quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O DERBI do CENTENÁRIO


Festeja, porque o Corinthians fez justiça por você

Festeja, porque o Corinthians fez justiça por você
O árbitro Peixoto: punido pela bola
Foto: Divulgação
No país da juristocracia seletiva, quantas vezes você não se sente prejudicado, insultado, ofendido, lesado e humilhado?
É aquela multa de trânsito absurda, resultado da sinalização deficiente ou inexistente.
É o seu carro roubado, que nenhum aparato da lei se esforça por recuperar.
É aquele imposto implacável, maroto, que leva muito mais de você, pai e mãe de família, do que do tubarão magnata.
É aquela demanda sua, clara, mas que não tem solução, perdida na burocracia dos labirintos dos tribunais.
É a sua reclamação correta, calada pela “otoridade” cheia de soberba e estupidez.
É o “teje preso” das ruas nossas, só porque você é filho distante da África, estudante em luta por seus direitos ou morador da periferia imensa deste nosso Brasil.
É a infame estrutura de poder, executiva, legislativa e judiciária, que sabota o seu trabalho suado, vampiriza a sua empresa e leva embora o seu carrinho de pipoca.
Hoje, esse monstro de mil tentáculos esteve em campo na Arena Corinthians, em Itaquera.
Revivendo a tradicional e escandalosa figura do juiz ladrão, o Peixoto de amarelo obrou para destruir o clássico do centenário.
Com arrogância enorme, quis interferir no desenrolar da partida. Arrogante, desconsiderou o óbvio, não ouviu seus pares e, como seu colega José Aparecido, em 1993, prejudicou severamente o Time do Povo.
Expulsou incorretamente Gabriel. Depois, inspirado na teimosia dos tolos, seguiu complacente com os verdes visitantes. Concluiu sua ópera bufa assistindo passivamente à covarde agressão de Victor Hugo sobre Pablo.
Ah, mas quantas vezes o nosso Corinthians não redimiu você?
Lembra daquele dia? Você abalado, pressão alta nas veias, até mesmo revoltado, por causa do político corrupto, do guardinha metido, do atendente que não se sensibilizou com a febre do seu filho, do chefe inclemente, do batedor de martelo que só ouviu um lado...
Sim, você se lembra daquele dia...
E, então, contra tudo e todos, o nosso Corinthians entrou em campo e representou suas dores e suas lágrimas, arrancando na garra a vitória redentora...
Foi assim novamente nesta noite de fevereiro em Itaquera. O roteiro perfeito. A vingança doce e necessária de todo um povo maltratado, vilipendiado e injustiçado.
Você sabe que é assim.
E juntos, proclamamos: obrigado, Corinthians, teu passado é uma bandeira, teu presente é sempre uma lição!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Corinthians pode ganhar muito com caso 'Atlético x Coritiba' / Marco Bello no Noticias do Corinthians

