domingo, 30 de setembro de 2012

Muito sensato. por Miguel do Rosário


Tenho acompanhado quase tudo que se diz nas redes sociais e nos blogs sobre o julgamento do mensalão. O evento suscita várias leituras simultâneas. Há uma acalorada discussão, por exemplo, em torno das teses jurídicas formuladas pelos ministros. Isto é muito saudável por estimular um pensamento mais crítico em relação às teorias constitucionais, que não são letras mortas, mas criações vivas da nossa cultura, do nosso parlamento e da própria jurisdição produzida por nossa corte superior. Em última instância, o falatório pauta o Congresso, o STF, os formadores de opinião. O que nós somos, enquanto sociedade organizada em torno de leis e costumes, será o resultado desses embates.
Há também um debate político em torno do julgamento, que talvez seja ainda mais importante, por causa da repercussão política do evento, e também pelo fato de que ele tem sido, desde que eclodiu, descaradamente instrumentalizado por setores da mídia para atacarem a esquerda partidária.
É aí que vemos prosperar muita confusão, principalmente pelo motivo óbvio de que há interesses partidários, políticos e ideológicos conflitantes envolvidos, com o agravante de estarmos na fase mais intensa de uma campanha eleitoral.
Alguns entendem as minhas críticas ao STF como uma defesa do PT. “Ah, se fosse o PSDB no banco dos réus, não falariam nada disso”.
Não é verdade. Se os réus fossem do DEM, eu diria a mesma coisa. O que acontece é que um julgamento nesse estilo jamais aconteceria se os réus fossem do PSDB ou DEM. Então a comparação é esdrúxula. Os réus do DEM podem ser condenados duramente, mas não haverá nenhum proselitismo político e ideológico em torno de seu julgamento.
Não defendo o PT das acusações de lavagem de dinheiro, corrupção, formação de quadrilha ou seja lá que termos bombásticos a Procuradoria usou na sua peça acusatória.
Também não questiono (embora tenha o direito de fazê-lo) a honestidade e o saber jurídico de nossos ministros do STF.
Minha crítica refere-se, em primeiro lugar, à volúpia com que falam à imprensa de um processo em curso, inflamando ainda mais um ambiente já volátil e causando tumulto político justamente num momento eleitoral. Isso é irresponsabilidade. O STF tem a obrigação de manter a harmonia com outros poderes e ter uma postura imparcial diante dos embates partidários.
De todo modo, essa não é a crítica mais importante que eu faço. Talvez seja mesmo inevitável que alguns ministros ajam dessa maneira, devido à presença invasiva da imprensa nos salões do STF, e da agressividade constante dos repórteres. Ministros do STF não querem ser inimigos da mídia, então podemos entender esse desejo ou condescendência em aplacar a voracidade dos jornalistas.
A minha discordância em relação aos ministros do STF também não é centrada na disposição ou não deles em condenar os réus, e sim nos argumentos políticos que eles tem usado para fazê-lo. Sobretudo, discordo da tese de compra de votos, porque ela se baseia, em grande parte, numa visão preconceituosa dos acordos políticos.
O mensalão do PT, assim como o do DEM e do PSDB, podem ter em comum os crimes de corrupção , lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Mas a compra de apoio político só poderia ser provada através de uma testemunha, confissão ou documento que comprovasse que aquele parlamentar votou, em determinada votação específica, porque recebeu dinheiro.
O que eu discordo, sobretudo, é de asserções com essa, do ministro Celso de Mello, proferida ontem:
O ministro mais antigo no tribunal, Celso de Mello, afirmou que o crime de corrupção do servidor público está associado ao “ato de ofício”, e que esse ato, no caso dos parlamentares, é a participação nas votações do Congresso Nacional. (…) “no âmbito do parlamento, o ato de ofício do congressista é por excelência o ato de votar.”
O tribunal está condenando dezenas de parlamentares que sequer receberam dinheiro do mensalão. Quem recebeu foram suas lideranças. E os ministros fundamentam seu entendimento sobre esse ponto com observações absolutamente leigas, equivocadas, sobre como partidos costuram acordos políticos, antes e depois das eleições. Os ministros emitem juízos de valor antidemocráticos sobre a movimentação financeira eleitoral, fingindo desconhecer que as eleições, no Brasil, mexem com grande quantidade de recursos, antes e depois dos pleitos, e que boa parte destes se dá na forma de caixa 2. Essas são as entranhas da nossa democracia. E não só nossa, pois Caixa 2 eleitoral existe no mundo inteiro. No Brasil, não é sequer tipicado como crime, mas como infração eleitoral. Deve ser combatida, não através de punições inquisitoriais, mas aprimorando nossas leis para trazer para a legalidade uma prática comum a todos os partidos. Democracia é eleição, eleição é concorrência e despesa de campanha. Essas são realidades irrefutáveis da nossa democracia que não devem satanizadas junto à opinião pública conforme sempre fez a mídia, agora com auxílio do judiciário.
A votação da reforma da previdência, por exemplo, aconteceu após uma dolorosa negociação entre diversas forças políticas e sociais. Até eu participei, humildemente, como blogueiro, desse debate. Lembro que eu ficara muito impressionado com a situação do meu pai, que aposentara-se ganhando R$ 900, apesar de sempre ter pago o teto do INSS. Isso porque o INSS discriminava o trabalhador do setor privado. E a reforma corrigiu isso, em parte ao menos.
Houve debates, negociações políticas intensas. Nesses momentos chave todos cobram de todos: indicações, dívidas de campanha, compromissos eleitorais futuros, mais espaço no governo, etc. É assim que funcionam as entranhas da democracia, no mundo inteiro. Não é uma reunião de anjos, com certeza. Muitos interesses menores entram no jogo. Entretanto, como dizia Hegel:
Perseguindo seus interesses pessoais, os homens fazem história e são, ao mesmo tempo, as ferramentas e os meios de qualquer coisa de mais elevada, de mais vasta, que eles ignoram, e que eles realizam de maneira inconsciente.
Então mandem os réus ao cadafalso político por corrupção, lavagem de dinheiro, o que for, mas para condenar parlamentares apenas por “votarem”, ou seja, fazerem seu trabalho, tenham provas, por favor: confissões, testemunhas, provas documentais. Ilações antidemocráticas não servem. O STF não pertence aos juízes, mas ao povo brasileiro, a nós todos, e depois de tanta luta para construir uma democracia moderna e estável, não a queremos ver manchada com a nódoa de um golpismo judicial conservador, oportunista, preconceituoso e arbitrário.

A todos os "ANTIS "

Dane-se você que acha que Corinthiano é bandido!

Faz tempo não escrevo nada aqui.
Hoje deu vontade de xingar um montão e jogar para fora certas coisas presas há dias.
Que porra é essa de torcedores de outros times tacharem Corinthianos de ladrões, bandidos e o caralho a quatro?
De onde tiraram essa ideia? Bando de filhos da puta.
Tem ladrões e bandidos da mesma forma que qualquer time desse planeta tem.
vai me dizer que para o Palmeiras só torcem os certinhos, coxinhas, bichinhas e coroinhas?
Para o Santos só torcem as sereias e o veadinhos da orla santista?
Vão para o quinto dos infernos!

Ladrão é puta que vos pariu.

As torcidas mudaram bastante, antigamente a gente torcia para um time de futebol e hoje em dia a maioria torce para a marca estampada na camisa como ocorre com os Palmeirenses que lamentam até hoje o fim do concubinato com a Parmalat. Torciam bebendo leite?
Tomô?
Parte das organizadas recebem grana da empresa que fabrica, com trabalho escravo e exploração da mão de obra infantil, os uniformes do time.
Não uso. Não compro e fim de papo.
Não vou à Tóquio e se quisesse ir, bando de filho, da puta não seria num barquinho rampeiro, seria de avião.
Não sei se o da foto acima mas de avião com certeza.

sábado, 29 de setembro de 2012

Chatô, de Fernando Morais, o melhor de história do Brasil no Seculo XX

sábado, 29 de setembro de 2012

Um espectro ronda o jornalismo: Chatô

Em texto exclusivo para o 247, o escritor Fernando Morais narra como, em meados do século passado, Assis Chateaubriand encomendou ao diretor do Estado de Minas uma reportagem sobre o estupro supostamente cometido pelo arcebispo de Belo Horizonte contra a própria irmã. Detalhe: Dom Cabral não tinha irmã. Passadas oito décadas, Chatô exumou-se do cemitério e encarnou nos blogueiros limpos e editores dos principais jornais brasileiros

As agressões e infâmias dirigidas por alguns jornais, revistas, blogs e telejornais ao ex-presidente Lula e ao ex-ministro José Dirceu me fazem lembrar um episódio ocorrido em Belo Horizonte em meados do século passado.

Todas as sextas-feiras o grande cronista Rubem Braga assinava uma coluna no jornal “Estado de Minas”, o principal órgão dos Diários Associados em Minas Gerais. Irreverente e anticlerical, certa vez Braga escreveu uma crônica considerada desrespeitosa à figura de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira de Belo Horizonte. Herege, em si, aos olhos da conservadora sociedade mineira o artigo adquiriu tons ainda mais explosivos pela casualidade de ter sido publicado numa Sexta-Feira da Paixão.

Indignado, o arcebispo metropolitano Dom Antonio dos Santos Cabral redigiu uma dura homilia recomendando aos mineiros que deixassem de assinar, comprar e sobretudo de ler o “Estado de Minas”. Dois dias depois o documento foi lido na missa de domingo de todas as quinhentas e tantas paróquias de Minas Gerais.

O míssil disparado pelo religioso jogou no chão a vendagem daquele que era, até então, o mais prestigioso jornal do Estado. E logo repercutiu no Rio de Janeiro. Mais precisamente na mesa do pequenino paraibano Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, um império com rádios e jornais espalhados por todos os cantos do Brasil.

