segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Homem forte de Serra e Kassab tem o sigilo fiscal quebrado

Não se abandona outro amigo ferido na estrada
CORRUPÇÃO NO METRÔ
Justiça Federal quebra sigilo bancário e fiscal de Andrea Matarazzo
Atual vereador paulistano, tucano ocupou cargos de primeiro escalão em governos do PSDB e teria se beneficiado de esquema de propina envolvendo empresas multinacionais
São Paulo – A Justiça Federal quebrou o sigilo bancário e fiscal de 11 pessoas investigadas no esquema de cartel, propinas e corrupção envolvendo o Metrô de São Paulo, a Companhia Paulista de Trens Urbanos (CPTM) e sucessivos governos tucanos no estado. As informações são dos sites Estadão e G1.
Entre os atingidos pela decisão judicial está Andrea Matarazzo (PSDB), que desde o fim dos anos 1990 tem ocupado cargos de primeiro escalão nos três níveis de governo.
No estado de São Paulo, Matarazzo foi secretário de Energia e presidente da Companhia Energética de São Paulo (CESP) e do Metrô.
No governo federal, foi ministro de Fernando Henrique Cardoso na Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
Na cidade de São Paulo, foi considerado o homem forte das gestões José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD), ocupando as secretarias de Serviços, de Cultura e de Coordenação das Subprefeituras.
Em reportagem de 2008, chegou a ser chamado pela revista Veja de “O xerife da cidade”. Hoje Matarazzo é vereador paulistano pelo PSDB.
As denúncias, produzidas pelo Ministério Publico Federal (MPF) a partir de investigações da Polícia Federal, envolvem negociações suspeitas com a multinacional Alstom a partir de 1998, quando o e governador de São Paulo era Mário Covas, do PSDB.
A quebra de sigilo foi pedida pelo MPF em 27 de agosto e aceita pela Justiça oito dias depois.
Abrange o período entre 1997 a 2000. Os pagamentos de propina teriam ocorrido nas áreas de transportes, energia e abastecimento.
Também foi determinada a quebra fiscal das empresas vinculadas aos investigados, inclusive sobre eventuais contas no exterior.
Além de Matarazzo, tiveram os sigilos quebrados Eduardo José Bernini, Henrique Fingerman, Jean Marie Marcel Jackie Lannelongue, Jean Pierre Charles Antoine Coulardon, Jonio Kahan Foigel, José Geraldo Villas Boas, Romeu Pinto Júnior, Sabino Indelicato, Thierry Charles Lopez de Arias e Jorge Fagali Neto.
A justiça pede ainda informações sobre dois suspeitos de comandar o pagamento de propinas pelo grupo Alstom: Phillippe Jaffré e Pierre Chazot.
Crédito milionário
Um dos contratos suspeitos foi firmado com a então estatal de energia do estado, a EPTE, quando Matarazzo presidia o conselho da empresa. A PF descobriu que a companhia obteve um crédito milionário no banco francês Société Générale, de R$ 72,7 milhões, sem licitação. O dinheiro serviu para a empresa adquirir equipamentos da Alstom.
De acordo com o G1, citando o relatório da PF, empresas no exterior recebiam recursos do grupo Alstom “para depois repassá-los aos beneficiários finais, servidores públicos do governo do Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 1998″.
Uma das contas era de Jorge Fagali Neto, ex-diretor financeiro dos Correios e ex-presidente do Metrô. Sobre Fagali, a PF diz que, “embora fosse diretor financeiro dos Correios, há evidências de que ele tinha livre trânsito por todas as secretarias de estado”.
Para a Polícia Federal, Andrea Matarazzo, como secretário de energia e presidente do conselho administrativo da EPTE, tinha conhecimento de tudo e que tanto ele como seu partido, o PSDB, se beneficiaram do esquema – motivo pelo qual pede seu indiciamento por corrupção passiva.
PS do Viomundo: Andrea Matarazzo também é citado no relatório final da Operação Castelo de Areia, aquela investigação sobre a construtora Camargo Corrêa que foi anulada pelo STJ com o argumento de que teve origem numa denúncia anônima.