Corinthians pode ganhar muito com caso 'Atlético x Coritiba'
Coritiba e Atlético se recusaram a jogar pelo Paranaense
Foto: Divulgação
A decisão das diretorias de Coritiba e Atlético Paranaense de não entrarem em campo neste domingo pelo Campeonato estadual é histórica.
Não apenas para os dois maiores clubes do Paraná, mas para o futebol brasileiro.
As duas agremiações não estão “peitando” apenas a Federação local. Elas estão começando uma guerra contra a Rede Globo e o atual sistema de vendas de direitos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
Ao contrário do que já acontece em muitos países europeus, os clubes brasileiros são reféns das Federações estaduais, que obedecem cegamente às regras da CBF.
Nas organizações dos campeonatos e também na venda dos direitos de imagens, hoje o maior patrimônio dos clubes de futebol do mundo.
Clubes como Barcelona, Bayern de Munique, Real Madrid e Manchester United têm a maior porcentagem de suas receitas provenientes dos direitos de televisão. Venda de camisas, bilheteria de jogos e licenciamento de produtos vem bem depois nesta escala.
Até a temporada passada, Barcelona e Real Madrid podiam negociar seus direitos individualmente. E só a equipe catalã recebeu R$ 450 milhões na temporada 2015/16.
Quase R$ 300 milhões a mais que Corinthians e Flamengo, os dois clubes que mais recebem no Brasil.
Para evitar uma supremacia muito grande de Barcelona e Real Madrid, a Liga Espanhola passou a negociar em conjunto com as redes de televisão a partir desta última temporada.
Então o Brasil está à frente? Não. E a explicação é simples: aqui, os clubes são reféns da Rede Globo.
O Barcelona conseguiu este montante de 140 milhões de euros porque trocou a MediaPro pela Telefonica - duas emissoras de televisão da Espanha. No Brasil, os clubes simplesmente não podem receber ofertas maiores da Record, Bandeirantes, SBT, e etc.
Isso é liberdade comercial? O Atlético Paranaense e o Coritiba não aceitaram a proposta da TV Globo e “ousaram” querer transmitir o clássico de forma gratuita via Youtube.
Foram vetados. Pela Federação? Pense bem.
Os outros clubes do Brasil, que recebem menos que Flamengo e Corinthians, reclamam do sistema atual. Querem ganhar mais.
Como não estamos mais no Século XX, acredito que eles realmente mereçam ganhar mais. Para isso, ganhem títulos, conquistem torcedores, vendam seu peixe.
Mas acredito que Corinthians e Flamengo também merecem ganhar mais. Muito mais! Como? Por meio da livre concorrência.
Se TODOS os clubes brasileiros também “peitassem” a gigante Globo, e se houvesse a possibilidade, via CBF, de outras emissoras entrarem na concorrência, (inclusive Fox, ESPN, Esporte Interativo, como acontece no caso da Libertadores da América com a Fox) a história seria outra.
Sinceramente, acredito que a Globo continuaria com a supremacia. Ela tem mais estrutura, tem a maior e a melhor equipe de transmissão, tem o know-how da coisa.
Mas, com certeza absoluta, TODOS os clubes ganhariam mais. Inclusive Corinthians e Flamengo.
O Corinthians, por exemplo, poderia simplesmente dobrar o faturamento com direitos.
E não me refiro apenas à transmissão de TV aberta.
Sou a favor de outros tipos de venda de direitos. Como vocês devem saber, trabalho na Rádio Transamérica de São Paulo. Rádios no Brasil não pagam direitos. Pra mim, deveriam pagar. Lógico que em escala menor, proporcional. Mas hoje, como as rádios não são cobradas, são tratadas como lixo nos campos do Brasil.
O ouvinte tradicional de rádio pode ter percebido nos últimos anos que não há mais entrevistas com os jogadores antes dos jogos. Não há também mais entrevistas nos intervalos.
No final das partidas, os funcionários da Federação separam um espaço para os detentores dos direitos (televisão) e depois fazem mais ou menos como os criadores de gado para (des)organizar as entrevistas de rádio.
Com a venda de direitos, poderia acontecer como em eventos FIFA, como a Copa do Mundo. Nestas competições, as rádios também pagam pelos direitos. E tem com isso um tratamento de respeito, algo que não acontece por aqui. Sou a favor da venda de direitos para transmissão pela internet, celular, sites esportivos e etc.
Um clube como o Corinthians, com liberdade (verdadeira!!) para negociar todos estes direitos, poderia facilmente arrecadar de R$ 400 a R$ 500 milhões anuais.
Não precisaria vender jogadores, poderia repatriar alguns, os campeonatos seriam mais atrativos, os estádios estariam mais cheios… seria bom para todos, inclusive para aqueles que hoje freiam este crescimento.
Que a lição de Atlético e Coritiba se espalhe. Que a coragem dos dois clubes não fique apenas neste ato.
Que você, torcedor, consumidor final, também ajude a pressionar seu dirigente para que faça o melhor negócio para o seu clube do coração. Afinal, o maior beneficiado por tudo isso será você.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Ion de Andrade alerta: Hecatombe irreversível no mercado de trabalho médico 10 de fevereiro de 2017 às 12h16