Célebre pela fama de jamais engolir desaforos, o colérico Chateaubriand telefonou para Geraldo Teixeira da Costa, diretor do “Estado de Minas”, com uma ordem expressa, repleta de exclamações:
- Seu Gegê! Quero uma reportagem de página inteira contando que quando jovem Dom Cabral estuprou a própria irmã! O senhor tem uma semana para publicar isso!

Tamanha barbaridade não passaria pela cabeça de quem quer que conhecesse o austero Dom Cabral, cujas virtudes haviam levado o Papa Pio XI a agraciá-lo com o título de Conde. Mas ordens eram ordens.

Os dias se passavam e a reportagem não aparecia no jornal. Duas semanas depois do ultimato, um Chateaubriand possuído pelo demônio ligou de novo para Belo Horizonte:
- Seu Gegê! Seu Gegê! O senhor esqueceu quem é que manda nesta merda de jornal? O senhor esqueceu quem é que paga seu salario, seu Gegê? Cadê a reportagem sobre o estupro incestuoso cometido por Dom Cabral?

Do outro lado da linha, um pálido e tremebundo Gegê gaguejou:
- Doutor Assis, temos um problema. Descobrimos que Dom Cabral é filho único, não tem e nunca teve irmãs...

Sapateando sobre o tapete, Chateaubriand parecia tomado por um surto nervoso:
- TEMOS um problema? Seu Gegê, nós não temos problema algum! Isso é um problema de Dom Cabral! Publique a reportagem! Cabe A ELE provar que não tem irmãs, entendeu, seu Gegê? Vou repetir, seu Gegê: cabe A ELE provar que não tem irmãs!!

Passadas oito décadas, suspeito que Chatô exumou-se do Cemitério do Araçá e, de peixeira na cinta, encarnou nos blogueiros limpos e nos editores dos principais jornais e revistas brasileiros.

Como no caso de Dom Cabral, cabe a Lula provar que não marchou com a família e com Deus, em 1964, quando tinha 18 anos, pedindo aos militares que derrubassem o governo do presidente João Goulart. Cabe a Dirceu provar que não foi o chefe do chamado mensalão.

Fernando Morais é jornalista e escritor. É autor, entre outros livros, de “Chatô, o rei do Brasil”, biografia de Assis Chateaubriand.


Leia mais em: O Esquerdopata
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Veredicto da História-excelente

O veredicto da história
Por Mauro Santayana, no Jornal do Brasil
Cabe aos tribunais julgar os atos humanos admitidos previamente como criminosos. Cabe aos cidadãos, nos regimes republicanos e democráticos, julgar os homens públicos, mediante o voto. Não é fácil separar os dois juízos, quando sabemos que os julgadores são seres humanos e também cidadãos, e, assim, podem ser contaminados pelas paixões ideológicas ou partidárias – isso, sem falar na inevitável posição de classe. Dessa forma, por mais empenhados sejam em buscar a verdade, os juízes estão sujeitos ao erro. O magistrado perfeito, se existisse, teria que encabrestar a própria consciência, impondo-lhe sujeitar-se à ditadura das provas.
Mesmo assim, como a literatura jurídica registra, as provas circunstanciais costumam ser tão frágeis quanto as testemunhais, e erros judiciários terríveis se cometem, muitos deles levando inocentes à fogueira, à forca, à cadeira elétrica.
Estamos assistindo a uma confusão perigosa no caso da Ação 470, que deveria ser vista como qualquer outra. Há o deliberado interesse de transformar o julgamento de alguns réus, cada um deles responsável pelo seu próprio delito – se delito houve – no julgamento de um partido, de um governo e de um homem público. Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso país. O caso mais clamoroso foi o de Vargas em 1954 – e a analogia procede, apesar da reação de muitos, que não viveram aqueles dias dramáticos, como este colunista viveu. Ainda que as versões sobre o atentado contra Lacerda capenguem no charco da dúvida, a orquestração dos meios de comunicação conservadores, alimentada por recursos forâneos – como documentos posteriores demonstraram – se concentrou em culpar o presidente Vargas.

Quando recordamos os fatos – que se repetiram em 1964, contra Jango – e vamos um pouco além das aparências, comprova-se que não era a cabeça de Vargas que os conspiradores estrangeiros e seus sequazes nacionais queriam. Eles queriam, como antes e depois, cortar as pernas do Brasil. Em 1954, era-lhes crucial impedir a concretização do projeto nacional do político missioneiro – que um de seus contemporâneos, conforme registra o mais recente biógrafo de Vargas, Lira Neto, considerava o mais mineiro dos gaúchos. Vargas, que sempre pensou com argúcia, e teve a razão nacional como o próprio sentido de viver, só encontrou uma forma de vencer os adversários, a de denunciar, com o suicídio, o complô contra o Brasil.
Os golpistas, que se instalaram no Catete com a figura minúscula de Café Filho, continuaram insistindo, mas foram outra vez derrotados em 11 de novembro de 1955. Hábil articulação entre Jango, Oswaldo Aranha e Tancredo, ainda nas ruas de São Borja, depois do sepultamento de Vargas, levara ao lançamento imediato da candidatura de Juscelino, preenchendo assim o vácuo de expectativa de poder que os conspiradores pró-ianques pretendiam ocupar. Juscelino não era Vargas, e mesmo que tivesse a mesma alma, não era assistido pelas mesmas circunstâncias e teve, como todos sabemos, que negociar. E deu outro passo efetivo na construção nacional do Brasil.
Os anos sessenta foram desastrosos para toda a América Latina. Em nosso caso, além do cerco norte-americano ao continente, agravado pelo espantalho da Revolução Cubana (que não seria ameaça alguma, se os ianques não houvessem sido tão açodados), tivemos um presidente paranóico, com ímpetos bonapartistas, mas sem a espada nem a inteligência de Napoleão, Jânio Quadros. Hoje está claro que seu gesto de 25 de agosto de 1961, por mais pensado tenha sido, não passou de delírio psicótico. A paranóia (razão lateral, segundo a etimologia), de acordo com os grandes psiquiatras, é a lucidez apodrecida.
Admitamos que Jango não teve o pulso que a ocasião reclamava. Ele poderia ter governado com o estado de sítio, como fizera Bernardes. Jango, no entanto, não contava – como contava o presidente de então – com a aquiescência de maioria parlamentar, nem com a feroz vigilância de seu conterrâneo, o Procurador Criminal da República, que se tornaria, depois, o exemplo do grande advogado e defensor dos direitos do fraco, o jurista Heráclito Sobral Pinto. Jango era um homem bom, acossado à direita pelos golpistas de sempre, e à esquerda pelo radicalismo infantil de alguns, estimulado pelos agentes provocadores. Tal como Vargas, ele temia que uma guerra civil levasse à intervenção militar estrangeira e ao esquartejamento do país.
Vozes sensatas do Brasil começam a levantar-se contra a nova orquestração da direita, e na advertência necessária aos ministros do STF. Com todo o respeito à independência e ao saber dos membros do mais alto tribunal da República, é preciso que o braço da justiça não vá alem do perímetro de suas atribuições.
É um risco terrível admitir a velha doutrina (que pode ser encontrada já em Dante em seu ensaio sobre a monarquia) do domínio do fato. É claro que, ao admitir-se que José Dirceu tinha o domínio do fato, como chefe da Casa Civil, o próximo passo é encontrar quem, sobre ele, exercia domínio maior. Mas, nesse caso, e com o apelo surrado ao data venia, teremos que chamar o povo ao banco dos réus: ao eleger Lula por duas vezes, os brasileiros assumiram o domínio do fato.
Os meios de comunicação sofrem dois desvios à sua missão histórica de informar e formar opinião. Uma delas é a de seus acionistas, sobretudo depois que os jornais se tornaram empresas modernas e competitivas, e outra a dos próprios jornalistas. A profissão tem o seu charme, e muitos de nossos colegas se deixam seduzir pelo convívio com os poderosos e, naturalmente, pelos seus interesses.
O poder executivo, o parlamento e o poder judiciário estão sujeitos aos erros, à vaidade de seus titulares, aos preconceitos de classe e, em alguns casos, raros, mas inevitáveis, ao insistente, embora dissimulado, racismo residual da sociedade brasileira.
Lula, ao impor-se à vida política nacional, despertou a reação de classe dos abastados e o preconceito intelectual de alguns acadêmicos sôfregos em busca do poder. Ele cometeu erros, mas muito menos graves e danosos ao país do que os de seu antecessor. Os saldos de seu governo estão à vista de todos, com a diminuição da desigualdade secular, a presença brasileira no mundo e o retorno do sentimento de auto-estima do brasileiro, registrado nos governos de Vargas e de Juscelino.
É isso que ficará na História. O resto não passará de uma nota de pé de página, se merecer tanto.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Blog Altamiro Borges

Assange: Cabra marcado para morrer



Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:


Um jornal australiano obteve um documento do governo americano em que Julian Assange e o Wikileaks são classificados como “inimigos do Estado”.

A notícia está repercutindo em todo o mundo, e com razão.

“Inimigos do Estado” é a mesma categoria em que estão catalogados o Talibã e a Al-Qaeda, por exemplo. Na prática, pela legislação de segurança americana, significa que eles podem ser presos sem processo formal por tempo indeterminado.

Podem também ser executados. Mortos. Eliminados. Como se estivéssemos vivendo o seriado 24 horas.

Onde, no Brasil, o repúdio à perseguição movida pelo governo americano a Assange? Ninguém se importa com ele? Algum colunista brasileiro o defendeu? Assange foi alvo de um único editorial? Ou, por criticar os Estados Unidos, ele não pode ser defendido?

