quarta-feira, 7 de setembro de 2016

POLÍCIA BANDIDA / João Lopes

Sempre que um policial morre, aparece um comandante ou secretário de segurança com os mesmos mimimis e chororôs: que a população não é solidária com a polícia, que não se importa com as mortes de policiais...
Então, depois do espetáculo deprimente de anteontem, as senhoras autoridades querem que as vítimas do gás lacrimogênio, das bombas de efeito moral, sprays de pimenta, porradas, chorem pela sorte dos seus agressores?
O tenente-coronel (com letras minúsculas, revisor), comandante dos vândalos fardados, foi para as redes sociais ironizar, debochar, fazer piadinha com a militante que ficou cega nas mãos da polícia.
Morrendo um resto assim, fora mãe, mulher e filhos, que deve chorar?
Ou os que devem chorar são as vítimas de balas perdidas, os que tiveram parentes executados, os que enterraram filhos honestos com fama de bandidos, porque policiais colocaram armas nas mãos dos cadáveres, para justificarem o homicídio como autos de resistência?
A desculpa será a de sempre: nem todo policial é assim. E quem disse que todo manifestante é vândalo, para a polícia tratá-los assim?
Fala sério!
Todos os que assistiram as manifestações de domingo, na Avenida Paulista, SP, inclusive os transeuntes (ô palavra feia!), que nem são fora Dilma nem fora Temer, opinaram de maneira unânime: foi uma manifestação pacífica, ordeira, disciplinada, com a Polícia Militar quietinha, como poucas vezes esteve, e por motivo óbvio: as câmeras e microfones internacionais no evento.
Terminado o ato, nas dispersões, com a multidão dividida em grupos, já longe da mídia estrangeira, a polícia deu o ar da graça, em covardia explícita.
Claro que, tomados de revolta, agredidos reagiram, atacando a polícia e/ou depredando.
A mídia tupiniquim esconde isso, com destaque para a Globo, limitando-se a mostrar mascarados.
Vamos examinar melhor esta questão: a experiência, longa e continuada, me mostrou que há dois tipos de mascarados: os que o fazem para defesa e os que se tornam anônimos para o ataque.
É fácil distingui-los: os que usam lenços ou a própria camisa, às vezes uma toalha, agem assim por dois motivos.
1) O lenço, camisa ou toalha estão encharcados de vinagre, e, para neutralizar o gás lacrimogênio, evitando a asfixia, o lacrimejamento, o mal estar e, se com aspiração continuada, a inconsciência;
2) Por terem identidade pública, por dirigirem entidades, mascaram-se para não serem identificados por policiais do serviço reservado da polícia, infiltrados.
Repare que redigi mascarados com lenços, as próprias camisa ou toalhas. Os vândalos mascarados normalmente usam touca ninja ou máscaras industrializadas, de plástico, silicone ou PVC, do tipo Batman, Homem Aranha, Moro... As dos Anonymous ficaram célebres no mundo todo, impedindo-nos de saber quem era brasileiro coxinha, quem era líder de entidade e quem era estrangeiro, os verdadeiros organizadores dos atos de então.
Não vi cenas, nos atos de domingo, de ninguém com touca ninja ou máscara industrializada.
Tudo isto sem perder de vista que muitos dos que começam as depredações são policiais e anarquistas profissionais, remunerados, infiltrados, seja tomando a iniciativa do vandalismo ou incitando.
Todo ser humano tem em si um componente de violência e um componente de solidariedade, convivendo, dialeticamente, o que não nos permite ser absolutamente bons ou absolutamente maus, o que nos exige permanente vigilância, sobre os nossos atos e atitudes.
Isto nos permite condenar e absolver os maus policiais, covardes agressores dos que lhes pagam os salários.
Absolver porque as suas atividades diárias os expõem à violência, acabando por torná-los vítimas também e, PRINCIPALMENTE, porque obedecem ordens.
Condená-los porque são covardes, mas soldados, cabos e sargentos, além de terem que prestar conta da munição gasta nas missões, uma maneira de controlá-los, são filmados e fotografados, durante as arbitrariedades. Nenhum policial faz o que faz sem ordens ou pelo menos permissão dos seus superiores, os oficiais.
Os oficiais são culpados porque são cúmplices na covardia, por ação ou omissão, mas também recebem ordens e estão vigiados pelas Corregedorias e comandos.
As corregedorias são culpadas por não apurarem e punirem os excessos, e os comandos, por serem covardes, por ação ou omissão, embora recebam ordens do comandante em chefe da corporação (com letra minúscula, revisor).
Já o comandante em chefe é só covarde, sem atenuantes, porque não recebe ordens de ninguém, só ordena, e o comandante em chefe das polícias militares são os governadores de estado.
No caso de São Paulo, o comandante em chefe se chama Geraldo Alkimin, o responsável direto por toda a barbárie que temos assistido.
Nunca é demais lembrar que nas passeatas anteriores, quando pediram fora Dilma, ditadura militar, fim do PT, golpes... O que assistimos foi policiais fazendo selfies com militantes, relaxados e tranqüilos, chegando-se ao absurdo de vermos guarnições da Polícia Militar do Estado de São Paulo fazendo escolta a bonecos de plástico, como pixulecos e patinhos da Fiesp, para que não fossem furados, em claro desvio de função, tudo ordenado pelo governador do estado.
E chegamos ao ponto crucial da questão: a polícia militar do Estado de São Paulo é uma instituição da segurança pública, uma facção política ou uma milícia do governador?
Francisco Costa
Rio, 06/09/2016.

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