Ion Temer
Acordo em Natal e menos médicos em UPAs assinalam irreversível virada no mercado de trabalho médico
por Ion de Andrade, especial para o Viomundo
Os últimos acontecimentos relativos ao mercado de trabalho médico, que detalharei, materializam o que já anunciávamos desde o ano passado: a queda da oferta de postos de trabalho, dos honorários e o novo fenômeno do desemprego médico.
No entanto, as minhas previsões foram em muito antecipadas, pois acreditava que essa hecatombe viria de forma progressiva, mas eis que assumem perfil explosivo.
Quero iniciar esse artigo lembrando a tantos quantos achem que os déficits públicos se devem à “gastança” dos governos Lula/Dilma que a crise atual é arrecadatória devido à queda internacional dos preços das commodities e à recessão vivida pelo Brasil e provocada pelo receituário neo-liberal.
Essa crise de arrecadação tornou o Estado brasileiro deficitário, necessitado, para manter a sua agenda (decorrente do cumprimento da Constituição de 88), de novas fontes de financiamento, como poderia ser tributar os super-ricos.
A título de exemplo, tais super-ricos foram onerados em cerca de 50 bilhões de reais por ocasião da recente repatriação de recursos da evasão fiscal, que representam apenas a (pequena) parte do sonegado que foi expatriada.
Esses recursos permitiram em dezembro último o pagamento de parte da folha salarial e de contratos em diversos estados e municípios, mostrando que taxar os super-ricos é viável e não os leva à falência.
O governo Temer não pretende sanear as contas públicas, mas assegurar situação boa e estável para quem está no topo da pirâmide social em nome de quem o poder político foi usurpado. Esse 1% mais rico detém 50% do PIB e paga (ou sonega) 6% de impostos. Como já disse, eles não são predominantemente médicos, são empresários e banqueiros.
Coerente com o arrocho, a decisão federal de reduzir pela metade o número de médicos das UPAs, além de desumana para pacientes e profissionais veio para ficar e não foi mudada após as notas públicas de repúdio dessa ou daquela associação. Essa redução marca o momento, agora irreversível, em que, como disse o ministro, “o Brasil tem que cair na real”.
O segundo sinal dos duros tempos que vêm é a mensagem contida no acordo firmado entre o município de Natal e uma das Cooperativas Médicas que lhe prestam serviços, a COOPMED. Esta última teve que aceitar para poder receber as parcelas vencidas do seu contrato com a SMS Natal, uma redução de 10% no valor dos honorários médicos e de um terço nos postos de trabalho.
Os valores pendentes serão pagos pelo município em dez parcelas sem juros. Os dois lados, cooperativa e município, pareceram compreender que não havia alternativas e como o que não tem remédio, remediado está, a crise foi superada rapidamente com um acordo de cavalheiros.
Isso ocorre quando as medidas draconianas de economia de recursos públicos previstas pelo governo através da PEC 55 para durar vinte anos, ainda nem sequer foram executadas, sendo o que vemos hoje o resultado ainda da queda da arrecadação nos estados, municípios e na União decorrentes da recessão atual. É a crise aguda, antes da doença crônica. Vamos “descobrindo” que a saúde pública, para prosperar, precisa de crescentes investimentos e que o que vem por aí, movido por essa restrição, é o desemprego maciço, já desde esse ano.
A crise em Natal é emblemática porque a um só tempo reduziu honorários, postos de trabalho e potencial de luta da categoria, exatamente como prevíamos.
Ela descortina, entretanto, um cenário de longo prazo no qual o número de médicos que chegarão ao mercado de trabalho será maior do que a capacidade desse mercado de absorvê-los, o que gerará desempregados e barateamento da mão de obra que é o que já vemos hoje e previmos em outubro passado por ocasião da votação da PEC 55. Obviedades obscurecidas por uma adesão ideológica a um governo que, no entanto, reconheçamos com a PEC anunciou e claramente que reduziria os investimentos na saúde.
Dilma e Lula tem culpa do que está em andamento? Poderíamos dizer que sim apenas se isto significar que não propuseram uma Reforma Fiscal que tributasse os super-ricos para financiar as políticas sociais, como já acontece na Europa. Mas convenhamos, uma reforma com esse teor teria chance zero de ser aprovada no nosso glorioso e honrado Congresso Nacional. Então, se responsabilidade há ela está muito atenuada dada a inviabilidade a priori da aprovação de uma tão esdrúxula Reforma Fiscal contra os ricos no Brasil…
Acreditamos que o Estado mínimo era lambada apenas nas costas dos pobres e miseráveis e não enxergamos que o nosso destino profissional está atado ao destino assistencial deles. Prosperamos, apenas, na exata medida em que os servimos.
Ao mesmo tempo, após nove meses de arrocho do governo Temer fechamos 2016 com um déficit record de 150 bilhões de reais, o que endividará mais o Estado brasileiro, tornando-o ainda mais incapaz de investir na saúde e nas áreas sociais, “obrigando-o” a pagar ainda mais juros e serviços aos rentistas: o 1%.
Não é preciso ser engenheiro para saber que a casa está vindo abaixo e ela está.
O que o governo nos prepara é um Estado falido, uma sociedade desassistida e milhares de profissionais de saúde desempregados.
Ion de Andrade é médico epidemiologista e doutor em Ciências da Saúde pela UFRN

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Para juristas, noitada de Moraes com senadores em barco de luxo é um “escárnio

Sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Para juristas, noitada de Moraes com senadores em barco de luxo é um “escárnio”