Homem-bomba: “Dinheiro não faltava” para o operador do esquema tucano

“Não se abandona um líder ferido na estrada”
domingo, 29 de setembro de 2013
Homem-bomba do propinoduto tucano
A revista IstoÉ desta semana traz novas e bombásticas revelações sobre Jorge Fagali Neto, o “homem-bomba” do propinoduto tucano. Ele já foi indiciado pela Polícia Federal como responsável por intermediar o pagamento de propinas da multinacional francesa Alstom às integrantes do PSDB de São Paulo.
A reportagem agora teve acesso ao depoimento e a uma série de e-mails entregues ao Ministério Público, em junho de 2011, pela secretária de Fagali, Edna da Silva Flores. A documentação escancara o esquema de corrupção. Vale conferir a reportagem, assinada pelos repórteres Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas:
*****
Uma disputa travada na Justiça do Trabalho revelou como opera um dos principais agentes do propinoduto montado por empresas da área de transporte sobre trilhos em São Paulo para drenar dinheiro público dos cofres da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô paulista.
Trata-se do consultor Jorge Fagali Neto, indiciado pela Polícia Federal sob a acusação de receber e intermediar o pagamento de propinas da multinacional francesa Alstom a autoridades do PSDB paulista.
IstoÉ teve acesso ao depoimento e a uma série de e-mails comprometedores entregues ao Ministério Público, em junho de 2010, por sua ex-secretária Edna da Silva Flores.
A documentação deixa clara a proximidade de Fagali Neto com agentes públicos e o seu interesse em contratos do Metrô paulista e da CPTM. Nas mensagens, o consultor revela, por exemplo, preocupações com a obtenção de empréstimos e financiamentos junto ao Banco Mundial (Bird), BNDES e JBIC que viabilizem investimentos nas linhas 2 e 4 do Metrô paulista.
O material entregue por Edna ao Ministério Público demonstra pela primeira vez a ligação direta de Fagali Neto com os irmãos Teixeira, Arthur e Sérgio, apontados como lobistas do esquema Siemens e responsáveis por pagar propina a políticos por intermédio de offshores no Uruguai, conforme revelou reportagem de IstoÉ em julho.
Em um trecho de seu depoimento ao MP, Edna diz que os três mantinham “relacionamentos empresariais” e “atuavam antes da assinatura de contratos” com o governo de São Paulo.
Copiados por Fagali em uma série de e-mails envolvendo contratos com as estatais paulistas de transporte sobre trilhos, os irmãos Teixeira também têm seus nomes citados na agenda pessoal de Fagali Neto.
Em uma das páginas da agenda, está registrado um encontro com Sérgio Teixeira, hoje falecido, às 11 horas na Alameda Santos, no Jardim Paulista, região nobre de São Paulo. Em outra, constam o telefone, o e-mail e o nome da secretária de Arthur Teixeira.
A ex-funcionária narra também os cuidados do antigo chefe com eventuais investigações. No período de 2006 a 2009, em que trabalhou para Jorge Fagali Neto organizando o seu escritório, ele a mandava se ausentar do seu gabinete quando precisava se reunir com clientes.
Também a pedido de Fagali Neto, ela comprou quatro celulares para que os aparelhos fossem usados por ele apenas para tratar de negócios. O consultor acreditava que assim dificultaria interceptações policiais.
A espécie de “faz tudo” da empresa era proibida até de mencionar ao telefone os nomes de representantes de companhias às quais Fagali prestava consultoria. Ela ainda recebeu orientação para se referir a personagens do círculo de negócios do consultor por apelidos.
José Geraldo Villas Boas – também indiciado pela PF por ter participado do esquema de corrupção – era chamado de “Geólogo”. O temor do consultor em não deixar rastros era tão grande que ele fazia questão de pagar tudo em espécie. “Ele sempre mantinha algumas quantias em local desconhecido em sua casa”, disse.
A ex-secretária afirma no depoimento que ele costumava emitir, por meio da empresa BJG Consultoria e Planejamento Ltda., notas de R$ 260 mil e R$ 180 mil, mesmo tendo apenas ela como funcionária.
Pelo jeito, dinheiro não faltava para o operador do esquema do propinoduto tucano. Em 2009, o ex-secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo (1994) e ex-diretor dos Correios (1997) na gestão Fernando Henrique Cardoso teve uma conta atribuída a ele com mais de R$ 10 milhões bloqueada por procuradores suíços.
Procurado, o advogado de Fagali Neto, Belisário dos Santos Jr., diz que os e-mails foram obtidos pela ex-funcionária por meio de fraude junto ao provedor. Ele, no entanto, não quis se pronunciar sobre o teor das mensagens.
Apesar das tentativas de Fagali de manter a discrição, segundo sua ex-secretária, o elo do homem da propina no escândalo do Metrô com agentes públicos ligados ao PSDB é irrefutável.
Em 2006, Fagali trocou mensagens e recebeu planilhas por e-mail de Pedro Benvenuto, então coordenador de gestão e planejamento da Secretaria de Transportes Metropolitanos, órgão responsável pelas estatais.
Entre o material compartilhado, como revelou o jornal Folha de S.Paulo na última semana, estavam as discussões sobre o Programa Integrado de Transportes Urbanos do governo até 2012, que ainda não estava definido. Até a quarta-feira 25, Pedro Benvenuto ocupava o cargo de secretário-executivo do Conselho Gestor do Programa de PPPs (Parcerias Público-Privadas) do governo de São Paulo, quando pediu demissão na esteira das denúncias.
*****
A cada dia que passa, o escândalo do propinoduto tucano vai tomando dimensões ainda mais assustadoras. Apesar disto, a maior parte da mídia evita dar o destaque que o assunto merece, comprovando a sua seletividade na escandalização da política.
A revista Veja, a mais descarada, nem trata do tema. Suas capas semanais sensacionalistas até agora não abordaram a grave denúncia. Já as emissoras de tevê, em especial a TV Globo, voltaram a ofuscar o tema. O processo de investigação, porém, parece irreversível, o que forçará uma mudança de postura da velha mídia.
Na semana passada, a Justiça de São Paulo determinou o bloqueio de uma conta na Suíça atribuída a Jorge Fagali Neto por ter encontrado vários indícios de que ela recebeu recursos ilegais da Alstom.
A decisão foi tomada pela juíza Maria Gabriela Spaolonzi, da 13ª Vara de Fazenda Pública, com base nas denúncias encaminhadas pelos promotores Silvio Marques, Saad Mazloum e Mario Sarrubbo.
De acordo com as investigações, a conta atribuída a Fagali Neto foi aberta no Banque Safdié de Genebra e recebeu quase R$ 20 milhões.
Segundo o Ministério Público da Suíça, o dinheiro depositado na conta de Fagali Neto saiu da Alstom e passou por pelo menos três outras contas até chegar ao Banque Safdié.
O trânsito tortuoso do dinheiro foi a forma encontrada pelo “homem-bomba” do propinoduto tucano para tentar despistar a sua origem, garantem os promotores brasileiros. A concessão de liminar pela 13ª Vara de Fazenda Pública visa evitar que a Justiça da Suíça suspenda o bloqueio das contas. Ela serve também para preparar o terreno jurídico para um eventual repatriamento de recursos.
PS do Viomundo: As investigações sobre Fagali e a quebra do sigilo fiscal do grão tucano Andrea Matarazzo certamente terão repercussões na campanha eleitoral de 2014. A questão é saber se afetam apenas a ala paulista dos tucanos.