Não só a perseguição americana já passou dos limites. Também a intransigência inglesa em não dar a ele salvo conduto para que pegue um avião rumo ao Equador vai passar para a história como um dos maus momentos da história recente do Reino Unido, em seu alinhamento com a política externa americana.

Assange está confinado na modesta embaixada equatoriana em Londres. Ontem, numa fala na ONU, o ministro das relações exteriores do Equador, Ricardo Patiño, alertou para os riscos físicos que Assange enfrenta em sua presente situação. Lembremos que o pretexto para isso é o sexo que duas suecas fizeram consensualmente com ele.

Por teleconferência, Assange também falou ontem num fórum da ONU. Como sempre, num gesto de elegância, falou menos de si mesmo e mais do soldado Bradley Manning. (Também numa atitude admirável, Assange recusou um prêmio de “liberdade de expressão” concedido pela editora argentina Perfil — que no Brasil é sócia da Abril na Caras — quando soube que também estava sendo homenageado um jornalista do Equador que recebe subvenções americanas e trata a patadas o governo constitucional de Rafael Correa.)

Manning é acusado de ter passado ao Wikileaks os documentos americanos que, entre outras coisas, mostravam a Guerra do Iraque como ela era e é, não como os Estados Unidos fingiam que era.

Manning está preso à espera de julgamento, e pode ser condenado à morte por traição. Até que ativistas fizessem pressão, ele foi submetido a condições degradantes numa cadeia militar americana. Estava privado de qualquer contato com outros presos, e durante boa parte do tempo era impedido de vestir qualquer roupa. Tecnicamente, como lembraram os ativistas, estava sob tortura contínua.

E agora: o mundo vai esperar o quê para gritar pela libertação de Assange? Que ele morra?

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Até que enfim alguem ,na imprensa diz algo do interesse público e não particular.

Saiu no JB:

Neri anuncia “queda espetacular” das desigualdades


Especialistas atribuem quadro a causas como expansão do mercado de trabalho

Jornal do Brasil
Carolina Mazzi

A queda “espetacular” na desigualdade social do Brasil, anunciada nesta terça-feira (25) pelo economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), foi determinada, principalmente, pela expansão do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda e a ampliação no acesso à educação. Além destes, o crescimento de renda acima do Produto Interno Bruto (PIB) também foi um componente importante que reduziu a desigualdade a níveis inéditos no país. Estas são as conclusões de alguns especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.

Os números da pesquisa apontam uma queda consecutiva na desigualdade, “sem interrupções”, segundo Neri, nos últimos dez anos, o que possibilitou que o índice Gini (usado para medir a distribuição de renda em todo o mundo), fosse reduzido de 0,594 em 2001 para 0,527 dez anos depois. Neste tipo de medição, quanto mais perto do zero, melhor é a distribuição. “O Brasil está hoje no menor nível de desigualdade da história documentada”, disse o economista.

Segundo ele, apesar de ainda ser um dos países mais desiguais do planeta, um movimento como este nunca tinha acontecido. “Desde que a pesquisa começou, as mudanças eram quase nulas, o índice permanecia estável, com excessão da década de 60, quando a desigualdade aumentou”, analisou Neri.

Para o pesquisador do Ipea, Sergei Suarez Dillon Soares, que também participou da divulgação, as pesquisas foram positivas em todos os aspectos e mostram sustentabilidade na queda da desigualdade social do país, já que ela está sustentada no mercado de trabalho.

“Se esta queda estivesse baseada apenas nas transferências, como bolsa família, estes números seriam inferiores, mas a desigualdade diminuiu baseada na entrada de mais pessoas no mercado, além de uma melhora considerável na renda das famílias, que tem tido crescimento bem acima do PIB”, comentou.

Problemas

A economista Maria Beatriz Albuquerque David, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concorda que os dados são positivos, principalmente para a massa assalariada nacional. “Esta queda se deve à expansão do trabalho e ao aumento da renda, e claro, do Bolsa Família e outras políticas de transferência de renda”, analisa. Porém, ela alerta que a metodologia do Ipea acaba escondendo alguns tipos de rendimento, que caso fossem usados, iriam interferir no resultado final.

“Os números são bons, mostram uma melhora indiscutivel na renda dos assalariados, a diminuição da pobreza. Mas ela está ligada apenas às pessoas que trabalham. O rendimento do capital, ou seja, a renda sob patrimônio, os mais ricos, não foi contemplada”, afirma.

Segundo a especialista, “os níveis de desigualdade seriam muito maiores, caso se utilizassem os dados da renda”. Soares concorda com a professora, mas explica que avaliar os níveis de rendimento do capital “é muito difícil”, pois os dados são de acesso restrito. Ele ainda observa que, mesmo se o Gini piorasse na medição, a tendência de queda da desigualdade poderia se mostrar ainda mais acentuada. “Nós não estamos trabalhando apenas com os números frios, mas com uma tendência. O que vemos é que se o mercado de trabalho está ganhando espaço, provavelmente o rendimento de capital está perdendo terreno”, opina.

Ele esclarece que a metodologia do Ipea é baseada nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), coletados pelo IBGE, e que apesar de falhos, ainda conseguem registrar uma pequena parte deste capital. “Cerca de 20% dos números são de registros fora dos assalariados. Então, apesar de não medir bem, ainda sim, coleta alguma coisa”, opinou.

Maria Beatriz ainda questiona a sustentabilidade desta queda a longo prazo. “A economia está crescendo, mas à base de expansão de crédito e renúncia fiscal. Estas medidas vão atingir seu teto, com o endividamento das famílias, dos bancos. A construção civil já começou a demitir”, explicou.

Educação é “fundamental”

Sem “sombra de dúvida”, a ampliação no acesso à educação foi uma das principais razões para que a desigualdade diminuísse no Brasil, afirma com convicção o economista Fernando de Hollanda Barbosa Filho, professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV-RJ). Segundo ele, a maior escolaridade do brasileiro foi fundamental para que sua renda aumentasse consecutivamente.

“A educação incorporou pessoas que antes não tinham acesso ao mercado de trabalho. Claro que esta ampliação do mercado, o aumento do salário mínimo foram aspectos importantes, mas a escola garantiu aumento na renda”, analisou. O especialista acredita que, por este motivo, a diminuição da desigualdade é sustentável e a longo prazo. “É preciso investir ainda mais na qualidade e garantir que os alunos completem o ciclo de ensino”, argumenta.

Sergei Suarez Dillon Soares também apontou, brevemente, o problema na educação do país como um dos entraves para a melhora ainda mais significativa do índice. “Não dá para comentar muito, pois não temos dados suficientes, mas posso dizer que é o único aspecto com notícias menos positivas”, afirmou.

Bolsa Família

Os economistas foram unânimes ao elogiar os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Para eles, este foi um dos aspectos diferenciados da última década no combate à desigualdade social. “É um instrumento muito eficaz pois encontra, a um custo muito baixo, as pessoas que estão vivendo na extrema pobreza. Eu diria que é, atualmente, até mais importante que o salário mínimo”, acredita Barbosa Filho

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Retirado do Blog da Maria Angelica


Autor: Walter Falceta Jr.



Ontem, por ocasião dos debates em torno das declarações do "sabe-tudo" Emir Sader, o colega Thales Migliari nos brindou com a foto em que a torcida corinthiana desafia os tiranos militares e exibe uma faixa em favor da Anistia Ampla Geral e Irrestrita.



Essa imagem costuma frequentar os debates sobre futebol e política, mas pouca gente conhece os segredos dessa intervenção histórica, ocorrida em 1979, ainda na vigência da Ditadura.



O protagonista do caso é o CORINTHIANO Antonio Carlos Fon, jornalista respeitado e ético, que ganhou os principais prêmios brasileiros da categoria, como o Esso e o Vladimir Herzog.



Mestiço do mundo, Fon é 50% chinês, por contribuição do pai. Pela parte da mãe, tem 25% de sangue índio, 25% de sangue africano.



Foi membro da Aliança Libertadora Nacional, participando ativamente da resistência à Ditadura. Era apelidado de "pequeno grande guerreiro", por ser baixinho, magrinho e destemido.



Foi preso, torturado e respondeu a processo instaurado com base na famigerada Lei de Segurança Nacional.



Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, no início da década de 1990.



Abaixo, numa fusão de dois depoimentos, um deles para a Fundação Perseu Abramo, ele conta, com suas próprias palavras, como a resistência democrática e a Fiel marcaram um gol de placa contra a repressão:



“ Em 1979, nós parentes e amigos de perseguidos políticos, tínhamos fundado o Comitê Brasileiro pela Anistia.



Mas, a palavra de ordem anistia estava muito restrita aos intelectuais, setores mais politizados e aos familiares e discutíamos muito como levar isso para o povo.



Um dia eu estava conversando com o Chico Malfitani que trabalhava comigo na Veja, e disse para ele: ‘O que precisamos mesmo é levar a palavra de anistia para a torcida do Corinthians, para o povo’.



O Chico era um dos pioneiros da Gaviões e disse: ‘Vamos fazer’. Combinamos fazer isso num jogo Corinthians e Santos.



No dia, o Chico teve um problema familiar e chegou um pouco mais tarde, mas nós entramos, conversamos com o pessoal com quem ele tinha acertado e avisamos somente uma pessoa na imprensa: Osmar Santos, que era um locutor esportivo mais conhecido e de esquerda, ligado às lutas democráticas.



E o Osmar Santos, anunciou: ‘A Gaviões vai fazer uma surpresa quando o time entrar em campo’. E isso levou todas as outras rádios, emissoras de TV e jornais a ficar esperando.