Ontem, 9, o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, prestes a ser sabatinado pelo Senado para a vaga no Supremo Tribunal Federal, reuniu-se a portas fechadas na chalana Champagne, também conhecido como “Love Boat” (barco do amor, em inglês), uma embarcação de luxo do senador Wilder Morais (PP-GO), presente no evento com outros sete senadores. O episódio foi tratado pela mídia como uma “sabatina informal” e “noitada imprudente”, mas recebido como escândalo pela comunidade jurídica.
Na noitada, além de Wilder, estavam presentes Benedito de Lira (PP-AL), Cidinho Santos (PR-MT), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Ivo Cassol (PP-RO), José Medeiros (PSD-MT), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Zezé Perrella (PMDB-MG). Os senadores, todos homens, disseram que foi um encontro para conhecer as opiniões de Moraes. Um deles afirmou à revista Época que “fizeram questões mais duras do que as que serão feitas na sabatina da CCJ“.
A reunião do ministro da Justiça, às portas fechadas, em uma embarcação conhecida pela festança regada a bebidas e “amor”, com senadores que deveriam sabatiná-lo no Senado revoltou a Professora Doutora da Universidade Católica de Pernambuco, Carolina Ferraz, que classificou o episódio como “escárnio” – A festança de Moraes com os senadores é o riso do escárnio de quem não respeita ou leva a sério a democracia e o Estado Democrático de Direito.
“Causa ojeriza a promiscuidade entre o legislativo, o judiciário e o executivo. Tudo é feito na base do acordão, da imoralidade e da falta de ética. Quando um grupo desenadores da república acompanhados de um futuro ministro do STF se dão ao desfrute de desrespeitar a independência e a tripartição dos poderes numa festança num barco do amor, regado a uísque resta um sentimento de desesperança” – completou a Professora.
Nas redes sociais, o desembargador aposentado e Professor de Direito Penal da USP, Walter Maierovitch, disse que a festança é mais um sinal de que Alexandre de Moraes não atende ao requisito de “reputação ilibada” – “Não tem postura e nem compustura. Não atende ao requisito constitucional da reputação ilibada” – publicou.
Faltou palavras à Márcia Semer, Procuradora do Estado de São Paulo e Secretária Geral do Sindicato dos Procuradores do Estado, para qualificar as notícias e condutas pré sabatina de Alexandre de Moraes – “avalanche de notícias academicamente desabonadoras veiculadas nos últimos dias sobre o futuro Ministro do STF Alexandre de Moraes é impactante, mas, a notícia do jantar “on the boat” com senadores mostra uma conduta pré-sabatina tão inapropriada que não saberia qualificar. Tudo bastante constrangedor… e preocupante”.
Para o Presidente da Associação Juízes para a Democracia (AJD), André Augusto Bezerrauma reunião como essa é reflexo da falta de transparência no processo de indicação e de sabatina de um ministro do Supremo – “é da tradição brasileira que os critérios para indicação e nomeação ao STF ocorram às portas fechadas. Ao invés de se promover o debate público, fomenta-se o sigilo. Agora não está sendo diferente” – afirmou
Para o cientista político Professor Doutor da Universidade de Campinas (Unicamp), Frederico de Almeida, o episódio do barco revela a hipocrisia que existe na presunção e na expectativa de que o STF não tenha caráter político e que as indicações para uma corte não sejam políticas. No entanto, lamentou que encontros como esse estejam fora do escrutínio público e que a sabatina aberta seja algo meramente ritual.
O que temos que fazer é assumir esse caráter político e discutir mais seriamente o processo de indicação, sabatina e nomeação de ministros. Não vejo problema nenhum que um candidato a ministro do STF converse com senadores a respeito de suas pretensões, mas eu prefiro que isso seja feito às claras, em eventos públicos ou em uma sabatina mais cuidadosa e não meramente ritual, como acontece hoje no Senado, e não em um convescote privado em condições para lá de suspeitas” –afirmou.
Polêmicas referentes ao nome de Moraes tem se multiplicado desde que ele foi indicado pelo presidente Michel Temer no início da semana. Nesse período, já foi apontado como autor de plágios de um autor espanhol.

O Humanismo está morto. Viva o Individualismo à Brasileira!, por Sebastião Nunes ; extraido do GGN

O Humanismo está morto. Viva o Individualismo à Brasileira!
por Sebastião Nunes
Socratião, expulso a vassouradas por Xantipa, reuniu-se na Ágora com seus parças para mais uma sessão de papo furado e bebedeira: Platião, Fedontião, Antistião e Cebestião. Seu maior pobrema (como dizem os mineiros) era compreender os sofismas usados pela Estupidez para virar o país de cabeça para baixo, botando o Individualismo em cima e o Humanismo embaixo. Difícil de entender? Por isso tantos sabichões sebastiúnicos reunidos na Ágora onde, apesar da balbúrdia, era possível pensar. Não dava para pensar era com Xantipa na cola, brandindo aquela horrorosa bassoura (como diziam os antigos) de bruxa malvada.