“Desigualdade para todos” é bem mais que um filme publicado em 30 de setembro de 2013 às 20:48

por Heloisa Villela, especial para o Viomundo
Desigualdade. Esse é o tema, e parte do título, do documentário que estreou em 26 cidades dos Estados Unidos no último fim de semana. “Desigualdade para todos” é bem mais que um filme. Ele é uma convocação. Um chamado aos norte-americanos para que se mobilizem e briguem para reverter o processo que desde os anos 80 vem promovendo concentração de renda cada vez maior no país.
Quem narra, apresenta e deixa claro o quanto a classe média perdeu nas últimas décadas é o economista Robert Reich, que teve cargo equivalente ao de ministro do Trabalho no governo do ex-presidente Bill Clinton e havia trabalhado anteriormente com o democrata Jimmy Carter. No filme, Reich argumenta que a concentração de renda não é apenas um problema para a economia dos Estados Unidos; é um perigo porque solapa a própria democracia.
“Robert Reich viu os resultados de um movimento social bem sucedido. Eu nunca vi isso”, disse Jacob Kornbluth, diretor do documentário. Ele tem 40 anos e se referia aos anos 60, quando os movimentos dos direitos civis e contra a guerra do Vietnã tomaram as ruas e conquistaram vitórias importantes nos Estados Unidos.
Reich é da geração que estava adiante dos protestos, participou das manifestações, e destaca no documentário que a concentração de renda só está avançando agora porque a maioria da população está permitindo, não está brigando por mudanças. Reich acredita no sistema. Defende a democracia dos Estados Unidos, mas diz que ela precisa de ajustes.
Com gráficos muito bem bolados e movimentados, o economista mostra que as duas grandes crises econômicas que os Estados Unidos já enfrentaram (a de 1929 e a de 2007) foram antecedidas por uma concentração de renda extrema. O baque de 2007, ao contrário da crise de 29, não rearrumou a casa. Não estabeleceu novas regras. Não resultou em mudança de rota.
Em 1978, a renda média dos norte-americanos era de US$ 48 mil por ano, enquanto os mais ricos ganhavam, em média, US$ 390 mil por ano. Hoje, a média salarial dos trabalhadores do país é de US$ 33,75 mil por ano, enquanto os do topo da pirâmide ganham, em média, US$ 1,1 milhão.
Apenas 400 cidadãos americanos têm, juntos, uma riqueza superior à soma de toda a riqueza da metade mais pobre da população. Com os lucros e bônus distribuídos no mercado financeiro, no último ano, o quadro só piora.
O documentário acompanha Reich em visitas do economista a sindicatos norte-americanos. Ele lembra que o equilíbrio do sistema capitalista precisa das organizações sindicais. É na luta do trabalho organizado contra o capital que se estabelecem regras mais justas.
Só que, a partir dos anos 80, houve um ataque sistemático ao sindicalismo norte-americano que hoje quase não tem poder de barganha, com exceção de alguns sindicatos de professores, como o de Chicago e, talvez, o de Nova York.
Os funcionários públicos, que ainda conseguiam manter algumas garantias, estão, estado por estado, perdendo seus direitos.
Em uma das visitas de Reich aos sindicatos, uma mulher que acompanha o debate se dá conta das discrepâncias, do baixíssimo percentual que os ricos pagam de imposto de renda sobre os lucros acumulados no mercado financeiro, um percentual bem menor do que ela mesma paga. Sentida, ela pergunta: “Por que eles precisam também desse meu pouquinho?”
A resposta, para Reich, está na política. Resposta que serve para qualquer país do mundo. O discurso da não-política serve apenas ao status quo, a quem já tem tudo. Aqui ou em qualquer lugar do mundo.

Melhor saber que foram ditas

Publicado em 29/09/2013

Frases presas

       

Hoje, quero comentar algumas frases que foram cunhadas na semana que passou. Não são frases soltas, pois são construções formais que expressam conteúdos ideológicos bem definidos.  Algumas delas mostram que nem tudo está perdido para aqueles que, como eu, perseguem suas utopias. Outras, porém, revelam a imensidão do caminho a perseguir para que, aqui no Brasil, alcancemos os nossos melhores desígnios.

