segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Jô e o país dos indignados seletivos

Jô e o país dos indignados seletivos
Braço aqui também: neste caso, sem chilique da crônica esportiva
Foto: Reprodução TV
Fato histórico: o Corinthians surgiu, em 1910, contra tudo e contra todos, atrevendo-se a exibir virtudes em um esporte controlado pelas elites. Expôs à ribalta do ludopédio os rebeldes jovens da Várzea do Carmo, como Neco e Apparício.
Na época, a prática do futebol oficial era privilégio dos bacharéis e dos bem-nascidos, descendentes dos barões do café e dos controladores do nascente parque industrial nacional.
Não à toa, portanto, o Corinthians sempre foi visto pela mídia bandeirante como um penetra na festa chique, agregando ao esporte bretão incômodos operários, pequenos comerciantes, prestadores de serviços, estudantes inquietos e lavadeiras sem papas na língua.
Em 1913, o jornal “O Imparcial” já afirmava que o entusiasmo pelo futebol parecia minguar. Motivo alegado: a invasão da plebe.
E define: “...apesar do Corinthians ser um team valoroso, seria melhor distribuir seus jogadores entre os clubes”.
Desde essa época, as vozes da tradição quatrocentona têm sido implacáveis com o Corinthians e os corinthianos, time considerado representante dos “suados”, da “pretalhada”, dos “carroceiros”, dos “anarquistas”, sempre em tom pejorativo.
Neste 107 anos, o Corinthians constituiu uma espetacular mescla de fiéis, incorporando massivamente os mais humildes, mas também muitos daqueles em posição de destaque no campo socioeconômico.
Em tempos remotos, angariamos já a adesão de figuras de destaque, como o jurista Alcântara Machado (um dos responsáveis pela cessão do terreno do estádio da Ponte Grande) e o empresário Alfredo Schürig.
Pouco se alterou, no entanto, a postura preconceituosa de parte da crônica esportiva. É implacável com o Corinthians; complacente com outras associações desportivas.
Mimimi da turma de Parque São Jorge? Não! O Corinthians foi prejudicado pela arbitragem inúmeras vezes, mas esses episódios raramente ganham notoriedade.
O contrário, sim. Até hoje, por exemplo, difundem-se textos e mais textos sobre o suposto gol de mão corinthiano, anotado por Carlito, na decisão do Paulista 1938, contra o São Paulo.
O estigma atual deriva fortemente da campanha movida pelo jornalista-publicitário Milton Neves, que associou aos mosqueteiros a maldosa expressão “apito amigo”.
Outro episódio que muito contribuiu para a atual onda de indignação seletiva foi o desenrolar do Campeonato Brasileiro de 2005.
Já mostramos em coluna anterior que, naquele certame, a bronca está centrada no lance que resultou na expulsão de Tinga, na partida finalizada em 1 a 1, no Pacaembu.
Naquele mesmo campeonato, no entanto, não houve alarde sobre as nove partidas em que o Internacional foi beneficiado pela arbitragem, tampouco em outras nove nas quais o Corinthians foi prejudicado.
A mídia de moral seletiva não bradou contra a arbitragem que, naquele ano, desconheceu o impedimento na jogada que definiu a vitória dos colorados sobre o Brasiliense.
No jogo derradeiro do alvinegro, pouco se ouviu sobre o gol goiano, anotado por Souza, em posição de impedimento.
É também estranho que o suposto clube do “apito amigo” tenha passado mais de 22 anos em jejum de títulos importantes.
Ou que se tenha abandonado às vilanias do desonesto Amarilla, em 2013, em uma das arbitragens mais escandalosas de todos os tempos.
Se tratamos do atual Campeonato Brasileiro, onde se viu faniquito do impoluto Mauro Cezar Pereira depois que a arbitragem invalidou gol legal do mesmo Jô contra o Coritiba?
O mesmo avante corinthiano, aliás, teve outro tento justo embolsado pelos apitadores, no empate em 1 a 1 contra o Flamengo, na Arena de Itaquera.
E quem viu chilique depois da mão de Luis Fabiano num dos tentos cruzmaltinos nos 2 a 5 do primeiro turno?
Viu o dedo apontado? Desconfie. Esta é a terra dos fariseus!

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