar o pior cenário pode ser a opção padrão para a maioria das pessoas, mas se você realmente quiser ser feliz, você precisa ter fé que as coisas vão dar certo. Mantenha a sua perspectiva e saiba que, não importa o que aconteça, você pode voltar  atrás , recomeçar ou tentar coisas novas.

5. Elas valorizam os relacionamentos

Em vez de se concentrar apenas no dinheiro e buscar implacavelmente a progressão na carreira, trabalhando longas horas, as pessoas mais felizes concentram mais do seu tempo em relacionamentos pessoais. No final de sua vida, você não vai se lembrar muito do tempo que você gastou no trabalho. Em vez disso, você vai valorizar as refeições em família e tempo compartilhado com os amigos. Colocar as pessoas antes que o dinheiro é uma ferramenta poderosa para alcançar a felicidade.

6. Elas cultivam muitas partes diferentes de suas vidas

As pessoas felizes não se definem por um aspecto de suas vidas. Elas mantêm carreiras que elas gostam, elas têm passatempos, e elas adoram aprender e crescer como indivíduos. Ao prestar atenção a vários aspectos de suas vidas, as pessoas felizes não ficar sobrecarregadas quando um elemento da sua vida diária sai fora dos trilhos. Se ela levar um fora, ela ainda têm uma carreira gratificante. Se ela se lesiona e não pode jogar seu esporte favorito por um tempo, ela ainda têm amigos para sair.  Não colocar todos os ovos na mesma cesta é uma chave para ser uma pessoa feliz.

7. Elas não se concentram em coisas materiais

Enquanto alguns de nós podem pensar que o shopping é uma ótima maneira de aliviar o stress e que ter coisas nos fará mais felizes, outros optam por experiências de valor. É uma delícia ter roupas novas, mas é difícil obter o máximo de prazer de uma camisola. O que você acha de um mergulho em um recife de corais?  Qual dessas histórias será mais significativa a longo prazo?

8. Elas seguem suas paixões

Finalmente, as pessoas felizes seguem suas paixões. Se elas acordarem e perceberem que estão insatisfeitas com seus trabalhos, elas não têm medo de deixá-los para perseguir algo que elas realmente se importam. Elas assumem o risco e podem até fracassar, mas as pessoas felizes não têm medo de colocar seu pescoço para fora e perseguir o que todo mundo está com medo. Por isso são felizes. :)
Por STEVE KUX, via life hack
Traduzido e adaptado por Josie Conti
Do original: 8 Things Happy People Do But Rarely Talk About

Por que a mídia desprezou um economista cultuado como Roubini em sua visita ao Brasil?

