quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Joaquim Barbosa veste Prada

Postado em 24 Jan 2014
Nosso parisiense
Nosso parisiense
E ficamos sabendo pela revista da qual Joaquim Barbosa é ídolo que, mesmo na Europa, ele acompanha tudo que se fala a seu respeito.
Pela Veja, ele mandou uma resposta ao advogado de João Paulo Cunha, que numa boa tirada dissera que ele fora dar um rolezinho em Paris.
JB disse que o advogado foi “desrespeitoso e preconceituoso”. Acusou-o de provincianismo por ignorar que “há 35 anos” frequenta a cidade.
Temos então que JB se considera um parisiense, ou quase. E parece acreditar que todos devem saber disso.
Não existe nada mais provinciano do que se gabar de ser um semiparisiense, ou coisa que o valha.
Mas JB parece gostar de projetar nos outros o que vê no espelho. Um artista no ofício de desrespeitar, ele acusou o advogado de ser desrespeitoso.
Isso no mesmo dia em que desrespeitou colegas de STF ao dizer que eles deveriam ter mandado prender Cunha. Transferiu, sem a menor cerimônia, um gesto seu de incompetência e desmazelo – esqueceu de assinar a prisão de Cunha — para os outros.
A impressão que se tem é que JB acreditou na adulação da mídia, por incrível que pareça, e se considera mesmo o menino pobre que mudou o Brasil.
A verdade é que ele não mudou sequer o Supremo, que sob sua presidência mais parece um circo do que um tribunal, mas mesmo assim ele transmite a impressão de se ter na conta de um transformador, de um inovador.
Quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington. E o fato é que JB parece acreditar, o que mostra sua envergadura intelectual.
A melhor imagem do rolezinho parisiense de JB foi uma foto que viralizou na internet sob o título de “O Diabo Veste Prada”.
Nela, nosso magistrado aparece não numa das celebradas livrarias parisienses, não num dos tão conhecidos debates filosóficos de Paris – mas fazendo compras numa loja com artigos da Prada, com um chapéu que lhe dá o ar de um parisiense refinado, e não de um turista ávido por torrar euros.
Também pela revista que o idolatra, descobrimos que alguém lhe perguntou em Paris se seria candidato à presidência em 2014. Melhor: ele disse a alguém da Veja que lhe perguntaram isso.
Bem, seria até engraçado ver JB enfrentar o teste das urnas e dos debates, em que ficaria exposto a questionamentos sobre tantos absurdos que comete, dos 90 mil reais da reforma dos banheiros do apartamento funcional às diárias embolsadas durante as férias na Europa.
Mas ele não tem votos senão num grupo conservador que não tem conseguido eleger sequer prefeito em São Paulo.
É mais fácil imaginá-lo, no futuro, dando novos rolezinhos na Europa.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Publicidade, vedetismo e deslumbramento: é hora de acabar com a transmissão de sessões do STF