Na hora em que o time entrou, muitos fogos, aquela fumaça... E abrimos a faixa. Na hora que a fumaça baixou estava lá: Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.



Quase todo mundo fotografou e isso foi para o Brasil inteiro. E realmente conseguimos o objetivo; só que a PM tentou subir para nos prender.



Quando a polícia começou a subir os degraus da arquibancada, os torcedores da Gaviões da Fiel deram-se os braços e fecharam o caminho.



Os soldados da Polícia Militar ainda tentaram forçar a passagem mas, nas fileiras de trás, milhares de outros corinthianos, braços dados, formando uma massa compacta, começaram a gritar, ameaçando descer as escadarias do estádio do Morumbi.



O comando do policiamento deve ter avaliado a situação e dado uma contra-ordem, porque os PMs recuaram, desistindo de chegar até nós.



- "Eles estavam falando da nossa faixa"- dizia um torcedor ao meu lado, rádio de pilha colado no ouvido, boné e camiseta do Corinthians e um sorriso nos lábios.



Eu jamais o vira antes e nem o encontrei depois, mas nunca o pronome possessivo na primeira pessoa do plural (nossa) me pareceu tão saboroso.



- "Anistia, ampla, geral e irrestrita" – dizia a faixa, e o fato dele a chamar de "nossa" tinha, para mim, pelo menos, um significado que ultrapassava em muito aquela fugaz solidariedade que se estabelece nos campos de futebol entre torcedores do mesmo time: a bandeira era minha e da torcida do Corinthians.



Só que o outro companheiro que tinha levado a faixa, Carlos MacDowell, era santista e ele disse: ‘Fon, não vou ficar assistindo o jogo aqui na torcida do Corinthians. Vou assistir da torcida do Santos’.



Ele desceu e a PM o prendeu. Ele ficou preso pouco tempo, porque já tínhamos um esquema com o advogado Luís Eduardo Greenhalg, que o liberou no DOPS.



O engraçado, é que tive que fazer uma matéria para a Veja e ir ao DOPS para entrevistar o Edsel Magnotti, delegado titular que era quem prendia e torturava a gente.



E aí ele demorou um pouco para me receber. Quando entrei, atrás da mesa dele estava uma ampliação enorme da faixa e eu lá, segurando ela. Era aquela coisa, como se ele tivesse dizendo: ‘Olha aí seu filho da mãe, eu sei que foi você’."



* Naquele jogo, realizado no Morumbi, com público de 108 mil pessoas, Sócrates abriu o placar, aos 26 do primeiro tempo, mas João Paulo empatou para o Santos, 11 minutos depois.



O segundo tempo foi duramente disputado e já se imaginava um empate. Aos 36 minutos do segundo tempo, no entanto, Palhinha marcou e decretou mais uma vitória corinthiana.



Naquele ano, o Corinthians foi campeão mais uma vez!



Crédito do texto e de imagem

Walter Faceta Júnior/ facebook.com/groups/brigadamiguelbataglia

Esquerda brasileira....quanta empulhação

O lamentável erro de Emir Sader


Autor: Walter Falceta Jr.

Frequentemente, o grande equívoco do "magister, sociologiae" é acreditar-se menos professor e mais magistrado das ideias públicas, enfermidade que nos assola à direita e à esquerda.

Quando expõe um frustração pessoal, o equívoco veste a fantasia do dogma. Não importa se um ou outro pode submeter a opinião ao crivo epistemológico. O que vale, nesses casos, é a autoridade do mestre.

Despertamos nesta segunda com a lamúria do senhor Emir Sader, eminente pensador da esquerda brasileira:

- Favorecer o Corinthians sempre faz parte da política social do governo de opção preferencial pelos pobres?

O chororô de torcedor provocaria risadas e outras provocações fraternais se não ocupasse lugar em página cujo bordado inclui análises acadêmicas do cenário político, críticas à mídia hegemônica e, enfim, propaganda eleitoral.

Ali, como previsível, o debate instaurado foi outro. Reacendeu preconceitos, gerou desconforto e exibiu arrogâncias e desconhecimentos.

Não é de hoje que a intelectualidade brasileira irrompe no mundo do futebol, ditando sentenças.

Lima Barreto fundou Liga Brasileira Contra o Futebol, argumentando que o esporte desencaminhava os jovens e insultava as tradições brasileiras.

Em sua estocada lamentosa, Emir Sader excede-se no erro, o que, pelo via da comparação, parece perigoso a quem empenha sua pena, diariamente, na análise da política nacional.

Primeiramente, a qual "governo" alude o intelectual? Seria àquele que ele próprio apoia em sua incansável militância?

Se a resposta é "sim", convém que alerte seus pares da urgência de uma reforma ética na condução das arbitragens.

Resta cá uma dúvida, será que Dilma Rousseff reúne regularmente seus ministros para estabelecer estratégias de afago ao Corinthians e ao Flamengo (outro clube citado por Sader em seus comentários)?

Estranha também que Sader tenha pinçado da fustigada ala progressista da Igreja Católica um termo para destilar seu veneno dominical.

Será uma crítica velada (ou nem tanto) às ações pastorais desenvolvidas no Brasil por Dom Paulo Evaristo Arns, por Dom Helder Câmara e pelos irmãos Leonardo e Clodovis Boff?

Provavelmente, não. Mas é certo que a frase cabeçuda de Sader não traduz respeito pelo trabalho de seus confrades na esquerda.

Horas depois da postagem, Sader foi educamente repreendido por Mônica Toledo, advogada, corinthiana, mas também petista, neta de um operário que trabalhou por 50 anos nas Indústrias Matarazzo e serviu Prestes como guarda-costas voluntário.

O debate, que agora foi apagado do Facebook (infortúnio técnico?), mostra um Sader persistente na retórica de desqualificação do objeto de análise.

Curiosamente, sua tática de argumentação não difere muito daquela dos próceres da direita conservadora em Veja e Folha de S. Paulo.

Cabe informar que a indignação de Sader tem relação com um complicadíssimo lance ocorrido no primeiro tempo da partida entre Botafogo e Corinthians, no Rio de Janeiro.

Num ataque do time paulista, a bola é rebatida pelo guarda-metas. O argentino Martinez prepare-se para arrematar quando é derrubado por um adversário.

O árbitro assinala pênalti. No emaranhado de situações, ele e o auxiliar não puderam ver que atleta corinthiano se encontrava em impedimento quando do chute que originou a jogada.

Irregularidades como essa ocorrem aos montes, todos os dias, nos jogos disputados no campo de várzea do Vila Mafra e também nas pomposas arenas europeias, como Wembley e Camp Nou.

O próprio Botafogo só obteve seu único título brasileiro, em 1995, por conta de uma arbitragem desastrosa do polêmico Marcio Rezende de Freitas.

Sader não foi capaz de considerar corriqueiro o fato. Imediatamente, decretou a culpa do árbitro e de seu auxiliar, incluindo-os num suposto esquema de fabricação de resultados.

Curioso é que os mesmos críticos de Joaquim Barbosa, o intempestivo juiz do STF, repitam no cotidiano aquela que é considerada sua prática mais reprovável: condenar por impulso ou conveniência.

Se Sader tivesse lançado olhos aos "autos", veria que o Corinthians é, no Brasileiro 2012, justamente o time MAIS PREJUDICADO pelas arbitragens.

Não fossem os erros de arbitragem, teria sete pontos a mais, saltando do oitavo para o quarto lugar na classificação geral, conforme atesta o Placar Real (www.placarreal.com.br).

Em seu debate com Monica Toledo, o intelectual Sader reproduz a tática de desqualificação e generalização que tanto critica na propaganda eleitoral de ícones da direita, como o tucano José Serra.

Ele afirma, com convicção, que vários presidentes do Corinthians estavam alinhados com as forças conservadoras, como Wadih Helu.

Uma verdade, sem dúvida, mas que não define o objeto de análise. Seria o mesmo que desqualificar os brasileiros por, na mesma época, terem sido governados por Costa e Silva e Médici.

Convém lembrar que durante os anos de Helu o Corinthians não conquistou títulos. Viveu-se nessa época o grande jejum, que ao todo durou 22 anos, de 1954 a 1977.

Sader, obviamente, não conhece a história do Corinthians. Não sabe que foi fundado como o clube dos excluídos, dos operários, dos carroceiros, dos braçais e das lavadeiras.

Sader não sabe (e deveria saber, como homem de tantas sociologias) que a fundação do clube reflete a busca por protagonismos na São Paulo em industrialização.

Sader não descobriu a forte influência do anarquismo humanista na construção do sonho corinthiano. Certamente, não sabe que os pioneiros liam La Battaglia e ouviam lições da Escola Libertária Germinal. 

O Corinthians é grande e popular. E nunca porque algum governo o beneficiou. Cresceu justamente por representar um "não" ao poder estabelecido das elites bandeirantes.

Se Sader tivesse rigor em suas análises, procuraria saber o que ocorreu na partida entre o alvinegro e o Ypiranga, logo após o fim da Greve de 1917.

Sader conviveu com Sócrates e aprendeu apenas o que julgou conveniente. É evidente que os ex-jogador criticava as gestões conservadoras no clube. 

Porém, o Doutor também valorizava o ethos libertário corinthiano. Segundo ele, somente no clube poderia surgir a Democracia Corinthiana.

Sem dúvida, existem burgueses corinthianos, porque a instituição imaginada pelo ex-funcionário da Light e alfaiate Miguel Bataglia pretendeu sempre gerar comunhões de amor.

Os fundadores pensavam em cooperações ativas, em solidariedades, em miscigenações, em universalização de direitos.

Por isso, um time modesto da várzea logo arregimentou tantos militantes, tão saudavelmente diversos. Por isso é gigante. Por isso, move e comove milhões de brasileiros, inclusive Luiz Inácio da Silva.