Postado em 29 jan 2015
Ele não está dizendo as coisas que a mídia gostaria que dissesse
Ele não está dizendo as coisas que a mídia gostaria que dissesse
Nouriel Roubini é o que existe de mais próximo em celebridade no campo dos economistas.
Em Davos, poucos dias atrás, ele estava sempre cercado de jornalistas. Um vídeo em que ele fala sobre a economia americana com um jornalista da Bloomberg viralizou.
Todo mundo quer saber o que Noubini, iraniano radicado nos Estados Unidos, pensa.
Por fortes razões.
Credita-se a ele ter percebido, em primeiro lugar, o colapso econômico de 2008, do qual até hoje o mundo não se recuperou.
Tudo isto posto, Roubini esteve no Brasil, para uma palestra promovida ontem pelo banco Credite Suisse, e foi desprezado pela imprensa nacional, num momento em que só se fala de economia.
Burrice coletiva?
É sempre uma possibilidade, mas a explicação mais plausível para a mídia ignorar um economista com as credenciais mundialmente reconhecidas como Roubini é a seguinte.
Roubini não está falando as coisas que as empresas jornalísticas gostam de ouvir e transmitir a seu público – ou a suas vítimas, numa linguagem mais franca.
No encontro oferecido pelo Credite Suisse, Roubini disse que vê com “otimismo cauteloso” o governo Dilma neste começo de segundo mandato.
Ora, mas não está tudo errado? O apocalipse não é uma questão de horas, conforme os donos da mídia e seus porta-vozes dizem, repetem, berram?
Roubini rechaçou também comparações entre o caso brasileiro e o venezuelano. Não, disse ele, o Brasil não está se tornando uma república “bolivariana”, na acepção sinistra que a imprensa dá à palavra.
Gênios como Míriam Leitão, Carlos Sardenberg e Rodrigo Constantino – perto dos quais o que é Roubini? – monopolizam os microfones que são negados, no Brasil, a Roubini.
Assim funciona a mídia brasileira.
Você pega uma nulidade como Marco Antônio Villa e tenta transformá-lo em referência em política, economia, história e o que mais for.
Você lhe dá espaço em jornais, revistas, tevês. Basta que ele diga as coisas que diz.
É um entre múltiplos casos.
Roubini não serve – a não ser que preveja o colapso brasileiro. Aí você o verá nas páginas amarelas da Veja, no Roda Viva, nos programas da Globonews.
Do ponto de vista internacional, Roubini tem dito coisas abominadas pela mídia.
Em Davos, ele disse que os Estados Unidos vivem um regime de plutocracia – o governo dos ricos – e não democracia.
Com as doações milionárias a políticos em campanhas, disse Roubini, os ricos americanos acabam influindo decisivamente nas leis.
O povo? O povo que se dane.
Está aí, segundo ele, o principal fator do crescimento da desigualdade nos Estados Unidos.
Ele apoiou a intenção de Obama de taxar mais a plutocracia e diminuir a carga dos demais.
No Brasil, a semelhança é desconcertante. As doações milionárias de empresas dão no que dão.
Para piorar, um ministro do STF, Gilmar Mendes, se julga no direito de segurar um projeto sobre o tema por um ano – sem dar satisfações a ninguém.
“Bolivarianamente”, ele usurpa funções legislativas que não lhe cabem. Gilmar Mendes chegou ao STF mediante um único voto: o de FHC.
Tudo somado, é melhor esquecer que Roubini existe e está no país – pelo menos na ótica torta e viciada da mídia brasileira.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A íntegra do discurso de Dilma aos ministros Postado em 27 de janeiro de 2015