Hora de acabar com isso
O artigo abaixo, de autoria do jurista Dalmo de Abreu Dallari, foi publicado no site Observatório da Imprensa.
A experiência que já se tem da transmissão ao vivo – ou, segundo a gíria dos meios de comunicação, da transmissão em tempo real – das sessões do Supremo Tribunal Federal deixa mais do que evidente que essa prática deve ser imediatamente eliminada, em benefício da prestação jurisdicional equilibrada, racional, sóbria, inspirada nos princípios jurídicos fundamentais e na busca da Justiça, sem a interferência nefasta de atrativos e desvios emocionais, ou de pressões de qualquer espécie, fatores que prejudicam ou anulam a independência, a serenidade e a imparcialidade do julgador.
A par disso, a suspensão da transmissão direta das sessões contribuirá para a preservação da autoridade do Supremo Tribunal Federal, livrando-o da louvação primária aos rompantes e destemperos emocionais e verbais de alguns ministros. A recreação proporcionada pela transmissão ao vivo das sessões do Supremo Tribunal equipara o acompanhamento das ações da Corte Suprema às manifestações de entusiasmo ou desagrado características das reações do grande público às exibições dos programas de televisão que buscam o envolvimento emocional dos telespectadores e a captação de consumidores para determinados produtos, recorrendo ao pitoresco ou à promoção de competições entre pessoas ou segmentos sociais sem maior preparo intelectual para a avaliação racional e crítica de disputas de qualquer natureza.
Como tem sido observado por estudiosos e conhecedores do Judiciário, o Brasil é o único país do mundo em que as sessões do Tribunal Superior são transmitidas ao vivo, proporcionando recreação aos que as assistem, pessoas que, na quase totalidade, não têm conhecimentos jurídicos e são incapazes de compreender e avaliar os argumentos dos julgadores e o real sentido das divergências que muitas vezes se manifestam durante o julgamento e que, em inúmeros casos, já descambaram para ofensas grosseiras e trocas de acusações absolutamente desrespeitosas entre os ministros do Supremo Tribunal Federal.
A prática dessas transmissões teve início com a aprovação pelo Congresso Nacional da Lei nº 10.461, de 17 de maio de 2002, que introduziu um dispositivo na Lei n° 8.977, de 6 de janeiro de 1995, que dispõe sobre o serviço da TV a cabo. Foi, então, acrescentada uma inovação, que passou a ser o inciso “h” do artigo 23, estabelecendo que haverá “um canal reservado ao Supremo Tribunal Federal, para divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos Serviços essenciais à Justiça”.
A utilização desse veículo de comunicação ganhou enorme ênfase, com absoluto desvirtuamento da idéia de serviço, quando assumiu a presidência do Supremo Tribunal o ministro Gilmar Mendes, que dirigiu a Suprema Corte de 2008 a 2010. Basta assinalar que no orçamento do STF para o ano de 2010 foram destinados 59 milhões de reais a “Comunicações Sociais”, quantia essa equivalente a 11% do orçamento total da Suprema Corte. Essa dotação superou em quase cinco vezes o orçamento anual do Tribunal Superior Eleitoral – e isso num ano eleitoral no Brasil, em que houve eleições de âmbito nacional.
Tem início, então, uma fase verdadeiramente degradante para a imagem da mais alta Corte do país, com o mais deslavado exibicionismo de alguns ministros e a transmissão, ao vivo de trocas de ofensas e de acusações grosseiras entre membros do Supremo Tribunal. Assim, em abril de 2010 ocorreu um diálogo extremamente áspero entre os ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. No debate transmitido para todo o Brasil, este acusou Gilmar Mendes de ser um deslumbrado, um praticante do vedetismo, dizendo, textualmente: “Vossa Excelência está diariamente na mídia, dirigindo palavras ofensivas aos demais ministros e destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”.
Dois anos depois, coube ao ministro Joaquim Barbosa presidir o Supremo Tribunal Federal e o que se tem observado, desde então, é que o vedetismo e o deslumbramento pelo prestígio entre os telespectadores, descaminhos que antes ele condenara, continuaram a marcar o desempenho do ocupante da direção da Suprema Corte e a ser a tônica na utilização do canal de televisão reservado ao Supremo Tribunal.
Por tudo isso é merecedor do mais veemente apoio o Projeto de Lei nº 7.004, de 2013, proposto pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP). De acordo com esse projeto, o referido inciso “h” do artigo 23 da Lei nº 8.977 passará a ter a seguinte redação: “Um canal reservado ao Supremo Tribunal Federal para a divulgação dos atos do Poder Judiciário e dos seus trabalhos, sem transmissão ao vivo e sem edição de imagens sonoras das suas sessões e dos demais Tribunais Superiores”.
O projeto poderia ser mais veemente, dispondo textualmente: “Vedada a transmissão ao vivo”, mas esse é um pormenor. O que é de fundamental importância é a eliminação das degradantes e desmoralizadoras transmissões ao vivo das sessões do Supremo Tribunal Federal, restaurando-se na mais alta Corte brasileira uma atitude de sobriedade, de respeito recíproco entre seus integrantes, sem os desníveis estimulados pelo exibicionismo. E isso não trará o mínimo prejuízo para a prática da publicidade inerente ao Estado Democrático de Direito, que deverá ser ética, em linguagem elevada e respeitosa, transmitindo o essencial das decisões e dos argumentos dos ministros, inclusive das divergências, a fim de que prevaleçam os interesses da Justiça.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