LIVRO SEXTO
            Depois de provar uma caneca de cicuta adoçada com hidromel, estalar a língua e exclamar “deliciosa bebida!”, disse Socratião a seus discípulos:
            – Certo filósofo contemporâneo, cujo nome esqueci, afirmou que a oposição Individualismo x Coletivismo começou pra valer durante a Revolução Francesa, aquela que tornou famoso o funk “adoro-cortar-pescoço-e-nunca-me-canso-de-cortar-pescoço”.
            – Concordo – disse Platião. – Durante a época coletivista, se você cortava a cabeça de mil indivíduos, era como se cortasse uma única cabeça. Já na época do individualismo, se você corta mil cabeças desprovê de cabeça mil indivíduos. E não dá pra ser feliz com mil cabeças berrando na sua cabeça.

LIVRO SÉTIMO
            – Vejamos se entendi – disse Fedontião. – Se eu corto a cabeça de mil baratas, tontas ou não, é como se cortasse uma única cabeça, segundo o coletivismo.
            – Exato – concordou Platião. – Desse modo ficam seis mil perninhas de baratas tremelicando no ar, pois as baratas morrem de patas para o ar. Porém a cabeça que estrebucha é apenas a porta-voz genérica das mil cabeças.
            – Então – continuou arengando Fedontião. – se eu corto a cabeça de dez mil trabalhadores, empregados ou desempregados, é como se cortasse uma única cabeça.
            – Exatamente – concordou mais uma vez Platião –, já que para nós, aristocratas individualistas, não existe indivíduo operário, mas apenas o coletivo operário.
            Socratião piscou para Antistião e Cebestião que, compreendendo de imediato o mandado, saltaram sobre Platião, amarrando-o, amordaçando-o e atirando-o da rocha Tarpeia, (Para mais detalhes sobre essa rocha famosa, cf. a História de Roma.)

LIVRO OITAVO
            Enquanto rolava tão erudito papo, Aristotião, que perambulava pelo Capitólio paquerando a virgem vestal de plantão, chegou correndo e sem fôlego:
            – Valha-me, meu bom Socratião! Acabo de ver 11 abutres devorando 10 gansos sagrados à beira do lago!
            – Coitados – disse Socratião, condoído. – Isso quer dizer que um abutre vai ficar sem comida, já que repartir não é com eles. Mas você está certo de que eram abutres?
            – Certíssimo – obtemperou Aristotião. – São uns passarões compridos, de bico recurvo, olhos cintilantes e, principalmente, envoltos numas compridas penas pretas.
            – Ora, meu caro, não seja simplório – ripostou Socratião. – Esses aí não são abutres. O que você viu foi ministros do STF devorando o povo brasileiro.
            – Ah, bom, que susto! – acalmou-se Aristotião. – Bem que achei esquisito abutre de calça e botina. Isso, fora dois ou três deles, não lembro bem, que em vez de bonita, digo, botina, estavam calçados com sapato preto de bico fino e salto alto. Por conta disso imaginei que fossem abutres fêmeas.

LIVRO NONO
            – Imaginaste bem, meu caro Aristotião – referendou Socratião. – Data vênia, digo que são abutres fêmeas, tanto quanto os demais são abutres machos. A voracidade é a mesma, uma vez que estômago não possui a forma feminina.
            – Não querendo me intrometer, mestre – disse Platião que, a duras penas, havia galgado a rocha Tarpeia –, mas não era proibido comer os gansos sagrados?
            Socratião olhou demoradamente o pobre do Platião. De fato, tratava-se de caso raríssimo de sobrevivente de uma queda da rocha Tarpeia. Faltavam-lhe, contudo, a perna direita, o braço esquerdo, metade do crânio, um olho, meia narina e meia boca. E ainda assim conseguia falar. Parecia, em suma, um brasileiro preto e pobre.
            Sem nada dizer, Socratião piscou para Antistião e Cebestião que, apoderando-se de Platião, atiraram-no novamente da rocha Tarpeia, decididos a liquidar o estorvo.