1.     Melhor ouvir isso do que ser surdo?
Em artigo publicado em “O Globo”, o colunista Artur Xexéo estranhou a ausência do pessoal do “Black Bloks” no “Rock in Rio”. Ele aventou como uma possível razão o fato de a Cidade do Rock ficar muito longe... Eu já acho que são mesmo públicos distintos aqueles que se esgoelam histericamente diante de certos sons infernais – entre eles o tilintar das caixas registradoras do Medina e da Globo - , e aqueles que gritam reivindicações de cunho social, levando porrada da policia. O músico “Marcel Schmier”, da banda “Destruction” (?), teria dito, para deleite do público do “Rock in Rio”:  “Meu português é uma merda, so let’s speak in the language of heavy metal” . Felizmente, não tive que ouvir nenhuma das duas linguagens...
2.     Uns assumem , outros negam ...
Enquanto estamos assistindo, apesar dos pesares, à posse de  diversos médicos estrangeiros em lugares inóspitos, municípios esquecidos desse Brasil para onde os nossos profissionais não querem ir , somos, com frequência, sacudidos com as reações corporativas da classe médica nacional, que já perdeu essa parada para o povo, a julgar pelas pesquisas realizadas.  A última declaração é para se incorporar aos anais: o presidente de um dos Conselhos Regionais  de Medicina , ao renunciar ao cargo para não ter que conceder os registros provisórios aos  formados no exterior, citou Martin Luther King ao mencionar uma posição que  “não é segura, não é elegante, não é popular”, mas que tem que ser feita “porque a  nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta”.  Hipócrates e o próprio Luther King, não sei se de mãos dadas, devem estar protestando no Além. Em tempo: não houve informações sobre se o demissionário  se aproveitou do embalo e  também se demitiu da profissão...
3.     Os homens públicos e as privadas
A semana teve um episódio emblemático, com repercussões idem. O personagem foi  o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) , cujas palavras e atos são tratados pela mídia como folclóricos, mas que traduzem, no fundo, um posicionamento aplaudido por todos os saudosos da ditadura que ainda andam por  aí.  Inserindo-se onde – por razões óbvias -  não foi chamado , quando da visita da Comissão da Verdade às antigas dependências do DOI-CODI, reagiu aos que não o queriam ali e foi acusado de dar um soco (que ele nega e chama de “empurrão por baixo”), no Senador Randolfe Rodrigues, do PSOL. Quando alertado de que haveria uma representação do PSOL contra ele, Bolsonaro foi enfático: “Estou me lixando para essa representação! Se chegar no meu gabinete, vou colocar na privada”. Suprema ironia: o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) – que em 2009 disse que estava “se lixando para a opinião pública” – foi escolhido nesta quinta-feira como relator da representação.  
4.     Soberaria,  submissão e  silêncio
O episódio da espionagem americana gerou frases de diversas naturezas. As de Dilma foram as esperadas: a soberania brasileira requeria mesmo que fossem proferidas e diante da  plateia correta, a assembleia da ONU:  “O que temos diante de nós é um sério caso de violação dos direitos humanos e desrespeito à soberania. Jamais uma soberania pode firmar-se em detrimento de outra “. Mas temos no Brasil, sempre tivemos, o pensamento entreguista de plantão, o da turma que acha que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Ler as cartas dos leitores da grande imprensa é um prato cheio para um exame dessa natureza. É a tal alienação, ou seja, a exaltação dos valores alheios em detrimento dos próprios. O ruim mesmo é quando a coisa vem de outros segmentos. Um exemplo: o senador Jarbas Vasconcelos (que recordo com saudades do tempo em que combatia a ditadura) ,  talvez por confundir a cabocla e pequena política partidária nacional com  interesses maiores da cidadania, afirmou: “ Foi um expediente totalmente eleitoreiro, medíocre, que envergonha a história da política externa brasileira. Uma iniciativa ruim para a senhora Dilma Rousseff e seu partido, porém muito pior, muito mais grave, para o Brasil, como nação". Mas houve também frases não ditas: as de Obama. Não sei o que considero pior nesse caso: a conveniente subserviência de alguns brasileiros ou a arrogância acintosa do estrangeiro agressor.
5 -  Celso de Mello x  Midia. Vindo de quem vem...
O Ministro Celso de Mello, sempre apontado como um cidadão ínclito, em entrevista a uma jornalista da Folha, desabafou: “Eu honestamente, em 45 anos de atuação na área jurídica, como membro do Ministério Público e juiz do STF, nunca presenciei um comportamento tão ostensivo dos meios de comunicação sociais buscando, na verdade, pressionar e virtualmente subjugar a consciência de um juiz”. Em editorial do dia seguinte, a Folha reagiu: “Ainda que houvesse a tal tentativa de subjugação, seria impróprio tratar todos os veículos de comunicação como um corpo monolítico. Se muitos opinaram contra o cabimento do recurso, tantos outros manifestaram-se a favor dele. Segundo --e mais importante--, a confusão entre a legítima manifestação de opinião na esfera pública e a perniciosa tentativa de intimidar magistrados”. Duas posições. Uma, vindo de quem vem, merece reflexão. A outra é bem previsível.  É seguir acompanhando para tirar conclusões a respeito.