KASSAB, esse "santinho"

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Kassab recebeu "fortuna" da Controlar, diz testemunha da máfia do ISS

Dinheiro teria ficado guardado no apartamento do ex-prefeito até que a empresa passou a ser investigada pelo MPE

Bruno Ribeiro - O Estado de S. Paulo

Uma testemunha protegida afirmou em depoimento ao Ministério Público Estadual (MPE) que o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab (PSD) recebeu "uma verdadeira fortuna" da empresa Controlar, responsável pela inspeção veicular na capital, e que o dinheiro ficou guardado em seu apartamento até que a empresa passou a ser investigada pelo MPE. Quando isso ocorreu, ainda segundo a testemunha, Kassab pediu ajuda ao empresário Marco Aurélio Garcia, irmão do secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Garcia, para levar o dinheiro até uma fazenda no Mato Grosso, de avião.

O auditor fiscal Ronilson Bezerra Rodrigues, investigado por supostamente liderar a máfia do ISS, disse à testemunha "em tom de anedota, que o avião teve dificuldade de decolar em razão da quantidade de dinheiro embarcada", de acordo com o depoimento, que consta no Procedimento Investigatório Criminal (PIC) 03/2013 do MPE, que apura a máfia do ISS.

O contrato da Prefeitura com a Controlar é questionado pelo MPE por ter sido assinado de forma irregular. A contratação da empresa, em 2007, foi feita a partir de uma licitação na gestão Paulo Maluf, em 1996, que estava congelado. Para a Promotoria, deveria ter sido feita uma nova licitação.

A testemunha relatou estreita ligação entre Kassab e Rodrigues. Disse que o escritório que os fiscais da máfia do ISS usavam, no Largo da Misericórdia, centro da capital, chamado de "ninho", era usado por Kassab antes de a máfia ocupar o imóvel. O locatário da sala é Marco Aurélio. O secretário Garcia foi, durante anos, o principal aliado político e sócio de Kassab. Ambos faziam campanha juntos e só romperam politicamente em 2011.

Segundo o relato, Kassab chegou a ignorar denúncias de corrupção na Secretaria Municipal de Finanças, a pedido de Rodrigues. "Em dada situação, Kassab recebeu uma fita de filmagem em que um auditor fiscal havia achacado uma empresa de segurança. Diante daquela prova cabal de corrupção, Ronilson pediu que Kassab não prosseguisse com a investigação porque o auditor seria um amigo seu. Kassab acolheu a justificativa mas determinou que Ronilson 'segurasse seu pessoal, pois estamos em ano eleitoral'", diz o depoimento.

Em outro trecho, a testemunha afirma que "Kassab pediu que Ronilson fosse a uma reunião com representantes de empresas no restaurante Girarrosto. Ronilson perguntou a Kassab do que se tratava e o Prefeito lhe disse: 'vai lá e resolve, cumpra as minhas ordens'. Ronilson foi até o local e inteirou-se do assunto descobrindo que na verdade era um pedido para que fosse abortada uma fiscalização em um determinado estabelecimento. Ronilson cumpriu a ordem". O relato segue. "Kassab perguntou para Ronilson quanto poderia ser cobrado da empresa e Ronilson disse que poderiam ser cobrado milhões."

Os fatos trazidos pela testemunha serão analisados pelo Ministério Público Estadual, que investiga tanto a máfia do ISS quanto a Controlar, em procedimentos diferentes.

sábado, 11 de janeiro de 2014

TODO APOIO AO CHICO VIGILANTE. QUE OS DEMAIS PARLAMENTARES DO PT SIGAM SEU EXEMPLO.

Leia, abaixo, o artigo divulgado ontem à noite por Chico Vigilante:

STF : DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS
Seus ministros decidem quando é a momento ideal para que se cumpra a Constituição

A decisão do STF de desmembrar a ação que investiga a formação de cartel em licitações do Metrô e da CPTM durante governos do PSDB no estado de São Paulo é uma prova cabal de que, no Brasil que vivemos hoje, a Suprema Corte usa de dois pesos e duas medidas para realizar seus julgamentos, transformando-os com o testemunho de toda a sociedade brasileira, em decisões políticas acima de tudo.