LIVRO DÉCIMO
            Sentados de pernas cruzadas e mãos entrelaçadas à moda iogue, permaneceram silentes os ilustres sábios. Sim: a rocha Tarpeia era uma metáfora do Brasil. Sim: os gansos sagrados eram uma metáfora do povo brasileiro. Não: os abutres não eram metáfora de coisa nenhuma: eram realmente os ministros do STF.
            Socratião suspirou fundo, bebeu mais uma caneca de cicuta adoçada com hidromel, estalou a língua exclamando “deliciosa bebida!”, e arengou bem alto, de modo que todos os agourentos da Ágora o ouvissem:
            – Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.
            Referia-se a este angu de caroço em que estamos metidos. Referia-se a esta rocha Tarpeia na beira da qual estamos suspensos por um fio de cabelo. Referia-se a esta comédia em que se transformou o palco iluminado de nossas vidas.
            E deitou de costas, já que era sábio e de besta não tinha nada.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

NOTA DO MOVIMENTO “MÉDICOS PELA DEMOCRACIA” EM DEFESA DA ÉTICA E HUMANISMO NA MEDICINA

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Ilustração: Girafa
NOTA DO MOVIMENTO “MÉDICOS PELA DEMOCRACIA” EM DEFESA DA ÉTICA E HUMANISMO NA MEDICINA
(Em repúdio a atitudes intolerantes e agressivas de colegas médicos relativas ao padecimento, agonia e morte de Dona Marisa Letícia Lula da Silva)
Nós, Médicos pela Democracia, defendemos que a Medicina seja exercida com ética, humanismo e compaixão ativa no cuidado com o ser humano.
Para isto é preciso observar quatro princípios da Bioética: a autonomia, respeitando as escolhas do paciente, sempre que possível, ou da família, quando de sua incapacidade de decidir; beneficência, que se refere à obrigação ética de maximizar o benefício do ato médico e minimizar o prejuízo; não-maleficência, que proíbe infringir dano deliberado, evitando agravos à saúde do paciente; justiça, que é a obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é correto e adequado e dar a cada um o que lhe é devido.
Temos que observar um quinto princípio fundamental, previsto no Código de Ética Médica-2009: “o médico guardará sigilo a respeito das informações que tenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em Lei”.
Defendemos, portanto, que o exercício da Medicina seja uma celebração à vida, às relações humanas solidárias, numa prática amorosa da compaixão ativa, na busca da superação do sofrimento físico e psíquico das pessoas que suportam agravos à sua saúde.
Por defendermos estes princípios é que, nós Médicos pela Democracia repudiamos veementemente a postura de intolerância, desprezo pela vida e injúria moral por parte de alguns colegas médicos, feitas publicamente em Redes Sociais, ao debochar da cidadã brasileira Marisa Letícia Lula da Silva, esposa do ex-presidente Lula, quando do seu adoecimento grave, agonia e morte.
Estes colegas, lamentavelmente, expuseram ideias fascistas, zombaram de uma pessoa em grave sofrimento, sendo que um deles propôs omissão de socorro e conduta lesiva que causaria a morte.
Que mal Dona Marisa causou a estes raivosos, desumanos e intolerantes médicos?
Nossa indignação e repúdio às atitudes destes colegas nos faz pedir formalmente ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo para iniciar imediatamente processo ético contra estes colegas, por infração ao Código de Ética Médica, assegurando o direito de ampla defesa:
1 – G.A.M. – Reumatologista do H. Sírio Libanês – por divulgar dados sigilosos
2 – P.P.S.F – por repercutir informações de G.A.M. e divulgar Tomografia comentada que seria de Dona Marisa
3 – R.F.H. – Neurocirurgião que propôs “romper o procedimento. Daí já abre a pupila. E o capeta abraça ela”.
Omitimos os seus nomes por exigência do Código de Ética Médica, que recomenda discrição para que a denúncia seja cabalmente aceita e examinada, mas os três são facilmente identificáveis pelas noticias dos jornais de São Paulo.
Em defesa da Ética, do Humanismo e da Compaixão ativa no exercício da Arte da Medicina
Em defesa de uma sociedade justa, fraterna e de paz!
#SomosTodosPelaVida
#MenosÓdioMaisAmor
03 de Janeiro de 2017
Movimento “Médicos pela Democracia”

Médicos repudiam atitudes de colegas: Que mal Dona Marisa causou a estes desumanos?