A íntegra do discurso:
Minha primeira recomendação a vocês, que compartilharão comigo a responsabilidade por este novo mandato que nos foi confiado, é trabalhar muito para dar sequência ao projeto político que, desde 2003, está mudando o Brasil.
Mudando para muito melhor, com menos pobreza, mais oportunidades, mais igualdade, mais direitos e cada vez mais democracia.
Na campanha, pedi o voto dos brasileiros para conduzir o país a uma nova etapa do processo de desenvolvimento iniciado em 2003. Mostramos que esta proposta estava baseada em uma política econômica consistente e políticas sociais geradoras de oportunidades e em uma conquista extraordinária, a superação da miséria, alcançada ao criarmos condições para que 22 milhões de pessoas ultrapassassem a linha de extrema pobreza.
Deixei claro, durante a campanha, que o novo mandato teria como objetivo principal a preparação do Brasil para a era do conhecimento – com prioridade absoluta para os investimentos em educação, geradores de mais e melhores oportunidades para as brasileiras e os brasileiros, e da necessária elevação da competitividade de nossa economia, base para um desenvolvimento duradouro. Propus fazer do Brasil uma Pátria Educadora.
Foi nisso que a maioria dos brasileiros votou. Este é o meu compromisso com o Brasil. Nos próximos 4 anos, tomarei todas as medidas para manter íntegra a estratégia de construir um país desenvolvido, próspero e cada vez menos desigual. Tudo o que estamos fazendo visa manter e fortalecer o modelo de desenvolvimento que mostrou ser possível conciliar crescimento econômico, distribuição de renda e inclusão social.
A população brasileira votou também por mudanças e nós as faremos.
Juntos, faremos um governo que é, ao mesmo tempo, de continuidade e de mudanças. Nossa tarefa será manter o projeto de desenvolvimento iniciado em 2003, mas com as mudanças que lhe darão mais consistência e ainda mais velocidade.
Os ajustes que estamos fazendo são necessários para manter o rumo, ampliar oportunidades, preservando asprioridades sociais e econômicas do nosso governo.
As medidas que estamos tomando e que tomaremos vão consolidar e ampliar um projeto vitorioso nas urnas por quatro eleições consecutivas e que está transformando o Brasil.
Como disse na cerimônia de posse, as mudanças que o país espera para os próximos quatro anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade na economia. Precisamos garantir a solidez nos nossos indicadores econômicos.
A economia brasileira vem sofrendo os efeitos de dois choques. No plano externo, a economia mundial sofreu uma redução expressiva nas suas taxas de crescimento, com a China apresentando as menores taxas de crescimento em 25 anos, o Japão e a Europa em estagnação, e os EUA só agora começando a se recuperar da crise. Além disso, há uma queda nos preços das commodities – uma queda de 58,8% do petróleo (de jun/14 a 20 de jan/15) e de 53% do minério de ferro (de dez/13 ajan/15) – e uma apreciação do dólar.
No plano interno, enfrentamos, em anos sucessivos, um choque no preço dos alimentos, devido ao pior regime de chuvas de que se tem registro.
Essa seca teve também mais recentemente impactos no preço da energia em todo o Brasil e na oferta de água em algumas regiões específicas.
Diante destes eventos internos e externos, o governo federal cumpriu seu papel. Absorvemos a maior parte das mudanças no cenário econômico e climático em nossas contas fiscais, para preservar o emprego e a renda. Reduzimos nosso resultado primário para combater os efeitos adversos desses choques sobre nossa economia e proteger nossa população.
Agora atingimos um limite.
Estamos diante da necessidade de promover um reequilíbrio fiscal, para recuperar o crescimento da economia o mais rápido possível, criando condições para a queda da inflação e da taxa de juros no médio prazo. Garantindo, assim, a continuidade da geração de emprego e renda.
Tomamos algumas medidas que têm caráter corretivo, ou seja, são medidas estruturais que se mostram necessárias em quaisquer circunstâncias. Vamos adequar o seguro-desemprego, o abono-salarial, a pensão por morte e o auxílio-doença às novas condições socioeconômicas do País.
Essas novas condições mostram que, nos últimos 12 anos, foram gerados 20,6 milhões de empregos formais.
A base de contribuintes da previdência Social foi ampliada em 30 milhões de beneficiários. O valor real do salário mínimo, que é a base de todo o sistema de proteção social, cresceu mais de 70%.
Além disso, a expectativa de vida dos brasileiros com mais de 40 anos aumentou, passando de 73,6 anos para 78,5 anos, ou seja, quase 5 anos a mais de vida.
Nestes casos, não se trata de medidas fiscais, trata-se de aperfeiçoamento de políticas sociais para aumentar sua eficácia, eficiência e justiça.
Aliás, sempre aperfeiçoamos nossas políticas, e o Bolsa Família é um excelente exemplo. No ano passado, ano eleitoral, 1milhão 290 mil famílias deixaram o programa por não mais se enquadrarem seja por razões cadastrais, seja por aumento de renda.
Outro conjunto de medidas é de natureza eminentemente fiscal, indispensáveis para a saúde financeira do Estado brasileiro. Contas públicas em ordem são necessárias para o controle da inflação, o crescimento econômico e a garantia, de forma sustentada, do emprego e da renda.
Vamos promover o reequilíbrio fiscal de forma gradual.
Nossa primeira ação foi estabelecer a meta de resultado primário em 1,2% do PIB.
Esta meta representa um grande esforço fiscal, mas um esforço que a economia pode suportar sem comprometer a recuperação do crescimento e do emprego.
São passos na direção de um reequilíbrio fiscal que permitirá preservar as nossas políticas sociais – falo, por exemplo, do Bolsa Família, do MCMV, do Mais Médicos, do Pronatec, das ações para garantir acesso ao ensino superior, do Ciência sem Fronteiras, do combate à violência contra a mulher.
A razão de ser da gestão responsável e consistente da política econômica é estimular o crescimento e dar meios para a execução de políticas que melhoram o bem estar da população.