Com a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, apenas os envolvidos na denúncia que têm direito ao chamado foro privilegiado serão julgados pela corte suprema (quatro, de dez réus). No caso dos outros seis réus, o processo volta para a Justiça Federal de São Paulo.

Agora sim, ao julgar o processo do cartel tucano, o STF decide cumprir o que diz a lei. Por que não fez o mesmo quando julgou a ação penal 470 ? Por que motivo negou a todos os advogados de defesa dos réus não parlamentares o pedido legal e de acordo com a Constituição de que deveriam ter o direito de ser julgados por tribunais de primeira instância dando a eles o sagrado direito de recorrer, caso necessário, as instancias superiores?

A decisão do STF atual fará com que, na prática, os envolvidos no esquema de propina em governos do PSDB que não ocupam cargos políticos tenham direito a recorrer a outras instâncias da Justiça.

Por que isso foi negado por exemplo a José Dirceu, a Delúbio Soares, a Henrique Pizzolato? Por que não se cumpriu a Constituição, segundo a qual apenas têm foro privilegiado parlamentares, ministros, presidente e vice?

Por que naquele momento Joaquim Barbosa e seus pares entenderam que não era um bom momento para se cumprir a lei e agora em relação aos envolvidos do tucanato chegou a hora de se obedecer a Constituição?

No caso, apenas três de 38 réus da Ação penal 470 tinham prerrogativa de foro especial, por serem parlamentares: os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP).

Será porque a Ação Penal 470, o chamado 'mensalão', envolvendo dirigentes petistas, teria mais chances de se transformar no escândalo da década e prejudicar os governantes petistas se fosse julgado pela corte maior do país – onde seria dada a palavra final sobre os inimigos dos tucanos ? É obvio que sim.

Todos aqueles que querem ver estão percebendo que Joaquim Barbosa está usando a toga e a exposição que alcançou na mídia para alçar vôos maiores. E tem mostrado que sabe ser cruel com seus inimigos.

Me espanta sua capacidade demonstrada com a tortura psicológica que vem utilizando em relação a José Genoino e mais recentemente ao deputado João Paulo Cunha. Pauta a imprensa afirmando que decretou sua prisão mas nem mesmo expediu o mandato ao mesmo tempo que sai de férias e diz que não teve tempo de mandar prender Roberto Jefferson.

É chegado o momento dos injustiçados da Ação penal 470 se dirigirem às cortes internacionais a fim de reivindicarem seus direitos e desvendar ao mundo a farsa deste julgamento. O que está em jogo neste momento não é apenas a defesa de membros do PT, mas a garantia da democracia e do cumprimento da Constituição brasileira.

Nós brasileiros, todos aqueles que enfrentamos o arbítrio dos fuzis da ditadura em defesa deste pais, não podemos aceitar agora o arbítrio de um juiz e de seus pares na Corte Suprema do Brasil.

Chico Vigilante é deputado pelo PT do DF

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A barbárie e o seu ventre Quando se evoca as agências de risco para intimar o Estado a cortar programas sociais e garantir o dos rentistas, que futuro estamos projetando para o Brasil?

por: Saul Leblon 



Coube ao editor de Carta Maior, Marco Aurélio Weissheimer, esticar o olhar para além do muro da conveniência que acomoda a questão prisional brasileira num círculo de ferro feito de superlotação, precariedade, guerra de facções e barbárie.

As cinco palavras selam a vida de 500 mil pessoas que subsistem do lado de dentro, mas não esclarecem o conjunto que interliga o seu destino ao dos demais 189,5 milhões que completam a sociedade do lado de fora.

São destinos entrelaçados, adverte  Weissheimer  na análise ‘O Presídio Central e a nossa vida do lado de fora’ (leia nesta pág).

Sua reflexão joga água fria no foco conservador que prefere  circunscrever o debate ao bordão da flacidez administrativa. Sobretudo quando essa dimensão real do problema – insuficiente  para entendê-lo, porém, e sobretudo para equacioná-lo— interliga a  barbárie a administrações associadas ao governo petista.