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Foto: Christian Braga, para os Jornalistas Livres
NOTA DO MOVIMENTO MÉDICOS UNIDOS
Pela ética, contra a banalidade do ódio
Inicialmente prestamos nossa homenagem a Dona Marisa Letícia, falecida hoje no Hospital Sírio e Libanês em São Paulo, expressando nossa solidariedade a toda a sua família e inúmeros amigos e antigos companheiros.
Dona Marisa foi uma ilustre cidadã brasileira, operária, sindicalista, militante política, mãe de família e dona de casa, primeira-dama do Brasil durante 8 anos.
Como médicos, também nos solidarizamos com sua família e lamentamos sua partida precoce, aos 66 anos, vitimada por um acid ente vascular cerebral, provavelmente atribuível, pelo menos em parte, ao enorme processo de estresse pessoal a que a paciente vinha sendo submetida nos últimos dois anos.
Assistimos com estarrecimento à manifestação e comportamento de diversos colegas de profissão durante o triste episódio da internação e morte de Dona Marisa.
A médica que divulgou imagens da tomografia cerebral da paciente; o médico que se manifestou em redes sociais dissertando sobre o método que garantiria o fracasso da terapêutica e aceleraria a morte; redes sociais de médicos fazendo troça com a imagem do defeito físico do marido da paciente, o ex-presidente Lula, comprazendo-se com o momento de dor do familiar.
Os exemplos são, infelizmente, inúmeros, constituindo um triste monumento iconográfico ao ódio, à intolerância e à absoluta incapacidade ética e humanista para tais profissionais exercerem a medicina.
A medicina não é uma profissão melhor que nenhuma outra. Todo trabalho humano é digno, e capaz de produzir o sentimento de orgulho e pertencimento ao esforço comum dos seres humanos em melhorar a vida e buscar a felicidade. Por isso, é preciso respeitar, proteger, dignificar o trabalho, nas inúmeras esferas da atividade humana.
Não sendo melhor que nenhuma outra, a medicina tem, entretanto, especificidades que lhe são essenciais. O médico escolhe esta profissão em nome da defesa da vida, não da morte. Da reabilitação, não da desqualificação e do estigma. Da dignidade do paciente, qualquer que seja ele, não do desrespeito e ofensas. Justamente por lidar com o cuidado a pessoas fragilizadas pela situação de doença, não se concebe um médico que não tenha uma visão humanista e solidária, empática, com o sofrimento.
Isto não tem relação com a posição política do médico. Como qualquer cidadão, ele terá suas escolhas ideológicas, sua visão de mundo, suas perspectivas de projeto de vida, sua filiação a segmentos partidários. De direita, de centro ou de esquerda. De apoio a projetos autoritários de condução da política. De desacordo radical com o modo de conceber a política dos partidos de esquerda. É um direito de todos terem e manifestarem suas posições políticas.
Mas não se deve reconhecer o direito, em nenhum cidadão ou cidadã, de nenhuma profissão, de expressarem suas posições políticas através do ódio, preconceito e intolerância. Isto se torna mais grave quando o cidadão que é médico lança mão de argumentos de sua profissão para expressar este ódio.
Vivemos no Brasil um caldo de cultura de ódio e intolerância, acentuados vertiginosamente a partir de 2014, e vinculados a um debate político que não se dá no plano da política, mas sob a forma de guerra, confronto, desqualificação das diferenças do outro.
Esta cultura do ódio e intolerância é nutrida e sustentada pela inaceitável coalização de parte de instituições do Estado (Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal) com os grupos dominantes da mídia, sob liderança do conglomerado Globo de rádio, TV e jornais.
Ações espetaculares de exposição vexaminosa de pessoas sob investigação, e o fornecimento de material sigiloso para ampla divulgação em telejornais são ferramentas de disseminação da intolerância e alienação.
A narrativa, repetida obsedantemente, de desqualificação da política e do pensamento de organizações de esquerda e dos movimentos sociais, produz as condições materiais e objetiv as sem as quais os efeitos da psicologia de massas do ódio e da intolerância não teriam emergido da forma tão assustadora como vem ocorrendo no Brasil.
Mas os determinantes políticos e institucionais da disseminação da cultura do ódio e intolerância não absolvem os indivíduos da responsabilidade por seus atos. Os médicos que disseminam e propagam esta cultura são responsáveis pelo que fazem. Infringem a ética das relações humanas, e a ética da profissão médica.
Cabe aos Conselhos Regionais e Nacional de Medicina saírem de sua posição contemplativa, e assumirem a responsabilidade de zelar pela ética da profissão médica.
Porém, mais do que uma tarefa de conselhos profissionais, cabe a todos nós, médicos e cidadãs e cidadãos brasileiros, iniciarmos um amplo movimento de reconstrução das bases solidárias e humanistas da sociedade. Antes que seja tarde demais.
Rio de Janeiro, 03 de fevereiro de 2017
MOVIMENTO MÉDICOS UNIDOS

Manoel Olavo Teixeira: Quando o corporativismo médico avança no pântano 05 de fevereiro de 2017 às 23h35 / retirado do VIOMUNDO