domingo, 29 de setembro de 2013

Dirceu deve levar vida Monástica: Celibato e Pobreza

ze_dirceu11_antiga1

Mídia agora persegue namorada de Zé Dirceu

29 de setembro de 2013 | 16:40
Reproduzo abaixo artigo de Paulo Nogueira, no qual o jornalista discorre sobre a triste parcialidade da mídia brasileira em sua perseguição obsessiva a José Dirceu. Perseguição que se estende a tudo à volta de Dirceu. Agora, a mídia resolveu perseguir a namorada de Dirceu porque ela conseguiu um emprego.
Ontem, Merval Pereira também mencionava Dirceu, numa frase irresponsável:
O surgimento de José Dirceu por trás do “fenômeno” Midia Ninja, depois das manifestações de junho (…)
A única ligação entre Dirceu e a mídia ninja era uma foto de Pablo Capilé em que Dirceu aparece ao fundo. O vale tudo da mídia atingiu as raias do ridículo.
Nogueira esqueceu de mencionar a filha de FHC, funcionária fantasma, por anos a fio, no gabinete do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), fato que também jamais incomodou os catões que perseguem José Dirceu.
Abaixo, o artigo de Nogueira:
Não é fácil ser Zé Dirceu
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo
Zé-Dirceu-600x398
Marcação cerrada
Não é fácil ser Zé Dirceu. E nem ter qualquer tipo de relação com ele. Namoradas, então, são um alvo constante.
Recebi logo pela manhã, pelo Facebook, o link de um artigo de Josias de Souza, blogueiro do UOL. Ele espalhava uma (suposta) informação que saíra na Veja: a (alegada) namorada de Dirceu conseguira um emprego no Senado.
Você pode imaginar os detalhes dados, do salário à carga horária: em suma, segundo a Veja e Josias, ela ganha muito e trabalha pouco.
Não vou discutir aqui a credibilidade da Veja. Mas não posso deixar de lembrar que, em sua louca cavalgada rumo à direita, a revista apresentou Maycon Freitas como “a voz que emergiu das ruas”, nos protestos de junho.
A credencial de Maycon, logo se veria, era falar exatamente o que a Veja queria que ele falasse. Sozinho, ele não mobilizava pessoas capazes de lotar uma padaria no domingo.
Mas volto ao caso em questão.
A funcionária do Senado apedrejada, Simone Patrícia Tristão Pereira, tem vida profissional anterior, como uma simples pesquisa no Google mostra.
Em 2011, o governador do Estado de Tocantins, Siqueira Campos, a nomeou assessora especial da Secretaria da Cultura.
O governador, apenas para registro, é do PSDB. Isto quer dizer o seguinte: a informação que você está lendo aqui, no DCM, não vai aparecer em nenhum lugar que quer atacar Simone e, por ela, Dirceu.
Também é bom lembrar que o “moralismo” impregnado na “denúncia” não se manifestou, jamais, quando Serra arrumou empregos para Soninha e familiares no governo paulista.
A mídia também jamais colocou em dúvida a competência do então genro de FHC, David Zylbersztajn, quando ele foi colocado à frente da Agência Nacional do Petróleo no governo do sogro.
ce196df3514ace10789bfb28491c4f28
Antes da ANP, e já genro do FHC, o então governador Mário Covas deu a ele a Secretaria da Energia. Mas claro: aí era, para a mídia, talento, mérito, e não nepotismo.
Zylbersztajn deixou a ANP pouco depois de se separar da filha de FHC. Hoje, ele tem negócios da área de energia, e ninguém questiona a ética disso. Assim como ninguém cobra de Malan, ou de Gustavo Franco, posições pós-governo lucrativas.
Dirceu, em compensação, é constantemente massacrado por qualquer coisa que faça. Lembro de um Roda Viva em que ele fez a pergunta vital: “Não posso trabalhar?”
A Veja simplesmente ignorou a notícia do emprego que a Globo deu ao filho de Joaquim Barbosa. Cinicamente, alguém poderia dizer: mas é uma empresa.
Ora, quem acredita nessa desculpa acredita em tudo. É o chamado “nepotismo cruzado”. Emprego seu filho, mas você sabe que me deve um favor.
A Globo está no meio de um escândalo – não coberto pela mídia – de sonegação e trapaça fiscal. Neste caso apenas (há outros), deve em dinheiro de hoje 1 bilhão de reais.
O presidente do STF deve empregar o filho numa empresa em tal situação?
O Brasil tem que ser reformado, é verdade. Mas a reforma que a mídia propõe se centra na manutenção de todos os seus privilégios, acrescidos de mais alguns, se possível.
Para isso, vale tudo – a começar por dar ares de escândalo a qualquer coisa que possa atingir quem ela julga ser seus inimigos, como Dirceu.
Por: Miguel do Rosário

Quem estará certo nessa história?