A série de 14 decapitações ocorridas na Penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, de onde facções comandam atentados que resultaram na morte de uma criança, no último fim de semana, enquadra-se nesse gênero.

Atribuir à exclusiva incompetência tucana o poder do PCC  em São Paulo pertence ao mesmo reducionismo, no caso de extração petista.

Não se avalize o diagnóstico protelatório segundo o qual, por ser um espelho da sociedade, as prisões somente serão dignas para redimir quem delinquiu, quando dignas forem todas as relações ordenadoras da sociedade.

É tudo verdade.

Mas o que distingui uma biblioteca de um projeto político é justamente a construção das linhas de passagem que fazem do presente o fiador premonitório de um futuro melhor que a mera reprodução do passado.

É nesse ponto que cabe arguir a honestidade da aflição conservadora com a sorte dos encarcerados brasileiros.

O que ela prescreve para a sociedade que está do lado de fora guarda coerência com o sentimento de urgência em relação aos que estão confinados?

Mais de 95% do contingente carcerário brasileiro vem das camadas pobres e excluídas da população; não há levantamentos oficiais  –e isso já diz muito sobre o sistema--  mas se calcula que 90% dos detentos voltem a delinquir, ao recuperarem a liberdade.

Mais de 40% da população carcerária está estocada em prisões provisórias, onde a lotação passa de cinco presos por vaga.

Convenhamos, quando se intima o Estado brasileiro a cortar a gastança (leia-se, programas sociais) para assegurar o juro dos rentistas; ou se sabota o reajuste do IPTU, sonegando-se R$ 800 milhões à educação, saúde e mobilidade urbana, como fez a coalisão tucano-plutocrática em SP, que futuro carcerário estamos projetando para o Brasil do século XXI?

 Um futuro de prisões em massa dos excluídos, talvez?

Há precedentes.

Negros representam 12,5% da população  total norte-americana; mas somam 40% da maior população carcerária da face da terra (2,5 milhões de presos).

Estamos falando de um milhão de negros trancafiados -- contingente superior ao da população escrava dos EUA no século XIX.

O desemprego é um vínculo esférico a unir a condição de negro a de detento nos EUA.

A proporção de negros desempregado (12,6%) é quase o dobro da de brancos (6,6%) ; há 50 anos a diferença era de quatro pontos.

A pobreza é outro elo: cerca de 10 milhões dos 41 milhões de negros norte-americanos vivem na pobreza.

Quando a mídia conservadora e os menestréis do tripé convocam agencias de risco a endossarem o veredito de um Brasil aos cacos, que pontes  estamos erguendo para impedir a cristalização de igual destino?

Recapitulemos.

Quando a tempestade neoliberal despencou, em 2007/2008, o Brasil resistiu ao naufrágio com boias que exigiram gastos fiscais da ordem de R$ 400 bilhões.

O país criou mais de 12 milhões de empregos desde 2007. A título de comparação: Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal, coagidos a adotar o arrocho ortodoxo, viram desaparecer 15% de suas vagas desde 2012.

Encurralar a sucessão de 2014 em um ambiente contaminado pela represália iminente das agências de risco e dos investidores à ‘derrocada fiscal’ é o palanque daqueles que prometem fazer mais e melhor dobrando a aposta nos mandamentos do Consenso de Washington.

‘Não é que não deu certo; não foi bem aplicado’, já se afirma nas entrelinhas da emissão dominante.

Os que incitavam o governo a jogar o país ao mar em 2008,  agora retrucam que o custo de não tê-lo afogado na hora certa acarretou custos insustentáveis.

Colunistas isentos e economistas tucanos --de sabedoria comprovada pelos resultados obtidos em outras  crises, endossam o clamor pela eutanásia.

Recomenda-se vivamente beber a cota do dilúvio desdenhada irresponsavelmente de um gole só.

A indignação seletiva diante da barbárie nas prisões soa assim como uma nota fora do lugar no grande baile da restauração.

Ardilosa, talvez seja um predicado mais justo para a harmonia da orquestra que não desafina nunca.