Em relação à inflação, quero lembrar que em nenhum momento de meu primeiro mandato descuidamos de seu controle e, por isso, ela foi mantida sempre no limite fixado pelo regime de metas.
O Banco Central vem adotando as medidas necessárias para reduzir ainda mais a inflação.
Decidimos também reduzir previamente nossos gastos discricionários, enquanto o Congresso Nacional discute o Projeto de Lei Orçamentária de 2015. Por essa razão, reduzimos em 1/3 o limite orçamentário de todos os Ministérios,neste início de ano.
Lembro a cada um dos ministros que as restrições orçamentárias exigirão mais eficiência no gasto, tarefa que estou certa todos executarão com excelência. Vamos fazer mais gastando menos.
Estamos atuando também pelo lado da receita. Adotamos correções nas alíquotas da CIDE sobre combustível e do IOF sobre o crédito pessoal. Também propusemos uma correção do PIS/COFINS sobre bens importados e do IPI sobre cosméticos.
Além das medidas de política fiscal, estamos também construindo medidas para viabilizar o aumento do investimento e da competitividade da economia.
No campo tributário, estamos finalizando nossa proposta de aperfeiçoamento do SUPERSIMPLES, que irá estabelecer um mecanismo de transição entre sistemas tributários para enfrentar a barreira hoje existente ao crescimento das micro e pequenas empresas.
Estamos preparando a Reforma do PIS/COFINS para simplificar e agilizar o aproveitamento de créditos tributários pelas empresas.
Vamos apresentar um Plano Nacional de Exportações, para estimular o comércio externo. O foco de nossa política industrial, baseada na ampliação da nossa competitividade, será o aumento da pauta e dos destinos de nossas exportações. Se nossas empresas conseguirem competir no resto do mundo, elas conseguirão competir facilmente no Brasil, onde já desfrutam de vantagens locais.
A melhora da competitividade depende, entre outras coisas, da simplificação e da desburocratização do dia-a-dia das empresas e dos cidadãos.
Para avançar nesta direção, lançaremos um grande programa de desburocratização e simplificação das ações do governo. Trata-se de agilizar e simplificar o relacionamento das pessoas e das empresas com o Estado e do Estado consigo mesmo. Menos burocracia representa menos tempo e menos recursos gastos em tarefas acessórias e secundárias, mais produtividade e mais competitividade. Toda a sociedade ganha!
Já iniciamos também a definição de uma nova carteira de investimentos em infraestrutura. Vamos ampliar asconcessões de infraestrutura ao setor privado. Vamos continuar com as concessões de rodovias e as autorizações de portos, viabilizar as concessões de ferrovias, e ampliar as de aeroportos. Realizaremos concessões em outras áreas, como hidrovias e dragagem de portos, por exemplo.
O MCMV contratará a construção de mais três milhões de moradias até 2018, ampliando sua penetração em grandes centros urbanos.
Com o programa Banda Larga para Todos vamos promover a universalização do acesso a um serviço de internet de banda larga barato, rápido e seguro.
O Brasil continua sendo uma economia continental e diversificada, com grande mercado interno, e com empresas e trabalhadores versáteis e habilitados a aproveitar as oportunidades que temos diante de nós.
Somos hoje a 7ª economia do mundo, o 2º maior produtor e exportador agrícola, o 3º maior produtor e exportador de minérios, o 5º que mais atrai investimentos estrangeiros, o 7º em acúmulo de reservas cambiais e o 3º maior usuário de internet.
O Brasil continua sendo um país com grandes oportunidades de investimento. O Brasil continua sendo um país com instituições sólidas e regras estáveis, uma sociedade livre e democrática.
Depois de 12 anos de políticas de inclusão e desenvolvimento social, o Brasil é hoje um país melhor. Um país com menos pessoas na pobreza e mais pessoas na classe média. Um país com milhões de novos estudantes, do ensino fundamental à universidade. Um país com milhões de novas pequenas empresas e empreendedores individuais. Um país com milhões de novos trabalhadores no mercado formal. Um país com mais crédito, tanto para as empresas quantos para os consumidores.
Estamos confiantes na força do nosso povo, nos fundamentos econômicos, sociais e culturais de nosso País.
Em 2016, os olhos do mundo estarão mais uma vez voltados para o Brasil, com a realização das Olimpíadas.
Temos certeza que mais uma vez, como na Copa, vamos mostrar a capacidade de organização dos brasileiros e, agora, numa das mais belas cidades do mundo, o nosso Rio de Janeiro.
Caras ministras e caros ministros,
Devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Sem tréguas.
Não permitam que a falsa versão se crie. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, precisos, se façam entender. Não deixem dúvidas.
Por exemplo, quando for dito que vamos acabar com as conquistas históricas dos trabalhadores, respondam em alto e bom som: Não é verdade! Os direitos trabalhistas são intocáveis, e não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que irá revogá-los.
Quando se levantar a questão da mobilidade urbana em nossas cidades, falem dos R$ 143 bilhões que estamos investindo em 118 municípios de grande e médio porte, em todos os Estados.
Quando for mencionada a crise da água, lembrem-se que desde o início da maior estiagem das últimas décadas, o Governo Federal apoiou e está apoiando,de todas as formas, inclusive com investimentos elevados, as demandas dos Governos estaduais, responsáveis constitucionais pelo abastecimento de água.
No Nordeste, temos uma carteira de investimentos de R$ 34 bilhões que, além da Integração do São Francisco, inclui a perenização de 1.000 Km de rios, novos sistemas de adutoras, açudes e obras que vão assegurar a segurança hídrica na região.
Em São Paulo, estamos autorizando, a partir das solicitações do Governador, asgrandes obras para ampliar a oferta de água e vamos fortalecer ainda mais nosso apoio a São Paulo.
Oriento os ministros e os dirigentes de órgãos federais relacionados ao assunto que se engajem no esforço dos governos estaduais para vencer a atual situação de insegurança hídrica, com especial atenção para as regiões Sudeste e Nordeste.