A última sessão de cinema

by Fabio Hernandez
A Mulher do Lado
A Mulher do Lado
Éramos inseparáveis na escola de jornalismo. Ele, um obcecado por fazer tudo o melhor possível; eu, com a tranquilidade preguiçosa de alunos sem grande ambição. Claudio e Fabio.
Em comum algumas coisas, como a paixão pelo Corinthians, os romances de Graham Greene e os solos de guitarra suavemente minimalistas de George Harrison. Nescau, Calipso, Coca.
O amor desvairado por jogar futebol: éramos capazes de sair direto de uma sexta de madrugada, bêbados, rumo a um jogo de futebol no sábado pela manhã. Montaigne e Sêneca. Gatsby, o romance de Fitzgerald. Conhecíamos e discutíamos detalhes de Gatsby. Anotávamos trechos de livros que nos pareciam especiais, e isso era outro ponto que tínhamos em comum.
O Gatsby de cada um de nós estava quase todo rabiscado. O tempo se incumbiria de dar a nós dois o destino que cada um começou a construir lá para trás.
Cláudio é o que comumente se define um jornalista de sucesso. Primeiro repórter, depois editor, depois diretor de revista. Minha carreira foi menos variada. Primeiro um escritor barato. Sempre um escritor barato.
A vida nos afastou. (A vida sempre afasta os amigos da juventude. A vida é cruel como um cossaco russo nesse trabalho de afastamento de amigos.) Ficamos anos sem nos ver. Deixei pelo telefone, duas ou três vezes, recado com sua secretária. Não recebi retorno. Entendi: pessoas em alta posição nunca têm tempo para nada, ao contrário de vagabundos como eu, para os quais os minutos fluem vagarosos como a água de um riacho.
Até que um dia nos encontramos por acaso numa fila de cinema. Tínhamos ambos ido ver A Mulher do Lado, de Truffaut. (Não pus, por engano, esse filme perturbador na lista de nossas paixões comuns. Agora corrijo o erro. Como falávamos desse filme em nossos dias de jovens, como elucubrávamos, como discutíamos cada cena.)
Ver meu amigo bem-sucedido na fila de A Mulher do Lado me levou imediatamente a uma constatação. Sim, ele vestia um blazer que me pareceu Armani, e imagino que fosse Rolex o relógio que tinha no pulso esquerdo. Mas, na alma, não mudara tanto assim, ou assim me pareceu ao vê-lo na fila.
Estávamos ambos sozinhos. A Mulher do Lado era e é um filme sagrado para nós. E filmes sagrados, dizíamos ele e eu em nossos dias de jovens, exigem que você os veja sozinho. Para se concentrar inteiramente. No máximo, a companhia de um saco de pipocas. Nada mais.
Combinamos tomar um lanche na saída. Nada muito demorado. No dia seguinte, meu amigo tinha uma reunião bem cedo. Fomos ao Hamburguinho, outra de nossas obsessões comuns que me esqueci de listar. Miramos em silêncio respeitoso o quadro Boulevard of Broken Dreams, sobre o qual tanto falávamos lá pra trás. Na melancólica lanchonete retratada no quadro parecíamos reencontrar um pouco da juventude para sempre perdida. “Sempre invejei você”, Cláudio me disse.
Pensei que fosse piada. “Invejou o quê?” Minha desimportância? Desde quando escritores fracassados despertam inveja? Eu imaginava uma estante repleta com livros escritos por mim. Um novo Dostoievski. Um novo Fitzgerald. E acabei como um colunista de assuntos sentimentais. Com dinheiro contado para comer esse sanduíche.”
Ele suspirou. “Você não foi apanhado pela gaiola em que me meti. Você é dono de você. Há muito tempo eu deixei de ser dono de mim. É o preço que ambiciosos como eu pagam.”
Eu disse: “E quem não paga? Só não paga quem não pode”. Ele deu uma risada irônica. E olhou para algum lugar que era bem longe dali. “Meu pai. Meu pai não pagou.”
O pai morto era uma dor constante para meu amigo. “Foi o maior homem que eu conheci. O maior jornalista. Fui bem mais longe na carreira que ele. Muitas vezes me perguntei por quê. Outro dia finalmente entendi. Fui adiante não porque fosse melhor que ele. Mas porque sou pior. Eu paguei o preço que meu pai recusou pagar.”
Era hora de ir embora. Antes de nos despedirmos, para talvez nunca mais nos encontrarmos, Cláudio me disse: “Leio você. Sabe? Acho que me realizei em você. Um escritor barato. Era isso que eu queria ser. Barato e livre. Mais não tive a coragem de recusar o que as pessoas chamam de sucesso”.
Então meu amigo foi em seu carro importado rumo a sua cobertura, a seu sucesso dolorido e a seu sentimento de orfandade e desamparo. Antes de partir, Cláudio abriu o vidro de seu carro e gritou para mim a frase de que mais gostávamos em Gatsby.
Gatsby estava derrotado, caminhando rumo ao nada, abandonado por todos os que o bajularam enquanto estava por cima, quando o narrador gritou para ele: “Ei Gatsby, você é melhor que todos eles”.
Ainda hoje me comove lembrar essas palavras pungentes de Nick, o narrador. Ouvi a mesma frase de Paulo. Com uma pequena modificação. “Ei, Fabio, você é melhor que todos nós.”
Nós quem, pensei depois. Os que se venderam como ele diz ter se vendido? Depois apanhei um táxi no ponto, pedi ao motorista que me deixasse na Kilts e no trajeto pensei que o sucesso é mesmo uma coisa muito engraçada.
Fabio Hernandez | Setembro 28, 2013 às 6:01 pm | URL: http://wp.me/p32SsY-eCD

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro by Diario do Centro do Mundo

Dilma Roussef puxou o orelhão de Obama.
Pepe Mujica deu um soco no estômago do mundo inteiro.
Ela levantou a bola, ele cortou.
Se o discurso de Dilma foi considerado áspero, contundente ou agressivo por jornais de vários países, o do presidente do Uruguai foi demolidor de toda a ordem internacional vigente.
Foi pedra pra todo lado, sobrou pra todo mundo. Não chegou a propor o socialismo global, mas deixou implícito.
Para mau entendedor, nenhuma palavra basta.
Só poupou os pobres. Poupou não, defendeu. Como raramente se vê na ONU, além das declarações para as câmeras e dos releases para os jornais. Não por acaso, o próprio release da ONU descreve o discurso com um desdém digno de um mero papo cabeça de maconheiro. Ban Ki-Moon reconheceu e agradeceu a intensa presença dos soldados uruguaios nas forças internacionais de paz. E chega.
Por diversas vezes Mujica aludiu ao pequeno tamanho do Uruguai. Isso pode se tornar um problema para os uruguaios, na medida em que país vai se tornando, cada vez mais, a pátria dos 99%.
Não vai caber todo mundo que começa a sonhar em viver num país onde o presidente não veste gravata e sonha com o mesmo mundo que todos sonhamos.
Todos menos os restantes 1%, que tudo vêem, ouvem e controlam, sem sequer admitir pitos.
Se fosse brasileiro, Pepe seria Zé. Pois, no fundo, ele é importante por ser exatamente isso: o Zézinho, nosso vizinho, um cara que a gente conhece e gosta, que vive como nós e entende o que a gente sente.
"Sou do sul, venho do sul. Moro ali na esquina do Atlântico com o Prata".
Foi assim que o Zé puxou o papo na ONU. Poderia ser da avenida Atlântica com a rua da Prata, mas da zona norte.
Prosseguiu lembrando o dia que o time dele venceu o nosso numa final de Copa no Maracanã.
"Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor".
E que, como nós, também amava os Beatles e os Rolling Stones.
"Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes."
É ou não é nosso vizinho da esquina?
E, daí pra frente, o Zé não deixou pedra sobre pedra.
"Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba."
Cortou a bola levantada pela vizinha Dilma, da rua de cima...
"Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América."
Prometeu uma força pra galera da rua Colômbia, não aquela dos Jardins.
"Carrego o dever de lutar por pátria para todos...
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz..."
"O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade."
E botou toda a vizinhança na roda.
"Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado."
Mandou um recado para os donos do bairro.
"Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana."
E para os donos do circo.
"Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fóruns e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões..."
Para o general da banda também.
"Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar."
E bota o dedo na ferida.
"As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, da democracia no sentido planetário, porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos."
Não poupou a globalização, nem a China.
"Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há pouco tempo, na Califórnia, o corpo de bombeiros festejou uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos! Cem anos acesa, amigos!! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem?"
A solução? Incorporar a ciência à política.
"Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética."
E nós com isso?
"Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização que, de fato, nós criamos.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos nas causas profundas, na civilização do desperdício, na civilização do usar e jogar fora, que despreza tempo mal gasto de vida humana, esbanjando coisas inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie somos nós."