O país precisa de investimento público e privado para adequar sua indústria e infraestrutura ao mercado de massa nascido nos últimos anos.

Nada que se harmonize do dia para a noite.

O crucial é erguer as linhas de passagem, pactuar  custos, definir prioridades, assumir ônus e  acordar prazos.

A se restituir a receita rentista, como exige o jogral incansável,  sobra uma pinguela estreita e oscilante para o futuro.

Um ano de juro da dívida pública equivale a 71 anos de merenda escolar diária para 47 milhões de crianças e adolescentes da rede pública brasileira.

É só uma ilustração.

Mas também é a síntese das proporções em jogo na arquitetura que será preciso escolher.

Na deles não cabe o Brasil.

Nem o que está fora das grandes -- quanto mais o que sangra dentro delas.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Até quando vão torturar Genoino?

Que justiça é essa?
Que justiça é essa?
Para ver quanto é absurdo o que estão fazendo com Genoino, basta atentar para o seguinte.
A Globo deve cerca de 1 bilhão de reais – comprovadamente – por conta de uma trapaça fiscal na compra dos direitos da Copa de 2002.
E ninguém cobra – embora tudo esteja documentado.
Os três irmãos Marinhos, como mostra a revista americana de negócios Forbes, são donos, juntos, da maior fortuna do país, superior a 50 bilhões de reais.
Mesmo assim, com tanto dinheiro, a Globo não paga o que deve e ninguém cobra.
Genoino, em compensação, acaba de receber da Justiça dez dias para pagar uma dívida de 468 mil reais por ter feito alguma coisa que ninguém sabe o que é, tais e tantas as incoerências do processo do Mensalão.
A retirada mensal dos Marinhos é, certamente, bem superior aos 468 mil reais cobrados de Genoino.
Mas para Genoino é um dinheiro que ele simplesmente não tem.
Seu patrimônio, como sabe a Justiça, consiste de uma casa modesta num bairro classe média de São Paulo, o Butantã.
Contra a Globo, a Justiça é pusilânime.
Contra Genoino, é um leão.
Não bastasse tudo, Genoino convalesce de um problema cardíaco sério. Parece que a cada semana decidem atormentá-lo, como que para testar seu coração combalido.
No final do ano, Joaquim Barbosa, em seu melhor estilo natalino, negou a ele que pudesse ficar em sua casa em São Paulo para cumprir sua prisão domiciliar temporária.
Por quê? JB falou em “interesse público”, mas quem acredita nisso acredita em tudo, como disse Wellington.
Não bastasse, JB deu a entender que em fevereiro Genoino volta à cadeia. Isso significa que Genoino está enfrentando uma torturante contagem regressiva. Cada hora que passa é uma hora a menos para ele no convívio com os seus.
Insisto: tudo isso sem que haja culpa comprovada. Tudo isso enquanto ninguém dá satisfações sobre meia tonelada de cocaína encontrada num helicóptero de um amigo de Aécio.
Isto é o Brasil que a Globo ajudou tanto a construir: injusto, abjeto, sem nexo. Rigor contra quem está no chão, complacência com os verdadeiramente poderosos.
Querem minha opinião? Lula poderia fazer três ou quatro palestras — o necessário para juntar os 468 mil —   e doar o dinheiro para Genoino. Não porque Lula inventou JB, embora isso também conte, mas porque seria uma solução simples e eficaz para o problema.
Em sua histórica investida contra Catilina, um senador que conspirava para se tornar ditador de Roma, Cícero clamou: “Até quando você vai abusar da nossa paciência?”
Pois é.
Até quando este Brasil iníquo vai abusar da nossa paciência?
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

do Blog Chuta que é Macumba

29 novembro 2013

Pacaembu, pedaço de mim


Chegamos ao fim de uma era. Amanhã, no dia 30 de novembro de 2013, o Estádio Municipal do Pacaembu deixará de ser a casa oficial doCorinthians. É representativo o adeus, já que ele simboliza mais que a simples mudança de endereço. Trata-se da pedra fundamental para deixarmos de ser o Time do Povo, outrora vislumbrado pelos nossos ancestrais, e iniciarmos vida nova como um empreendimento com objetivos meramente financeiros e sobrepostos ao caráter de mobilização social, política, cultural e esportiva que nortearam nossa fundação.