Fosse mais atento e diligente, Sader descobriria que os primeiros movimentos públicos do Partido dos Trabalhadores, em seu berço paulista, adaptavam palavras de ordem e coreografias do Corinthians.

Talvez seja o momento de Sader rever seus conceitos. Muitos dos predicados do PT original tinham raízes num jeito de ser corinthiano. Perdidos, conduzem a agremiação para o canal raso da política convencional.

Walter Falceta Jr. é jornalista

MUNDIAL/DEZ/2012

Fonte: Globoesporte.com

Qual o interesse do Ocidente em "demonizar" o Islã?







7 coisas que não lhe contaram sobre a "#MuslimRage":

Como qualquer pessoa, a maioria dos muçulmanos acharam o vídeo islamofóbico de 13 minutos de má qualidade e ofensivo, e os protestos se espalharam rapidamente, tocando em feridas compreensíveis e duradouras sobre o neo-colonialismo dos EUA e a política externa ocidental no Oriente Médido, assim como a sensibilidade religiosa no que diz respeito a representações do profeta Maomé. Mas frequentemente a cobertura de mídia omite algumas informações importantes:
  1. As estimativas iniciais mostram que a participação em protestos contra o filme representam de 0,001 a 0,007% da população mundial de muçulmanos: 1.5 bilhão de pessoas -- essa porcentagem representa uma pequena fração do número de pessoas que marcharam pela democracia durante a Primavera Árabe.
  2. A grande maioria dos protestos foram pacíficos. As violações das embaixadas estrangeiras foram quase todas organizadas ou nutridas por indivíduos do movimento salafista, um grupo radical islâmico que se preocupa mais com destruir os grupos islâmicos populares moderados.
  3. Oficiais líbios e americanos de alto escalão estão divididos sobre se o assassinato do embaixador dos EUA na Líbia foi planejado previamente para coincidir com o aniversário do 11 de setembro, e portanto não estaria relacionado com o filme.
  4. Além dos ataques feitos pelos grupos militantes radicais na Líbia e Afeganistão, uma avaliação das notícias atuais feita no dia 20 de setembro sugeriu que os manifestantes mataram, ao todo, zero pessoas.
  5. Quase todos os líderes mundiais, muçulmanos ou ocidentais, condenaram o filme, e quase todos eles condenaram qualquer tipo de violência que possa vir a acontecer enquanto resposta.
  6. O papa visitou o Líbano no auge da tensão, e líderes do Hezbollah participaram do sermão papal, abstiveram-se de protestar sobre o filme até que a santidade deixasse o local, e clamaram por mais tolerância religiosa. Sim, isso aconteceu.
  7. Após o ataque em Bengazi, cidadãos comuns foram às ruas da cidade e em Tripoli com cartazes, muitos deles escritos em inglês, com pedidos de desculpas e afirmando que a violência não os representava, nem sua religião.

Além dos pontos listados acima, há um grande número de notícias que foram ignoradas pela mídia na semana passada para dar margem a capa da revista Newsweek, a #MuslimRage e a cobertura dos conflitos. Na Rússia, dezenas de milhares protestaram nas ruas de Moscou contra o presidente russo Vladimir Putin. Centenas de milhares de portugueses e espanhois marcharam em protestos contra austeridade; e mais de um milhão de catalãos marcharam por independência.

Ira Muçulmana ou Estratégia Salafista

Conheça o Sheikh Abdallah, o apresentador de TV salafista que divulgou publicamente o filme. Foto: Ted Nieter
O filme "A Inocência dos Muçulmanos" foi escolhido e distribuído com legendas por Salafistas da extrema direita -- seguidores radicais de um movimento islâmico apoiado há muito tempo pela Arábia Saudita. O filme era uma produção barata, desastre no YouTube até que o apresentador de TV egípcio salafista, Sheikh Khaled Abdullah (à direita) começou a divulgá-lo para seus espectadores no dia 8 de setembro. A maioria dos muçulmanos insultados ignoraram o filme ou protestaram pacificamente, mas os salafistas, de posse de suas bandeiras pretas, lideravam os provocadores dos protestos mais agressivos que invadiram embaixadas. Os líderes do partido salafista egípcio participaram do protesto em Cairo que culminou na invasão da embaixada dos EUA.

Como a extrema direita nos EUA ou na Europa, a estratégia salafista e arrastar a opinião pública para a direita, aproveitando-se de oportunidades para espalhar o ódio e demonizar os inimigos de sua ideologia. Essa abordagem lembra muito o apelo anti-muçulmano do pastor americano Terry Jones (o primeiro a divulgar o filme no Ocidente) e outros extremistas nesse lado do mundo. Entretanto, nas duas sociedades os moderados ultrapassam (e muito!) em número os extremistas. Uma figura pública da Irmandade Muçulmana do Egito (o mais forte e popular oponente político dos salafistas no Egito) escreveu um artigo no New York Times dizendo: "Não responsabilizamos o governo americano ou seus cidadãos pelos atos daqueles que abusam das leis que protegem a liberdade de expressão".

A boa cobertura jornalística

Um solitário grupo de jornalistas e acadêmicos se aproximaram dos protestos com a intenção de entender de verdade as forças por trás das manifestações. Entre eles, Hisham Matar, que descreve com afinco a tristeza na cidade de Benghazi após a morte do embaixador Steven, e Barnaby Phillips, que explora como os conservadores islâmicos manipularam o filme em prol de si mesmos. A antropóloca Sarah Kendzior alerta para que não se trate o mundo muçulmano como uma unidade homogênea. E o professor Stanley Fish aborda a seguinte questão: porque tantos muçulmanos são tão sensíveis a representações muito pouco lisonjeiras do Islã

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Do mesmo blog. Imperdivel

Leitora da Folha se espanta com o PSDB



Por Antônio Mello, em seu blog:

É no que dar viver sequestrado da realidade por Folha, Estadão, Veja e Organizações Globo. Uma leitora da Folha, que, pelo que lê diariamente no jornal, deveria achar que o PT era o partido mais corrupto e ficha-suja do Brasil, ao contrário do PSDB, que seria o mais limpinho, surpreendeu-se com reportagem recente da própria Folha que mostra exatamente o oposto: que o PSDB é o partido com o maior número de fichas-sujas do Brasil.




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Surpreendeu-me o levantamento apresentado pela Folha cruzando candidatos impedidos pela Lei da Ficha Limpa e partidos políticos. O PMDB tem fama de fisiológico e o PT está enroscado com o julgamento do mensalão, mas quem lidera o ranking dos "fichas-sujas" é o PSDB, que por esses dias tem destacado a questão da honestidade e moral em suas campanhas. Que ironia.- Fabiana Tambellini. [Fonte]
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Muito se fala, e se condena (eu também condeno), o uso do sequestro de pessoas como arma na luta política. Mas pouco se fala num outro sequestro, mais sutil, aquele em que não se sequestra a pessoa da realidade, mas se sequestra a realidade da pessoa, como escrevi aqui:

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Quem acompanha o Brasil pelos jornalões, pelas emissoras de TV – em especial pela Rede Globo – tem sua realidade sequestrada. Sem um mínimo de senso crítico, essa pessoa acredita que está diante da verdade, que o que lhe afirmam Veja, Folha, Estadão, O Globo, a Rede Globo, é um retrato fiel da realidade.

Aí se desenvolve a síndrome de Estocolmo, quando a vítima se identifica e/ou tenta conquistar seu sequestrador (e basta ler os comentários nos pitblogs para entender o que digo).

Por mais que se tente mostrar a essas pessoas que a realidade lhes foi sequestrada, elas resistem, defendem seus pitblogueiros e seus veículos do coração. Isso acontece mesmo que a realidade os desminta, como nos casos do trágico acidente de Congonhas, do caos aéreo patrocinado e agora da falsa epidemia de febre amarela, que provocou uma absurda correria da população aos postos de vacinação para se prevenir de uma epidemia que só existia na mídia.

A cegueira é tão grande, que levou a enfermeira Marizete Borges de Abreu, de 43 anos, a se vacinar duas vezes contra a febre amarela, ainda que ela não fosse viajar para uma das áreas de risco, ainda que ela tivesse restrições físicas (lúpus - caso em que a vacina não deve ser tomada), ainda que ela soubesse (como enfermeira) que não se deve tomar mais de uma dose da vacina por vez (outra dose só em dez anos).

Com sua realidade sequestrada pela mídia, Marizete vacinou-se duas vezes num prazo de uma semana e veio a falecer, vítima de falência múltipla dos órgãos.

Por isso, quando se fala de sequestro, deve-se salientar que ambas as formas de sequestro são condenáveis, mas a população desinformada pela mídia corporativa só toma conhecimento de uma, enquanto é manipulada pela outra

Copiado do Altamiro Borges

FHC despreza a inteligência alheia



Por Mauro Santayana, em seu blog:

Houvesse sido o seu governo o mais limpo e mais honrado de toda a nossa história republicana e, naturalmente, o Sr. Fernando Henrique Cardoso manteria silêncio sobre os seus sucessores. Não lhe caberia censura-los, nem elogia-los, deixando o juízo à transparência dos fatos.


Quando alguém despreza a inteligência alheia, e é o que faz o ex-presidente, infirma a própria inteligência. Em nenhum governo houve tão rápido enriquecimento de agentes públicos, quanto no seu. Tudo se fez de forma asséptica, com cuidadoso planejamento legal, para que os brilhantes rapazes da equipe econômica saíssem por uma porta – a das instituições públicas – e entrassem pela outra – a do sistema financeiro e das empresas privatizadas, ganhando milhões neste movimento. É provável que, em nenhum dos casos, houvesse infração às leis, ajustadas previamente ao programa, a partir do governo Collor. Pode ter sido “legal”, mas contrariou todas as regras morais e feriu profundamente o mandamento ético.