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

De espionagem e arapongas / Mario Augusto Jakobskind


A recente espionagem feita pelos serviços de inteligência estadunidense no Brasil e na América Latina, reveladas graças, entre outros, a figuras como Edward Snowden, Julien Assange e Gleen Greenwald, não chegam a se constituir em fato novo propriamente dito. O que mudou apenas foi a tecnologia utilizada. Em décadas anteriores, arapongas da CIA e maus brasileiros que ajudavam no serviço faziam o jogo.
Muitos dos apoiadores de então, ou já estão ardendo no inferno ou, impunes, aproveitando a aposentadoria pelos serviços prestados como mercenários. Um ou outro segue até ocupando espaços midiáticos com a mesma linguagem de ódio da época da Guerra Fria, Tem alguns residindo próximo da área onde se localiza a sede da CIA, em Richmond, na Virgínia.
Na história contemporânea são vários os países que sofreram com  a ação da CIA, entre os quais o Irã, em 1953, com a derrubada do nacionalista Mohammed Mossadegh, que ficou em prisão domiciliar para o resto da vida. O líder iraniano é lembrado em livros de história e com a revelação dos documentos da época confirmou-se a intervenção da CIA, do serviço secreto inglês e israelense no golpe de estado.
Uma figura importante daquela época, embora não tão conhecida como Mossadegh é a do então Ministro dos Negócios Estrangeiros daquele governo, o jornalista Hossein Fatimi, um dos idealizadores do projeto de nacionalização do petróleo iraniano. Ele foi fuzilado por ordem do preposto dos EUA, o Xá Rheza Parlevi, que ainda chegou a manter relações amistosas com alguns ditadores brasileiros, como Castelo Branco, Costa e Silva e Médici, que, hoje já se sabe oficialmente com os arquivos revelados, tomaram o poder com a ajuda da CIA.
O Brasil não esteve de fora das artimanhas da CIA, presentes em 1954 com seus arapongas e mercenários que levaram Getúlio Vargas ao suicídio. Hoje se sabe também que depois da negativa de Vargas em mandar tropas brasileiras para lutar na Coreia em ajuda aos EUA, somado à criação da Petrobras, os quinta-colunas destas bandas intensificaram ações de desestabilização do governo eleito pelo povo.
O golpe de abril de 1964, que provocou a ruptura constitucional e lançou o Brasil em uma longa noite escura, só foi possível acontecer com o respaldo logístico e financeiro da CIA. Quase 50 anos depois, as informações sobre esse período nefasto são maiores do que as de 1954. É possível até que os pesquisadores não se debruçaram tanto para certificar muitas ocorrências até hoje não totalmente esclarecidas. 
Nem tudo, entretanto, ainda foi revelado. Recentemente, por exemplo, o jornalista Continentino Porto, autor do livro JK segundo a CIA e SNI, teve mais acesso a documentos da CIA que comprovam a participação de um agente secreto a serviço dos EUA acompanhando em um hospital militar o então Ministro da Guerra (na época tinha essa denominação), Jair Dantas Ribeiro, que se afastara do cargo dias antes do golpe de 64 por motivo de saúde. O araponga da CIA produzia relatórios diários, que provavelmente eram  repassados para os golpistas militares e civis  brasileiros. 
Tais fatos, que fazem parte da memória deste país continente, devem ser sempre lembrados, porque se alguém imagina que a CIA e outros serviços de inteligência deixaram o Brasil sossegado, enganam-se redondamente. Quanto mais o país ganha importância no cenário internacional, o que aconteceu sobretudo nos últimos 10 anos, maior a ação dos serviços secretos estrangeiros por estas bandas. 
Nesse sentido, os brasileiros devem ficar atentos para não caírem em armadilhas sofisticadas gestadas por grupos que historicamente sempre estiveram vinculados aos interesses de potências como Estados Unidos.
Antes do golpe que derrubou o Presidente constitucional João Goulart, a CIA encheu com muitos milhões de dólares as comportas de institutos como o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES (Instituto de Pesquisas Econômicas e Socais). O objetivo do IBAD era formar uma bancada que defendesse os interesses norte-americanos e consequentemente divulgar a catilinária anticomunista da época da Guerra Fria. O IPES, capitaneado pelo então coronel Golbery do Couto e Silva, procurava também fazer cabeças preparando-as para o apoio incondicional ao golpe de 64.
Tais fatos não chegam a ser uma grande novidade, porque depois de tantos anos decorridos, o que muitos já sabiam, através de indícios ou pesquisas de campo, os arquivos públicos informativos a respeito deixam claros.
Nos dias de hoje, o grande mérito dos personagens mencionados no início desta reflexão é que eles revelaram (e devem continuar revelando mais fatos) antecipadamente muitas informações que se tornariam públicas, se é que se tornariam, daqui a 30, 40 ou 50 anos.
Por estas e muitas outras pode ser explicado o ódio do establishment estadunidense a figuras como Snowden, Assange, Manning e Swartz,. que na sexta-feira (20) foram homenageados com o Prêmio Internacional de Direitos Humanos instituído pela Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Os sinais de ressaca na campanha sobre a AP 470