Ao mesmo tempo, estamos tomando todas as ações cabíveis para garantir o suprimento de energia elétrica.
Vamos falar mais, comunicar sobre nossos desafios, iniciativas e acertos. Vamos mostrar a cada cidadã e cidadão brasileiro que não alteramos um só milímetro nosso compromisso com o projeto vencedor na eleição, com o projeto de desenvolvimento que estamosimplementando desde 2003.
O povo votou em nós porque acredita que somos os mais indicados para fazer o que for preciso para o Brasil avançar ainda mais.
O povo votou em nós porque acredita em nossa capacidade e em nossa honestidade de propósitos.
Caros Ministros e Ministras
Vamos, a partir da abertura do Congresso, propor uma alteração na legislação para tratar como atividade comum dos entes da federação as ações de segurança pública, permitindo a União estabelecer diretrizes e normas gerais válidas para todo o território nacional para induzir políticas uniformes no País e disseminar a adoção de boas práticas na área policial.
Quero fazer alguns comentários sobre um dos maiores desafios vivenciados por nosso País: o combate à corrupção e à impunidade.
Neste segundo mandato, manterei, sem transigir um só momento, meu compromisso com a lisura no uso do dinheiro público, com o combate aos mal feitos, com a atuação livre dos órgãos de controle interno, com a autonomia da Polícia Federal, e com a independência do Ministério Público. Vou chegar ao final deste mandato podendo dizer o mesmo que disse do primeiro: nunca um governo combateu com tamanha firmeza e obstinação a corrupção e a impunidade.
Todos vocês devem atuar sempre orientados pelo compromisso com a correção e a lisura. Espero que enfrentem com firmeza todo e qualquer indício de mau uso do dinheiro público nas áreas sob seu comando.
Gostaria de mais uma vez me manifestar sobre a Petrobrás.
A Petrobrás já vinha passando por um vigoroso processo de aprimoramento de gestão. A realidade atual só faz reforçar nossa determinação de implantar, na Petrobrás, a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma empresa estatal já teve no Brasil.
Temos que apurar com rigor tudo de errado que foi feito.
Temos, principalmente, de criar mecanismos que evitem que fatos como estes possam voltar a ocorrer.
O saudável empenho de justiça deve também nos permitir reconhecer que a Petrobrás é a empresa mais estratégica para o Brasil e a que mais contrata e investe no país.
Temos que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobrás, nem diminuir a sua importância para o presente e para o futuro.
Temos que continuar apostando na melhoria da governança da Petrobrás, no modelo de partilha para o pré-sal e na vitoriosa política de conteúdo local.
Temos que continuar acreditando na mais brasileira das nossas empresas, porque ela só poderá continuar servindo bem ao país, se for cada vez mais brasileira.
Ministros e ministras, toda vez que se tentou, no Brasil, condenar e desprestigiar o capital nacional estavam tentando, na verdade, dilapidar o nosso maior patrimônio – nossa independência e nossa soberania.
Temos que punir as pessoas, não destruir as empresas.
Temos que saber punir o crime, não prejudicar a economia do país.
Temos que fechar as portas para a corrupção, não para o crescimento, o progresso e o emprego.
Como venho dizendo estou propondo um grande pacto nacional contra a corrupção que envolve todas as esferas de governo, todos os núcleos de poder, tanto no ambiente público, como no privado.
Seremos ainda mais implacáveis com os corruptores e corruptos.
Em fevereiro, encaminharei ao Congresso as seguintes medidas:
Primeiro, transformar em crime e punir com rigor os agentes públicos que enriquecem sem justificativa ou não demonstrem a origem dos seus ganhos.
Segundo, incluir na legislação eleitoral como crime a prática de caixa 2.
Terceiro, criar uma nova espécie de ação judicial que permita o confisco dos bens adquiridos de forma ilícita.
Quarto, alterar a legislação para apressar o julgamento de processos envolvendo o desvio de recursos públicos; e
Quinto, criar uma nova estrutura, a partir de negociação com o Poder Judiciário, que dê maior agilidade aos processos movidos contra aqueles que têm foro privilegiado.
As brasileiras e os brasileiros esperam de nós um comportamento íntegro. Seremos, em cada um dos dias desse novo mandato, gestores públicos absolutamente comprometidos com a austeridade e a probidade. Vamos honrar cada cidadã e cidadão com uma gestão exemplar, que executa com celeridade e eficiência as políticas que vão manter o Brasil na trilha do desenvolvimento.
Caras Ministras e ministros
Há também uma grande expectativa da sociedade brasileira pela Reforma Política. Colocaremos como prioridade, já neste primeiro semestre, o debate deste tema com a sociedade. Esta é uma tarefa do Congresso Nacional, mas nos cabe impulsionar esta mudança, para instituir novas formas de financiamento das campanhas eleitorais, definir novas regras para escolha dos representantes nas casas legislativas, e aprimorar os mecanismos de interlocução com a sociedade e os movimentos sociais, reforçando a legitimidade das ações do Legislativo e do Executivo.
Espero de cada uma das ministras e ministros muito diálogo com o Congresso, com governadores, prefeitos, e com os movimentos sociais, tal como eu mesma farei. Devemos buscar, por meio do diálogo e da negociação, estabelecer os consensos e os caminhos que produzirão as mudanças de que o Brasil precisa. Só assim construiremos mais desenvolvimento e mais igualdade.
Espero de todos muita dedicação, cooperação entre os ministérios e muito trabalho. Desejo muita sorte e muito sucesso a todos.
O Brasil espera muito de nós e conto com vocês para honrar todas essas expectativas.
Muito obrigada.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Batalha de Argel: Um fantasma sempre presente A 'Batalha de Argel' mostra como muitos dos problemas que a Europa está precisando resolver hoje são consequência do seu passado colonial.