Indício mais gritante desse direcionamento é o pouco caso com que a data está sendo tratada pela diretoria e, principalmente, pela Fiel Torcida. Preferem homenagear um dos grandes responsáveis pela crise ideológica disseminada no Parque São Jorge a festejar e agradecer tudo aquilo que o Pacaembu nos proporcionou. O corinthiano, sempre grato aos seus heróis, hoje desdenha um dos seus maiores aliados.

Foi no Pacaembu onde experimentei algumas das principais emoções da minha vida. Sorri, comemorei, chorei, me decepcionei, fiquei com raiva, apanhei, apartei briga, fiquei rouco, gritei mil vezes Corinthians. Ali, naquele cimento da sagrada arquibancada, forjei minha cidadania e minha ética, aprendendo com os mais velhos e tentando passar aos mais novos algo que só vejo em estádios: a irmandade. Quantas não foram as lições desde o dia 07 de abril de 1993, quando pisei pela primeira vez no Municipal e percebi que era onde eu precisava estar durante toda minha vida. (A gente é ingênuo na adolescência)

E a festa, meus caros? As bandeiras, rojões, papéis higiênicos, aquela fumaça de cigarro e maconha, o cenário perfeito. Os canalhas que comandam o futebol podem tentar acabar com o esporte, mas não com a memória. Toda vez que atravesso o Portão Principal, lá estão a minha esquerda os Gaviões da Fiel. Mais ao centro (não há as malditas cadeiras laranjas nessa minha digressão), abaixo das cabines de rádio do interior, o Ribeiro faz seu corre com a Explosão Coração Corinthiano. Acho que era ali onde Dona Elisa costumava ficar, e com certeza era dali que o Seu Tantan comandava o furdunço. Caminhando em direção ao Tobogã, está a Camisa 12 que, aliás, era recheada de comunista, isso eu vim saber depois. Quase lá no fim da ferradura da arquibancada, eis os Loucos da Fiel. Acima do Principal, a recentePavilhão 9 começa a tomar corpo. À direita, a lendária e folclórica Torcida da Curvinha divide espaço com a Chopp. Era pano de Corinthians para todo lado. E quando as baterias desciam e faziam o aquecimento? E as assembléias no final do jogo? E o Alambrado, o importantíssimo alambrado? E a churrascaria na descida da escadaria (sempre quis ter dinheiro para comer lá antes do jogo)? E quando vendia cerveja? E os vendedores de amendoim? Lembranças, grandes lembranças!

Cada corinthiano sabe de cor e salteado o seu próprio Pacaembu e é esse significativo laço afetivo que será cortado no próximo sábado. São milhões de histórias que se cruzam na Praça Charles Miller para uma gelada, que se abraçam na hora do gol, que sofrem com as derrotas doídas e que, acima de tudo, tornam o Corinthians cada vez maior e melhor. Me pego imaginando o Pacaembu do vô Venâncio, que saía lá da sua cidade e viajava 12 horas de trem para ver o seu Timão. Bóia-fria com uma dúzia de filhos para sustentar, ele fazia seu sacrifício e sempre conseguia separar o caraminguá do seu dever corinthianista.

Agora, fecha-se o ciclo para os vôs Venâncios, porque Itaquera não terá esse "público-alvo". O Corinthians embarca no sonho da classe média de ter seu imóvel em troca de uma dívida que consumirá o resto de nossas vidas, só para ficar bonito com a vizinhança. A visita não vai reparar na bagunça e todos permanecerão sentadinhos e comportados em seus lugares. Tudo simplesmente pelo ter, pela posse que, no final, não vale nada.

O velho Pacaembu é um estorvo para dirigentes, imprensa e poder público. Chama muito o povo, iguala muito o povo, e o povo junto e igualado é perigoso se não for domesticado. Assim, o destino do Pacaembu já está reservado e será, provavelmente, o mesmo de todos que ainda prezamos por alguma dignidade no futebol. É por isso que, no sábado, sairei do Estádio Municipal com um vazio no peito que nunca mais irei preencher. 