É claro que sempre há descuidos, como houve o do “adjutório” ao banqueiro Cacciola. Cacciola, que pôde fugir para a Itália, foi laçado pelas circunstâncias e acabou indo para a prisão. Os outros implicados, diretores do Banco Central, apesar de condenados, respondem em liberdade. O dinheiro desapareceu no vórtice da crise.

Nenhum chefe de Estado, antes dele – e, até agora - nem depois dele, violou a Constituição a fim de reeleger-se, mediante o suborno de parlamentares com favorecimentos e, de acordo com as denúncias conhecidas, dinheiro vivo. A emenda da reeleição já se encontra na História como um dos momentos mais constrangedores da vida republicana.

Em entrevista a um portal da internet, há alguns meses, Fernando Henrique se referiu ao Ministro Gilmar Mendes – que ele nomeou – como “corajoso”. Não lhe pode ser negada a mesma coragem. A coragem, por exemplo, de se referir aos fatos lamentáveis da Ação 470, em julgamento pelo STF, como se referiu, esquecendo-se de que homens de seu partido se encontram sob suspeita de atos semelhantes. O publicitário Marcos Valério, é o que se sabe, sempre agiu com neutralidade partidária. Em lugar do ataque a Lula, seria melhor a Fernando Henrique um ato de contrição.

No julgamento dos pósteros, Lula, com todos os seus acertos, erros e defeitos, será lembrado como o sertanejo que entrou para a História, arrombando-a com o próprio peito, como fazem os pobres. E Fernando Henrique será lembrado como o “intelectual” arrogante, que chamou o seu próprio povo de caipira, e os aposentados de vagabundos. Ele, sim, é até hoje fascinado com os estrangeiros, embasbacado com Paris e Boston, frustrado por não ter nascido no Marais do século 18, nem na Nova Inglaterra de Franklin e Jefferson.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Agência Carta Maior; imperdível



06/09/2012

7 de setembro: cada governo faz o seu


Em setembro de 2002, nos estertores do governo do PSDB, o risco-Brasil atingia 2.443 pontos.

Medida de vulnerabilidade de uma economia --do ponto de vista dos credores-- cada 100 pontos de risco equivale a 1% de taxa adicional de juro. A chance de um calote brasileiro então era tida como muito alta.

Para quebrar as resistências ao passar o chapéu o governo FHC via-se obrigado a pagar uma sobretaxa de quase 24,5% acima do juro vigente nos EUA. Numa operação externa feita esta semana pelo governo Dilma, esse plus registrou um recorde histórico de baixa: foi de apenas 1,1%.

O oposto vivido no governo do PSDB reduz a margem de soberania de um país a zero. A independência política é ornamental. Canta-se o Hino, hasteia-se a bandeira. Entrega-se tudo o mais que dá sustento à palavra Nação.

Sem o manejo endógeno das contas externas é impensável fazer política de desenvolvimento ou articular a defesa da industrialização. Menos ainda avançar na defesa da principal fronteira da soberania no século XXI: a justiça social.

Delega-se a sorte e o azar aos banqueiros. Em setembro de 2002, depois de 8 anos nas mãos do PSDB, o Brasil era isso: um pangaré faminto tratado a sabugo e chicote de marmelo pelos mercados.


FHC cumpria exigências velhas, fazia concessões novas, arrastava a empáfia num tanque de areia movediça; a cada passo afundava mais a perna.

Em setembro de 2002 a lama já oscilava no estreito intervalo entre o lábio e o nariz.

Dez anos depois, neste setembro de 2012, o risco país é de 110 pontos. Sim, a 'herança pesada' de Lula, na douta avaliação do sociólogo encabrestado pelos banqueiros em 2002, permitiu que o Tesouro Nacional colocasse nesta 4ª feira US$ 1,3 bilhão em títulos de 10 anos no mercado internacional, pagando apenas 1,1% acima do juro norte-americano.

O menor piso da história teve uma das maiores procuras do mercado. Diferente do calvário vivido em setembro de 2002, a demanda pelos papéis brasileiros foi quatro vezes superior à oferta.

O risco-país em si não define a quaidade de vida de uma nação.

A Argentina tem um risco elevado porque impôs um desconto de 70% da dívida aos seus credores em 2001. Usou a folga para melhorar substancialmente as condições de vida de seu povo e de seu crescimento.

Não foi essa a lógica que depositou a soberania brasileira nas mãos dos mercados em 2002 .

Ao contrário. A taxa de juro havida disparado e beirava os 25% (hoje o Brasil tem uma taxa de juro real inferior a 2%) ; a inflação passava de 12%, com o desemprego igualmente rompendo esse patamar.

A dívida interna decolara. Mais de um terço dela estava dolarizada, o que restringia a margem de manobra para fomentar a exportação sem quebrar as contas fiscais.

O Brasil escorria na ampulheta da história.

As reservas disponíveis de US$ 36 bi (hoje são dez vezes maiores) cobriam apenas 1/6 do endividamento interno em dólares. O país fora esmurrado por equívocos estratégicos, socado pela ganância dos interesses unilaterais: estava quebrado por fora e sangrava por dentro.

A contrapartida no imaginário nacional era devastadora. Uma pesquisa do Sebrae de 2002 identificou "a baixa auto-estima e a valorização apenas do que vem de fora como os maiores problemas e os principais pontos fracos do nosso povo". Alguns anos antes o Latinobarômetro já havia constatado a mesma ladeira abaixao: o brasileiro era o povo com 'a mais baixa auto-estima de toda a América Latina: apenas 4% dos brasileiros declararam ter muita confiança em seus compatriotas, contra 36% dos uruguaios e 21% dos colombianos'.

A idéia de bem comum e de interesse público se esfarelava. Medo e incerteza era explorados pelo conservadorismo que maejava as raízes desses sentimentos.

O governo do PSDB já havia apelado ao guichê do FMI em 1999 para tomar US$ 40 bi em regime de urgência. Boa parte do patrimônio nacional fora privatizado. 'Torrado', como disse a Presidenta Dilma no pronunciamemto pelo 7 de setembro nesta 5ªfeira, 'para pagar dívida, gerando monopólio e ineficiência...'

E mesmo assim, em dezembro de 2002 o estoque total da dívida externa líquida (pública e privada, menos reservas) era de US$ 189,5 bilhões.

O país devia quase 38% do PIB. Precisava de mais de três anos de exportações (então de US$ 60,4 bi contra US$ 256 bi em 2011) para pagar sua dívida.

O então candidato da coalizão demotucana à presidência, José Serra, tirou da gaveta o que lhe restava, ademais de ser a sua especialidade: o terrorismo para amedrontar eleitores.

À falta de melhor argumento ele alarmava a classe média: a vitória de Lula levaria a 'argentinização' do país -- isso, quando a Argentina afundava no mesmo pântano neoliberal criado por Menén e Cavallo.

A crise mundial que se arrasta desde 2008 é mais grave, mais abrangente e corrosiva que aquela de 2002.

A contabilidade do país, no entanto, nunca foi melhor.

Embora a desigualdade resista e cobre audácia para ser enfrentada, os índices de pobreza, fome, desemprego, informalidade, apartheid universitário e de crédito, entre outros, repousam em níveis inéditos.

40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza desde 2003; outros 30 milhões ascenderam na pirâmide de renda. O Brasil é hoje o país menos desigual de sua história.

Altivez e soberania deixaram de ser adorno retórico da atuação do Itamaraty.

Como farsa, porém, sobrevivências do passado batem à porta do presente com aspirações de influenciar o futuro.

Foi essa a pretensão de FHC na patética tentativa de depositar uma 'herança pesada' de Lula no colo de Dilma.

A falta de pejo recebeu pronta admoestação da Presidenta. Em nota oficial, Dilma foi ao ponto e reavivou aos distraídos a realidade constrangedora daquele final de governo, quando o 7 de Setembro era uma contradição em termos espetada no calendário nacional.

"Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão”, disse a nota da Presidência da República nesta 2ª feira, antecipando em quatro dias os festejos, mas sobretudo o sentido da palavra 'independência' no Brasil de 7 de setembro de 2012.
Postado por Saul Leblon às 19:14

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Conversa Afiada/Fernando Morais/Jornal Estado de Minas

 

Um jingle me envergonhou em BH


Fernando Morais

Ao desembarcar no aeroporto da Pampulha, na semana passada, fui recebido com o abraço de um velho amigo mineiro. “Seja bem-vindo”, disse ele. “Que bom que você está de volta a Belo Horizonte.” Respondi que ninguém pode voltar a um lugar de onde nunca saiu. Parece um clichê, eu sei, uma frase retórica, mas é verdade. Nascido em Mariana, vivi na capital mineira até os 18 anos, quando me mudei para São Paulo. Um pedaço da minha alma, porém, ficou em Beagá, onde passei provavelmente os melhores anos da minha vida.

A caminho do hotel, ouvi no rádio do carro o jingle da campanha eleitoral do prefeito Márcio Lacerda, candidato à reeleição. A repetição musical do slogan “deixa o Márcio trabalhar” me deu a sensação de déjà-vu – ou déjà ouvi, para ser mais preciso. Seria capaz de jurar que já tinha ouvido aquela mesma musiquinha no rádio meses antes, quando estive na cidade para lançar um novo livro.

Para meu espanto, o amigo que me recebia explicou que não, eu não estava ficando louco. Adquirida pela prefeitura (com dinheiro público, naturalmente) e transformada em jingle oficial da administração, a música Não há lugar melhor que BH, da dupla César Menotti e Fabiano, foi martelada durante quatro anos na cabeça dos belo-horizontinos.