Léa Maria Aarão Reis
reprodução
Não há, praticamente, crítico de cinema nem jornalista de editoria internacional que não tenha escrito, ou ao menos não conheça o filme do italiano Gillo Pontecorvo, A Batalha de Argel (1966/Premio Leão de Veneza), um dos clássicos mais admirados do cinema político.
 
Do ponto de vista estrito, cinematográfico, o filme de Pontecorvo é obra prima de agilidade, ritmo, clareza e beleza plástica. É resultado da admirável fotografia rústica, preto-e-branco, utilizada propositadamente para sublinhar a natureza dos cine jornais da época, da trilha musical perfeita de Enio Morricone e do roteiro emocionante que equilibra diálogos esclarecedores para o leigo com as cenas e sequências memoráveis, das ações da Frente Nacional de Libertação da Argelia (a FLN) nas ruas, nos anos 50/60, e do povo árabe na luta para se libertar da opressão e da expropriação das suas terras. Uma colonização francesa que durou 130 anos.
 
Tão contundente, volta e meia a situação mostrada pelo filme é evocada como consequência do mundo Sykes-Picot*, o período histórico da década dos anos 30 do século vinte, no qual as grandes potências ocidentais, França e Inglaterra, decidiram, numa cruel e insolente ação entre amigos, dividir o Oriente árabe e a África entre si, ao bel prazer dos interesses econômicos das suas corporações.