Deste humilde filho que à casa promete tornar fica o agradecimento. Obrigado, Pacaembu! Você me trouxe humanidade, encorpou a minha alma, me deu amigos e serviu até para eu afogar mágoas que nada tinham a ver contigo. Você é um gigante. Inesquecível Pacaembu! Amo você, Pacaembu! Mesmo que daqui para frente não nos vejamos com freqüência, você estará para sempre aqui dentro.

É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! É PACAEMBU! 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Miruna é minha Personalidade do Ano


Postado em 21 Dec 2013
O artigo abaixo, de minha autoria, foi publicado originalmente no site Carta Maior.
Com uma aluninha na Escola da Vila
Com uma aluninha na Escola da Vila
Miruna. Poucas pessoas me impressionaram tanto, em 2013, quanto Miruna, a filha de Genoino.
As circunstâncias revelam a pessoa, sabemos todos. E no drama de seu pai, perseguido implacavelmente por Joaquim Barbosa e defendido tibiamente pelo PT, Miruna se mostrou um colosso.
Quem haveria de supor que por trás de uma jovem mulher tão doce e tão delicada estava uma leoa? Sua ira santa passará para a história como um testemunho do suplício ignominioso imposto a um homem que dedicou sua vida à luta por um país socialmente justo.
O drama de Genoino tem extremos de caráter. De um lado, você tem Joaquim Barbosa, impiedoso, vingativo, um homem que parece se comprazer no sofrimento alheio.
Joaquim Barbosa é o antibrasileiro, a negação da índole generosa e cordial dos filhos do Brasil. É também, para lembrar um grande morto destes dias, o anti-Mandela. Joaquim Barbosa promove a discórdia, e Mandela personificou a concórdia. Barbosa é um deslumbrado, um alpinista social. Mandela conservou a simplicidade sempre, mesmo quando já era claro que fora um dos maiores homens de seu tempo.
A Joaquim Barbosa, no caso de Genoino, se contrapõe Miruna. Se ele é um exemplo negativo para os brasileiros, ela é o oposto. Miruna representa o que há de melhor no caráter humano: a paixão pela justiça, a perseverança na defesa de seus ideais, a devoção filial, a capacidade de se indignar diante de absurdos.
Num plano maior, o que estamos vendo nas ações de Joaquim Barbosa e de Miruna em torno de Genoino é o enfrentamento entre duas forças antagônicas.
Barbosa tem o poder. Miruna tem a verdade. Barbosa é o ódio. Miruna é o amor. Neste tipo de luta, o veredito costuma ser dado pelo tempo. Ainda que o poder prevaleça momentaneamente, a verdade se impõe com o correr dos longos dias.
Miruna é, também, uma lembrança doída da falta de combatividade do PT. É um embaraço para o partido que a voz que se ergueu valentemente contra a perseguição cruel a Genoino seja a de Miruna, e não a de seus líderes.
A prioridade um, dois e três do PT é a reeleição de Dilma, e com isso Genoino foi posto de lado. Talvez só seja efetivamente lembrado em caso de morte.
Miruna tem razão em dizer que sente vergonha do seu país. Os inimigos massacram seu pai. Os amigos se calam, ou emitem balbucios irrelevantes.
Numa perspectiva histórica, falta ao PT o que sobrou em Hugo Chávez e sobra em Cristina Kirchner: a coragem de quebrar muros e, com eles, resistências ao avanço social.
Chávez retirou a concessão de uma emissora que patrocinou uma tentativa de golpe contra ele. Kirchner não descansou enquanto não colocou de joelhos o grupo Clarín, obrigado enfim, depois de anos, a abrir mão de seu monopólio.
No Brasil do PT, a Globo segue impávida – recebeu 6 bilhões de reais em verbas publicitárias estatais nos últimos dez anos — e com ela os três ou quatro grupos que controlam a mídia brasileira.
É nesse universo que Miruna combate seu combate – numa solidão desesperadora que a história registrará como um dos mais lindos momentos de um tempo sob tantos aspectos frustrante.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.