sábado, 29 de outubro de 2016

Muito mais que 31 / 29 DE OUTUBRO DE 2016 ÀS 01:23 POR WALTER FALCETA

Muito mais que 31
O país da vingança, do autoritarismo e da espetacularização da barbárie
Foto: Reprodução
Somos muito mais que 31, mais, muito mais!
Porque nos acompanha a indignação de quem manifesta repulsa pelo fedor da injustiça, da hipocrisia e do autoritarismo.
Plim-plim: exiba o antes e o depois.
Plim-plim: abra a lente da câmera.
Plim-plim: narre o outro lado da história.
Plim-plim: você manipula, sim, e conspira contra o futebol brasileiro, trabalhando dia e noite pelo tubarões atravessadores, pelas máfias de cartolas e pelos oligopólios de serviços terceirizados que vampirizam os clubes.
Plim-plim: você nos quer como “psites do sofá”, fora do estádio, para nos enfiar cérebro abaixo a sua ideologia e os produtos de seus anunciantes. Você nos quer à força submetidos ao seu projeto de dominação.
Detalhe: não há tamanha fraude que se sustente por tanto tempo. Sua casa platinada vai cair.
Mepezeiros: executem vosso nobre trabalho sem o interesse pessoal, sem convertê-lo em campanha eleitoral.
Prezem a merenda da criançada do nosso Brasil.
Investiguem com zelo. Respeitem o jovem, o negro, a mulher, o mais humilde.
Abandonem as perseguições seletivas e o discurso farisaico. Defendam o povo que paga vossos salários.
Cabulem os coquetéis dos engravatados, os tais “gente de bem”, que raramente são alvos de vossas investigações.
Há ótimos de vocês. Sigam esses.
Casseteteiros: vocês são povo e, por mais que sejam submetidos à lavagem cerebral das corporações, resistam, ergam trincheiras para defender os bons valores.
Não sumam jamais com os Amarildos.
Não eliminem 111 sem julgamento, por mais que entre eles se encontrem os piores delinquentes. Sejam a mais justa expressão da lei.
Não julguem o cidadão da pela etnia, pela cor da pele ou pelas vestes. Porque vocês também são povo. Porque vocês também descendem de famílias humildes, trabalhadoras, oprimidas e humilhadas.
Sejam disciplinados em nome da justiça e da lei, mas é vosso dever rebelar-se contra a tirania e o terror promovido em nome do Estado.
Em favor da ordem, o dever do cassetete é prevenir, conciliar, proteger. Não é jamais provocar, desrespeitar e estabelecer o conflito.
Cartolas do SCCP: tomem vergonha na cara e nunca mais contratem os serviços de quem oprime e desrespeita a Fiel, proprietária de direito do Sport Club Corinthians Paulista.
Manifestem-se. Exijam justiça. Sigam Battaglia e os heróis fundadores.
Porque vossa omissão nos ofende, insulta e envergonha. Que boca silenciosa é esta? Que foi dito quando tantos fiéis foram capturados e encarcerados por guardarem, na sede recreativa, instrumentos para a preparação de churrasco?
E você, cidadão comum, que escandaloso esse silêncio. Causa enorme constrangimento.
Que omissão é essa diante da toga clubista que condena por impulso, sem provas?
Que omissão é essa diante do equívoco vergonhoso que resultou na detenção de cidadãos trabalhadores que nem mesmo se encontravam na área do conflito?
Que omissão é essa diante da seletividade do martelo, que prende aqui e livra acolá, que investiga estes e desconhece aqueles, que transforma o aparato de justiça em ferramenta de vingança bairrista?
Que omissão é esta diante do escarro solene sobre os princípios mais elementares do Direito?
Que saibamos, em nome de nossa própria segurança: a vingança jamais deve pautar o cassetete e o martelo, não importa o delito cometido.
Nosso país vive hoje um regime de exceção, em que homens e mulheres são condenados por mera suspeita, por ódio de classe ou por conveniência política.
Não podemos, nunca, nos conformar com a conversão do Brasil em um enorme Carandiru, em que os cidadãos, contribuintes, pais de família, trabalhadores, mesmo inocentes, são desnudados, agredidos e humilhados em ambiente público, para deleite mórbido da emissora do plim-plim.
Neste sábado, aos 31 minutos, saquemos nossas camisas, para manifestar a mais nobre solidariedade aos 31 detidos do Maracanã.
Depois, nunca mais. Não há lei que nos obrigue. Desobedeça, como fariam Gandhi, Luther King e Mandela!
Porque somos mais, muito mais que 31.

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