Aí, a origem de todo tipo de terrorismo, seja de estado e das mais variadas formas de fundamentalismo, reconhecida, dez anos atrás, até por um ministro britânico reacionário, das Relações Exteriores, Jack Straw. Candidamente ele declarou: “Muitos dos problemas que estamos precisando resolver, hoje, são consequência do nosso passado colonial”.

La Batagllia dei Argeli mostra o confronto entre os árabes e as forças militares francesas. Entre elas, oito mil  paraquedistas, os pará, com experiência na Indochina e na resistência aos nazistas, na Normandia e na Itália, como se vê no relato. Desembarcaram em Argel em 1957.

“Entre eles, as brigadas dos temíveis ‘leopardos’ que lutariam para manter a ‘França africana” – ou como diziam os generais enviados para lá: ‘Para proteger as pessoas e a propriedade privada’ – ou seja, as terras roubadas dos árabes – e para isolar e destruir a Frente Nacional de Libertação.

Mas a independência do país só ocorreu em 62. Apenas quatro anos depois, ainda sob o calor das lutas sangrentas, Pontecorvo fazia seu filme baseado no livro de Saadi Yacef, Lembranças da Argélia.

Robert Fisk, um dos mais respeitados jornalistas europeus, correspondente de experiência notável, que vive no Líbano e é um dos melhores conhecedores e analistas da história do mundo árabe, conta (inclusive, aqui, em Carta Maior) que quando ouviu as primeiras notícias sobre o massacre aos jornalistas do Charlie Hebdo, imediatamente murmurou para ele próprio: ”Argélia...” Horas depois foram divulgadas as identidades dos assassinos: os irmãos Chérif e Said Kouachi eram de origem argelina.

E mais: a pensar na idade da dupla, na casa dos 30 anos, deveriam ser filhos de cidadãos que presenciaram ou participaram das ferozes lutas pela independência argelina relatadas no filme, quando o terrorismo de ambas as partes era usado como recurso de dissuasão. Os pais dos Chérife poderiam, talvez, ter imigrado para a França por volta dessa época. Pouco ou nada se conhece sobre a origem mais remota dos dois, exceto informações sobre a infância em um orfanato francês.

Parece, realmente, que uma ferida não fecha, 53 anos depois da independência do país do norte da África, entre a França e a Argélia, como aponta Fisk. Um fantasma ronda, relembrando o terror continuado das bombas carregadas em suas sacolas pelas mulheres árabes da Casbah de Argel e detonadas nos cafés franceses do bairro europeu - onde se dançava cumbias ao som das juke Box - e o terror de milícias e militares, até nas ruas de Paris não só contra argelinos, mas contra os árabes em geral.

Os alvos, às vezes, eram marroquinos, caso do célebre episódio em que o dirigente de esquerda Ben Barka foi sequestrado, anos depois, já em 65, defronte de um cinema, em pleno dia, no Boulevard Saint Germain. Depois, foi assassinado. O corpo nunca foi encontrado. O atentado é atribuído aos agentes secretos franceses com a colaboração do Mossad e da CIA.

O vigor de A Batalha de Argel é tal que, através dele, as lembranças emergem.