Quando chegou a campanha eleitoral, o que é que o prefeito fez? Subtraiu o refrão original “a prefeitura não para de trabalhar” e no lugar dele sapecou o “deixa o Márcio trabalhar”. Isso mesmo, como se a melodia fosse sua propriedade particular e não um bem pelo qual os contribuintes haviam pago. A apropriação parece ainda mais escandalosa quando se sabe que o atual prefeito de Belo Horizonte ocupa o segundo lugar entre os candidatos mais ricos do país, dono de um patrimônio declarado de mais de R$ 50 milhões.

A surpresa não terminou aí. Mais tarde, soube que a Justiça Eleitoral mineira já havia denegado duas vezes o pedido da oposição para que o absurdo fosse coibido e a música tirada do ar. No avião, de volta para São Paulo, eu me perguntava: se um administrador público faz isso em campanha eleitoral, quando os políticos estão sob o olhar vigilante dos eleitores e da imprensa, o que não fará no lusco-fusco do exercício do mandato?

PS: Um e-mail me informa que o juiz Maurício Soares, do TRE, acaba de determinar “a imediata suspensão de toda e qualquer propaganda eleitoral veiculada pela coligação ‘BH segue em frente’ que utilize a música ‘Não há lugar melhor que BH’, mesmo que de forma subliminar e instrumental.” Esse juiz viu, enfim, o que saltava aos olhos e ouvidos de Belo Horizonte: “É essa melodia, bem fixada na mente dos eleitores à custa do dinheiro público, que um dos candidatos usa em benefício de sua campanha, trazendo assim a desigualdade que a lei teve a intenção de proteger”. Ufa! O espírito mineiro tarda, mas não falha!

Conversa Afiada; copiado de Época


FHC, ex-presidente muito mimado
4/09/2012
Paulo Moreira Leite
Eu acho que os amigos e admiradores de Fernando Henrique Cardoso, situados no topo de nossa pirâmide social,  deveriam evitar mimos exagerados.
Vão acabar estragando este político e intelectual culto e simpático, que já passou dos 80. FHC participou da luta pela democratização, fez um governo com realizações discutíveis, algumas trágicas e  outras muitos importantes. Também   deixou muitas recordações junto a tantos brasileiros.
Poucos  tiveram a honra de sentar-se à mesa para debater política com Fernando Henrique Cardoso. Eu já.
Em 1975, em plena ditadura militar, FHC compareceu a um debate na USP para discutir a luta pela democratização do país.
Foi um encontro de horas, animado, divertido e inesquecível. Quando me encontra, mais de 30 anos  depois, FHC não deixa de fazer brincadeiras a respeito.
No Brasil de 2012, FHC é um ex-presidente mimado. Você entende a situação. A oposição não ganha uma eleição há três campanhas presidenciais.  Colocou seu principal herdeiro para disputar o pleito em São Paulo como se fosse a mãe de todas as batalhas e agora enfrenta a possibilidade de  encarar a mais dolorosa de todas as derrotas. Aquele que seria o favorito para concorrer em 2014 anda cada vez mais discreto…
Sobrou FHC e ninguém para de falar bem dele. Repare: parece que Fernando Henrique tem razão antes de começar a falar.
Você conhece a situação do garoto mimado. É aquele que é dono da bola e das camisas – e sempre tem lugar garantido no time titular. A mãe nunca dá bronca e o pai sempre arruma um jeito de melhorar a mesada.
As professoras o protegem na sala de aula. Melhoram as notas até quando não merece. Tem aluno que faz muito mais força e nunca recebe o mesmo elogio. Todos nós já vimos isso.
Mas os pedagogos de bairro advertem: graças a esse ambiente de tolerância excessiva, o garoto mimado abusa – e todo mundo acha graça. Não precisa assumir responsabilidades pelo que faz.
Sempre aponta defeitos nos outros.
Qualquer sociólogo B – como filmes B – entende o que ocorre. Os mimos vem de longe mas se acentuaram de uns tempos para cá.
Há  um sentimento de culpa em relação a FHC. Abandonado na hora em que teria sido ético fazer sua defesa,  agora lhe permitem falar o que quer. Pagam a dívida em dobro, com juros  de Pedro Malan.  É  sempre elogiado, lhe passam a mão na cabeça e jamais se ouve uma critica. Faça um teste, você mesmo.
Dê uma gugada e procure um adjetivo negativo, uma observação crítica ou mesmo uma ironia.  Daqui a pouco, vão dizer que a Dilma só faz um bom governo porque vez por outra trocou umas palavrinhas gentis com ele e parou de levar em conta dseu padrinho Luiz Inácio Lula da Silva.
Já perdi a conta de quantos livros saíram sobre ele, quantos balanços, quantas interpretações. Gostam tanto de FHC que o formato preferido é de livros-entrevista, onde o próprio protagonista tem a palavra final.
FHC ganhou até uma antologia de fotos. Ficou bem até quando falou que era preciso legalizar a maconha, cocaína, heroína… Em teatro isso se chama fazer o coro. O personagem principal diz o que pensa e os coadjuvantes dão sustentação:  repetem, perguntam se não foi mesmo bacana, e assim por diante. Isso é o mais importante. Os universitários, como dizia Silvio Santos, precisam dar razão.
Mas: e a política? A economia? O texto? O debate? O contraponto? Sem substância, os mimos parecem hipocrisia,  não é mesmo?
Os carinhos desmedidos são tantos, e tão intensos, que muitas pessoas acreditam, como se fosse um fato demonstrado cientificamente, que tudo o que aconteceu de bom no Brasil depois de 2003 é fruto da herança do governo FHC.
Tudo: do Bolsa Família ao crescimento duas vezes maior do que na década anterior, a redistribuição de renda,  a valorização do salario mínimo, o reforço nas garantias dos assalariados, a reação imediata ao colapso dos mercados.
Alfredo Bosi, que dedica vários parágrafos de Dialética da Colonização a criticar FHC, admite que se trata de uma águia intelectual – consegue enxergar, muito longe, mudanças e evoluções que escapam aos observadores pedestres.
Os mimos ajudam a explicar   o último artigo de FHC,  publicado no Globo e no Estado. O texto tem o título de “Herança Pesada” e se dedica avaliar o governo Lula. Pode ser resumido nestas 21 palavras:
“É pesada como chumbo a herança desse estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais sensíveis para o futuro da Nação.”
Vamos combinar. Fernando Henrique entregou um país com a inflação em dois dígitos. Os impostos foram às alturas e só os bobos e acham que a carga tributária é obra de seu sucessor.  O desemprego subiu. Sua popularidade era negativa em 13 pontos. Quando foi positiva era menor que a de José Sarney do Plano Cruzado. E antes que você diga que isso é populismo, não custa lembrar que, numa democracia, a opinião popular é (ou deveria ser) muito importante. Essencial, na verdade. Todos os políticos deveriam saber disso.
E a herança de Lula é que é “pesada como chumbo?” Gerou “males morais e prejuízos materiais”?
Falando sério. Em tempos de mensalão, não custa lembrar que o único caso comprovado de compra de votos por dinheiro (“compra de consciências,” como disse o PGR Roberto Gurgel) ocorreu no governo FHC, para aprovar a reeleição.
É mimo demais.
Há um sujeito oculto neste debate. Ora é o sociólogo, distanciado, culto, crítico. Aqui valem as ideias. Ora é o político, engajado, direto, interessado. Aqui residem os fatos.
A arte consiste em escrever como presidente para ser lido como sociólogo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ja vai tarde!

Renato Maurício Prado: Demitido!

O ataque de mau-humor de Galvão Bueno sobre Renato Maurício Prado durante a Olimpíada teve o seu ponto final. Renato deixa o Sportv.Seu contrato, que já tinha expirado, não será renovado.
A direção do Sportv, inicialmente, até planejou botar a turma do deixa-disso em campo para apaziguar os ânimos e reconciliar a dupla.Mas desistiu.
Por Lauro Jardim
Não fará a menor falta aos programas do Sportv, que poderia seguir com a faxina e dar um fim em André Rizek,Lédio Carmona – O Mauro Cesar Pereira do Sportv – e outros torcedores travestidos de jornalista, além da chata bancada gaucha com bairrismo e um falso ar de superioridade.
O Sportv fez uma grande cobertura dos jogos olímpicos de Londres deixando de fora toda essa turminha e o telespectador não sentiu falta de profissionais fracos,a demissão de Renato Maurício Prado é um grande favor prestado aos assinantes.

Saul Leblon-Carta Maior

Tucanolices e coisa séria



O maior feito monetário do conservadorismo brasileiro foi jogar a taxa de juro do país no patamar meliante de 44%. O colosso se deu em 1999. Paradoxalmente, na gestão do principal analista financeiro da atualidade, Fernando Henrique Cardoso, que se dedica à generosa tarefa de explicar à Presidenta Dilma,como se sabe uma jejuna em economia perto dos seus cabedais, que o problema central da Nação hoje é o legado do ciclo Lula.

Para ficar apenas no alicerce fiscal/monetário: em dezembro de 2002 -- último mês do PSDB na Presidência da República-- a relação dívida/PIB atingia estratosféricos 63,2%, praticamente o dobro dos 30,2% existentes no início do ciclo tucano, em 1994. Anote-se: isso, depois de um salto da carga fiscal, que passou de 28,6% para 35% no período. Hoje a relação dívida/PIB é de 35%; a previsão para 2013 é de 32,7%.