É curioso o estágio atual da mídia frente a AP 470. Ainda há espaço para os carniceiros, os estimuladores da manada. Mas, em momentos cada vez mais frequentes percebe-se um cansaço, uma certa lassidão que sucede os grandes episódios orgiásticos, seja na guerras sangrentas ou na pornografia. São sentimentos similares, denotadores da falta de limites.
 
A manifestação de Ives Gandra da Silva Martins - que, antes da Folha, já externara o mesmo desconforto na insuspeita revista da Associação Comercial de São Paulo - é significativa, por partir de uma das fontes preferenciais do  establishment midiático. 
 
O desconforto não é apenas em relação à teoria do domínio do fato - que poderá reverter contra os advogados em suas causas futuras. É também em relação à postura de magistrados, à perda de referenciais de cortesia, ao deslumbramento com os refletores.
 
A ele se somam manifestações de colunistas mais independente, pequenas brechas na muralha para abrigar o desconforto de outros juristas, advogados, análises mostrando a inutilidade do carnaval para as eleições de 2014.
 
Os objetivos não alcançados
 
A ofensiva midiática teve dois objetivos. O primeiro, desviar o foco da cobertura da CPMI de Carlinhos Cachoeira. O segundo, o de não apenas condenar, mas liquidar, humilhar, destruir, salgar a terra por onde passasse José Dirceu, pelo desplante de ter afrontado a mídia em diversas ocasiões.
 
Faz parte de uma lógica imperial: quem ousar se interpor no caminho da mídia precisa ser totalmente destruído como tática de disuasão.
 
Ninguém ganhou com essa demonstração irresponsável de poder.
 
Perdeu a mídia, perdeu o país e, principalmente, perdeu o Supremo.
 
Em nome da vingança atropelaram-se normas básicas de direito individual. Caminham para transformar  réus em vítimas. Se preso, Dirceu se tornará herói em vida, ao invés da pessoa que, para garantir  a governabilidade ao partido, singrou  por águas turvas.
 
O que era para ser a punição exemplar de práticas políticas condenáveis, transformou-se no oportunismo mais rasteiro, revelando a outra face da mesma moeda de corrupção política: quando agentes se valem seletivamente dos vícios do sistema para jogadas oportunísticas. 
 
A hipocria política brasileira
 
De fato, não há diferença entre réus e alguns dos julgadores. Todos fazem parte da mesma tradição de hipocrisia do modelo político brasileiro.
 
O jogo sempre é o mesmo. Há um conjunto de vícios no modelo. Partidos de oposição se fortalecem denunciando os vícios de quem está no poder. Quando conquistam o poder, repetem os mesmos vícios. Aí a nova oposição passa a criticar os vícios, utilizando-os de escada para reconquistar o Poder. Mas ninguém se preocupa em corrigir os vícios, porque todos se beneficiam deles: quem pratica e quem denuncia.
 
Ao julgar seletivamente os vícios do PT, Ministros do Supremo agiram com a mesma hipocrisia dos partidos políticos. Não há diferença. Pertencem todos ao mesmo lodo institucional, no qual impera a esperteza, jamais o compromisso de aprimorar as regras do jogo.
 
A ressaca
 
Agora, tem-se essa lassidão. Há um incômodo generalizado no sistema judiciário, pelo fato da face pública do poder ser um Gilmar Mendes, um Luiz Fux, um Joaquim Barbosa, e nao mais um Moreira Alves ou mesmo um Celso de Mello. Um incômodo generalizado entre jornalistas independentes - que trabalham ainda na velha mídia - pelo fato de, na fase mais dura do macartismo, nao terem podido externar sua indignação com o antijornalismo praticado.
 
À medida em que cessa o álibi da guerra total, vai caindo a ficha geral sobre o estrago que esses tempos de devassidão jurídica provocaram na imagem do Judiciário e na esperança daqueles que ainda acreditavam que o escândalo é a espoleta para as mudanças. No país da jabuticaba, não é: é apenas o holofote para levantar o ego togado de Ministros de pouca grandeza.

domingo, 22 de setembro de 2013

TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS

Imagem
Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor, abandonadas na via pública. Uma no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram.Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.
Mas a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os pesquisadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto. O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Evidentemente, não é devido à pobreza, é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras. Induz ao “vale-tudo”. Cada novo ataque que a viatura so fre reafirma e multiplica essa idéia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Baseados nessa experiência, foi desenvolvida a ‘Teoria das Janelas Partidas’, que conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Se se cometem ‘pequenas faltas’ (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar com o sinal vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e delitos cada vez mais graves.Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pesso as forem adultas.
Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas, estes mesmos espaços são progressivamente ocupados pelos delinquentes.
A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às norm as de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.
A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinqüente, pois aos dos abusos de autoridade da polícia deve-se também aplicar-se a tolerância zero.
Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito.Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.
Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na rua onde vivemos.
A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
Esta teoria pode também explicar o que acontece aqui no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc.
Reflita sobre isso!