O filme se inicia em 1954, primeiros tempos da organização da FLN entre os moradores da Casbah. Mostra como ela ocorreu. O uso do álcool e das drogas era usado livremente e estimulado pelos colonizadores para controlar melhor a população dos 400 mil cidadãos árabes da cidade. Mesma estratégia usada pelos ingleses com as populações chinesas e seus vizinhos durante a Guerra do Ópio.

Sete atentados por dia era o saldo da violência na capital argelina. Bombas explodiam as residências de prisioneiros com suas famílias dormindo dentro delas. Cercos policiais montados com check points faziam a vida miserável no bairro transformado em gueto. Começava a chamada Operação Champanha. Em resposta, os da FLN retaliavam, fuzilavam e esfaqueavam policiais. Muitos dos apanhados eram guilhotinados.

Pouco a pouco os árabes promovem uma limpeza entre habitantes da Casbah. Nesta segunda parte do filme, vemos como se formando forte e organizada resistência e consciência política.

Alguns aspectos, sempre oportunos, são sublinhados no filme de Pontecorvo:

- O voto da ONU pela não-intervenção de forças de paz na Argélia. A guerra se prolongava e se tornava uma chacina. Discutiu-se a questão argelina e votou-se a favor dos franceses.

- A importância do papel da imprensa de Paris escondendo ou deturpando fatos que não eram de interesse do governo francês divulgar. “Muito depende do que vocês escreverem”, dizia o coronel Mathieu, o insolente comandante dos paraquedistas, nome fictício para o general Jacques Massu** (de triste memória), nas muitas entrevistas coletivas convocadas, se referindo à vitória. “Escrevam bem,” ele exortava. No dia seguinte as manchetes dos jornais franceses diziam: “Tudo calmo no bairro muçulmano.” Era mentira. Mathieu/Massu declarava: ”A palavra tortura não consta das nossas ordens...”

- As técnicas sistematizadas de torturas de prisioneiros depois exportadas para os Estados Unidos, América do Sul e para o Brasil. Afogamentos, choques elétricos, queimaduras com maçaricos, pau-de-arara. Torturas promovidas nas residências dos árabes sob as vistas das famílias.

- E a sequência final de A Batalha de Argel com cenas antológicas de rebelião popular. Desde 11 de dezembro de 1960 até o dia 29 do mesmo mês a população árabe não deixou as ruas embora muitos tenham sido metralhados e esmagados pelos tanques. Milhares de bandeiras do país, com o símbolo da meia lua e da estrela foram feitas de retalhos, trapos, com qualquer pedaço de pano encontrado. “Tudo virou bandeira!” anunciavam os cine jornais e as emissões de rádio. Agitadas na brisa marinha do céu da Casbah e, depois, de toda a cidade, elas são uma visão emocionante no filme.

Em 1962, foi, enfim, dada a resposta à pergunta que Mathieu/Massu costumava fazer aos jornalistas nas arrogantes entrevistas em que negava praticar a tortura: “A FLN quer nos ver fora da Argélia e nós queremos ficar. E vocês?” Os franceses tiveram que sair.

Robert Fisk pode ter mesmo razão: há ainda contas a ajustar entre a França e a Argélia? Quanto permanece de ressentimento pelo passado violento para ambas as partes? Entre os pieds noirs,*** obrigados a devolver as terras que tinham sido confiscadas aos árabes e retornar à Europa, e os habitantes do interior, das montanhas argelinas, e os da Casbah de Argel que se viram obrigados a imigrar?

*Os diplomatas Mark Sykes e François Georges-Picot arquitetaram um ‘novo’ Oriente Médio, depois da I Guerra Mundial, desenhando linhas arbitrárias de fronteiras e criando vários países árabes que não existiam antes. Ver aventuras de T. E. Lawrence, o Lawrence da Arábia.


**Massu declarou ao Le Monde em 2000: “ O mais duro de suportar foi o fato de meu nome ficar para sempre associado à tortura.” Ficou.


***Descendentes de colonos europeus, em particular de franceses, que regressaram aos seus países depois das guerras de independência do norte da África.