Reverteu-se o desastre com uma oscilação de apenas 2 pontos na receita tributária, sem considerar as desonerações e incentivos fiscais. A média da taxa de juros real (acima da inflação) no período de 1997 a 1999 foi de estupendos 21,4%. Hoje é de inéditos 1,98%. Regressões e digressões tucanas, um pleonasmo, elidem o que de fato importa: apesar da queda de 4,5 pontos nos juros desde agosto de 2011, o orçamento de 2013 reserva aos rentistas R$ 108 bi; destina R$ 38 bi à educação e R$ 79,4 bi à saúde.

Aos investimentos ( PAC e Minha Casa) couberam R$ 187 bi. Mesmo que se reduza à metade o gasto com juro, o espaço fiscal para um salto substantivo --indispensável-- nos recursos aos investimentos e serviços essenciais continuará magro. Depois da vitórias contra a pobreza, chegou a vez de afrontar a desigualdade. Entre outras tarefas estruturais, isso pressupõe ampliar o universo tributável de modo a abranger o estoque da riqueza existente. O oposto das tolices regurgitadas por FHC, que ainda festeja uma das derradeiras e melancólicas vitórias da agenda demotucana: subtração de recursos à saúde pública. Registre-se para os anais esse carimbo de uma cepa ideológica, em seu artigo no Estadao, neste domingo: "a oposição conseguiu suprimir a CPMF, cortando R$ 50 bilhões de impostos, e a derrama continuou impávida..." (FHC; Estadão, 02-09-2012). Basta isso.

Postado por Saul Leblon às 07:49

sábado, 1 de setembro de 2012

Prof. Hariovaldo Almeida Prado

Mesmo conspurcado por comunistas, Grande Tribunal reage e condena bolchevistas

28 de agosto de 2012
By
Bourne
Segue o espetáculo do século comandado pelos Excelsos Tribunos da Pátria no qual serão executados os asseclas do grande Ali Babá da nação. Lá naquela Alta Corte o bolchevismo não terá vez, as mentiras cairão, aqueles que forem manchados pela cor escarlate do petismo terão seus nomes lançados no rol dos culpados pelas graves ofensas nunca antes vistas neste país, conforme denuncias pelo Semanário dos Homens Bons, integralmente endossadas pelo Parquet.
O inquisidor-mor, agora do nosso lado, não deixará passar as falsas teses dos defensores malignos e os julgadores hiper qualificados não aceitarão a ladainha comunista da presunção de inocência, sabedores que são que em se tratando de petralhas cabe aos defensores o ônus da prova, princípio básico do estado de direito de todo o mundo livre da dominação esquerdista que preza pela Déclaration des droits de l’Homme et du citoyen.
Neste tribunal a exceção será a regra, moldando-se às necessidades, caso a caso, exigidas pelas circunstâncias excepcionais de forma que o resultado almejado seja alcançado sem os obstáculos já relativizados das normas procedurais que engessam a esculptura dos artistas imbuídos do ideal condenatório formado socialmente nas mentes brilhantes maiores espargido osmoticamente para aqueles que por dever de ofício devem segui-lo.
O processo será dinâmico, escondendo as brechas para as firulas esperneantes dos insolentes, e ante ao gigantesco conjunto comprobatório, arqueado em si, uma vez que difuso, tangente abstrata, função racional maior, cada julgador dos quesitos avaliados obrigatoriamente se comportará como um auxiliar da acusação, vez que os homens bons da nação aguardam ansiosos a punição dos agentes políticos usurpadores do poder que ousaram profanar as verdades de nossa República tão bem guardadas pela tradição, família e Pátria. Alvíssaras!

Agência Carta Maior



31/08/2012

Buffet farto, orquestra afinada e pista vazia


Há certo gosto de decepção no ar. O conservadorismo que durante meses, anos, cultivou o julgamento do chamado mensalão como uma espécie de terceiro turno sanitário, capaz de redimir revezes acumulados desde 2002 no ambiente hostil do voto, de repente percebe-se algo solitário na festa feita para arrebanhar multidões.

Como assim se os melhores buffets da praça foram contratados; a orquestra ensaiou cinco anos a fio e o repertório foi escolhido a dedo?

Por que então a pista está vazia?

Pouca dúvida pode haver, estamos diante de um evento de coordenação profissional.

O timing político coincide exatamente com o calendário eleitoral de 2012; a similitude e a precedência comprovadas do PSDB na mesma e disseminada prática de caixa 2 de campanha --nem por isso virtuosa--, e que ora distingue e demoniza o PT nas manchetes e sentenças, foi enterrada no silêncio obsequioso da mídia.

Celebridades togadas não sonegam seu caudaloso verbo à tarefa de singularizar o que é idêntico.Tudo caminha dentro do figurino previsto, costurado com o afinco das superproduções, o que falta então?

Apenas o essencial: a alegria do povo.

A população brasileira não tem ilusões. Ninguém enxerga querubins no ambiente nebuloso da luta política. Consciente ou intuitiva, ela sabe a seu modo que a política brasileira não é o que deveria ser: o espaço dos que não tem nenhum outro espaço na economia e na sociedade.

A distância em relação ao ambiente autofestivo da mídia condensa essa sabedoria em diferentes versões.

Privatizada pelo financiamento de campanha a cargo dos mercados, a política foi colonizada pelos mercadores. Afastada do cidadão pelo fosso cravado entre a vontade da urna e o definhamento do voto no sistema representativo, a política é encarada exatamente como ela é: um matrimônio litigioso entre a esperança e a decepção.

O PT do qual se cobra aquilo que não se pratica em muitos círculos - à direita e à esquerda - é protagonista dessa ambiguidade; personagem e cronista dos seus limites, possibilidades e distorções.

Que tenha aderido à lógica corrosiva do financiamento eleitoral vinculado ao caixa 2 das empresas e , ao mesmo tempo, protagonizado um ciclo de governo que faz do Brasil hoje o país menos desigual de sua história (de obscena injustiça social), ilustra a complexidade desse jogo pouco afeito a vereditos binários.

Essa ambiguidade não escapa ao discernimento racional ou intuitivo da sociedade.

Se por um lado semeia degenerações clientelistas e apostas recorrentes nos out-siders que se apresentam como entes 'acima dos partidos', ao mesmo tempo é uma vacina de descrença profilática em relação a encenações de retidão como a que se assiste agora.

A repulsa epidêmica dos eleitores de São Paulo a um dos patrocinadores
desse rega-bofe, do qual se imaginava o principal beneficiário, é sintomática do distanciamento que amarela o riso de vitória espetado nos cronistas convidados a animar o evento.

O baixo custo eleitoral do julgamento em curso no STF, contudo, não deve ensejar alívio ou indiferença na frente progressista da qual o PT é um polo central.

O julgamento do chamado 'mensalão' por certo omite o principal e demoniza o secundário. Ao ocultar a dimensão sistêmica a qual o PT aderiu para chegar ao poder, sanciona o linchamento de um partido democrático, uma vez que desautoriza seu principal argumento de defesa.

A meia-verdade atribuída aos réus do PT pelos togados e promotores está entranhada na omissão grotesca da história de que se ressentem suas sentenças pretensiosamente técnicas, envelopadas em liturgia mistificadora.

A pouca ou nenhuma influência eleitoral desse engenhoso ardil que elegeu a ausência de provas como a principal prova condenatória diz o bastante sobre o alcance da hipocrisia vendida como marco zero da moralidade pública pelos vulgarizadores midiáticos.

Não é esse porém o acerto de contas com o qual terá que se enfrentar o PT.

Após uma década no governo federal, o partido, seus intelectuais, lideranças e aliados nos movimentos sociais tem um encontro marcado com uma indagação incontornável, que não é nova na história das lutas sociais: em que medida um partido progressista tem condições de se renovar depois da experiência do poder? Em que medida tem algo a dizer sobre o passo seguinte da história?

O legado inegociável das conquistas acumuladas nesses dez anos entrou na casa dos brasileiros mais humildes, sentou-se à mesa, integrou-se à família. Ganhou aderência no imaginário social.

Não é preciso desconhecer os erros e equívocos para admitir que essa década mudou a pauta da política; alterou a face da cidadania; redefiniu as fronteiras do mercado e da produção.Deu ao Brasil uma presença mundial que nunca teve.

Com todas as limitações sabidas, criou-se uma nova referência histórica no campo popular em que antes só avultava a figura de Getúlio Vargas.

Lula personifica essa novidade que a população entende, identifica e respeita.

E que o enredo do 'mensalão' gostaria de sepultar.

Não está em jogo abdicar do divisor conquistado, mas sim ultrapassá-lo. Avulta que o percurso concluído abriu flancos, sugou agendas, talhou cicatrizes e escavou revezes de esgotamento, dos quais o julgamento em curso no STF é um exemplo ostensivo. Todavia não o principal.

Existe uma moldura histórica mais ampla a saturar esse ciclo.

O colapso da ordem neoliberal, os riscos intrínsecos espetados na desordem financeira e ambiental em curso no planeta --suas ameaças às conquistas brasileiras-- formam um condensado de culminâncias que pede desassombro na renovação da agenda da democracia e do desenvolvimento para ser afrontado.

O caminho não será trilhado, menos ainda liderado, por forças e partidos incapazes de incluir na bússola do trajeto o ponteiro da autocrítica política e de um aggiornamento organizativo coerente com a renovação cobrada pela história.

O carro de som da direita faz barulho por onde passa nesse momento. Mas isso não muda a qualidade da mercadoria que apregoa.

O que o alarido dos decibéis busca vender é o velho pote de iogurte vencido e rançoso, cuja versão eleitoral em São Paulo tem 43% de rejeição popular.

A resposta da frente progressista à qual o PT se insere não pode ser a mera denúncia da propaganda enganosa.

Urge esquadrejar revezes e resoluções para renovar o próprio estoque de metas e métodos requeridos pelo novo ciclo da história.
Postado por Saul Leblon às 07:00