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Os médicos brasileiros e a morte da ex-primeira-dama
“Alguns colegas médicos conseguem superar-se em sua desumanidade – ultrapassando de longe o comportamento abjeto de manipular pacientes em consultas para votar contra o PT (lembrem-se de 2014) ou de recusar-se a atender ‘petistas”
Recebi e publico o texto do médico Manoel Olavo Teixeira. Trata-se de uma observação que, infelizmente, precisamos fazer a alguns profissionais da Medicina que abandonaram o senso ético. Algo lamentável sob qualquer ponto de vista, seja humano, seja cidadão.
Leia, adiante, o texto irreparável de Manoel Olavo Teixeira*:
Não tem sido raro ver médicos se divertindo ou fazendo piadas sádicas às custas da doença e morte de Dona Marisa. Algumas destas abominações vazaram para as redes sociais. Pra quem usa branco, não é preciso ir muito longe para ouvir piadinhas de mau gosto sobre o caso, contadas por algum colega – (antes que alguém faça graça: não, eu não uso branco. Psiquiatras usam roupas comuns, exceto em situações excepcionais).
A minha classe, por dever de ofício, deveria ter, no mínimo, algum pudor quanto a gozar sadicamente com o sofrimento e a morte de outro ser humano. A profissão médica envolve compromissos sérios. Não gosto de dizer o óbvio (Brecht dizia durante o nazismo: que tempos são esses em que é preciso dizer o óbvio?), mas o juramento de Hipócrates compromete o médico com a defesa e o respeito à vida, em sua acepção mais ampla. Sem distinção de pessoas. Falo de princípios básicos de humanismo e respeito ao sofrimento humano. De algo chamado ética médica, que estudamos em deontologia e diceologia, lá pelo 4 ano do curso de medicina. Lembram-se?
Vergonha
Porém, de novo, alguns colegas conseguem superar-se em sua desumanidade — ultrapassando de longe o comportamento abjeto de manipular pacientes em consultas para votar contra o PT (lembrem-se de 2014) ou de recusar-se a atender “petistas”. Mais uma vez, uma parcela de minha classe me enche de vergonha. Sinto algum alívio por saber que existem respeitáveis exceções. Felizmente, com muitas delas tive e tenho o prazer de compartilhar meu percurso profissional.
Há alívio, sim, mas permanece o choque de perceber que muitos médicos brasileiros estão agindo como monstros morais. Muitos deles são jovens recém-formados. Acham que sua adesão à militância de direita antipetista justifica qualquer tipo de atrocidade, mesmo ética ou profissional, para tripudiar sobre o suposto inimigo.
Corporativismo
De repente, me ocorreu que, nos primeiros anos de ascensão do nazismo, o maior número de militantes do partido nacional socialista era composto por médicos. Que contribuíram decisivamente na elaboração das teorias de superioridade racial ariana – principalmente psiquiatras, para não dizerem que estou sendo corporativo dentro do corporativismo. É a triste sina histórica da Medicina, fruto do oportunismo político e, sobretudo, da origem de classe da maior parte dos seus membros. Ao longo da história, a Medicina é uma profissão para os filhos da elite. É uma ciência, um conhecimento, um saber, uma arte, mas é também uma marca de distinção social e poder.
E não podemos nos esquecer que estamos no Brasil. O país onde seu coronel mandava o filho estudar Medicina (ou Direito) em Coimbra ou Montpellier, para voltar como doutor e somar credibilidade intelectual ao poder político do dono do grande latifúndio.
Médicos elitistas
Num país com o nível de desigualdade social e cultural como o nosso, o peso da distinção social conferido pela formação médica é ainda maior. Estudantes de Medicina de classe média baixa, rapidamente, incorporam valores conservadores, argentários e consumistas durante sua formação. Valores identificados como padrões característicos da elite brasileira. O compromisso ético e humanitário fica em segundo plano.
Não podemos nos esquecer que, entre outros crimes, os governos petistas mexeram nesse vespeiro. Pela primeira vez, em 31 anos de profissão, vi negros e pessoas de origem social humilde cursando graduação, residência e pós-graduação em medicina. Por razões evidentes, isto é imperdoável.
Pântano do fascismo
Apesar desta reflexão, uma pergunta fica ecoando em meus ouvidos. É possível entender um médico assumir posições conservadoras, na defesa de seus valores corporativos e meritocráticos? É possível entender um médico desumanizar-se por colocar o ganho financeiro como seu único valor? É possível compreender um médico jovem se identificar com os valores da elite, para perseguir sua sonhada ascensão sócio-econômica?
Mas eu não consigo entender como um médico pode, conscientemente, fazer chacota e festejar publicamente a morte dolorosa de uma mulher de 66 anos. Aí saímos do terreno da sociologia das profissões e entramos no perigoso pântano do horror fascista.
Este é o meu maior temor.
*Manoel Olavo Teixeira é médico.