terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Haddad ensina como o PT deve travar a guerra da comunicação


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Em um momento em que governos petistas de todo o país, em todos os níveis (federal, estadual e municipal), mergulham na impopularidade por razões justificáveis (campanha de oposição da mídia e crise econômica) e injustificáveis (por inação e medo do enfrentamento político), o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, deu uma aula de comunicação eficiente.
Ao fim deste texto o leitor poderá ouvir na íntegra, em três partes uma entrevista de Haddad que mostra luz no fim do túnel para o PT. Mas, antes, algumas considerações necessárias.
Na quarta-feira da semana passada (12/02), o alcaide paulista esteve no programa “Jornal da Manhã”, da rádio Jovem Pan. Para entrevistá-lo foram convocados dois antipetistas de carteirinha, o historiador tucano Marco Antonio Villa e a apresentadora de telejornal do SBT Raquel Sheherazade.
Foi um massacre. A disparidade de preparo intelectual entre os entrevistadores e o entrevistado ficou escandalosamente evidente. Villa foi quem mais apanhou, apesar de que, em nenhum momento, Haddad o desrespeitou. Apenas mostrou quão desinformado é o historiador tucano sobre os assuntos que pretendeu debater com um administrador que demonstrou dominar, de forma impressionante, cada aspecto da administração que comanda.
Sheherazade ficou aparentemente intimidada e pegou mais leve. Villa, porém, apesar de muito mais agressivo, ficou tão perdido que começou a apelar à ironia como forma de suprir sua falta de informações e de argumentos.
Nos primeiros minutos da ENORME entrevista que Haddad concedeu – de quase uma hora e meia –, o prefeito já deu um “chega-pra-lá” em Villa para ele perceber que não iria ter moleza. Confira, abaixo, o primeiro ataque do historiador tucano e a forma como Haddad repeliu a ofensiva.
Marco Antonio Villa – O senhor já percorreu mais da metade do mandato. A última avaliação Datafolha do senhor não foi positiva. Quando é uma avaliação no primeiro mês, no primeiro semestre, no primeiro ano, sempre há uma justificativa do mandato anterior; historicamente é no Brasil assim. Mas o senhor já cumpriu mais da metade do mandato e a avaliação ruim e péssimo é extremamente alta para os padrões inclusive de São Paulo, onde os prefeitos inclusive também foram mal avaliados; é de 44%. Como é que o senhor avalia? Quem é que está errado, a gestão do senhor ou os eleitores. 
Fernando Haddad – Acho que você…
Marco Antonio Villa – É? Os dados estão errados?!
Fernando Haddad – Não, você. Vila, você é historiador…
Marco Antonio Villa – Sim…
Fernando Haddad – …Então você tem que fazer análise de série histórica…
Marco Antonio Villa – Sim…
Fernando Haddad – …Se fosse pegar o primeiro semestre do terceiro ano da gestão da Marta e do Kassab, vai ter, exatamente, a mesma avaliação…
Marco Antonio Villa – Sei, sei… Eu precisava consultor esses dados… Então o senhor acha normal ter 44% de ruim e péssimo depois de dois anos de gestão?
Fernando Haddad – Dependendo da conjuntura, sim.
Marco Antonio Villa – E que conjuntura que o senhor tem que o senhor pode explicar que a gestão… Que os eleitores estão errados, que eu estou errado, que o senhor está certo?
Fernando Haddad – Não, eu não estou dizendo que os eleitores estão errados…
Marco Antonio Villa – Sei…
Fernando Haddad – Estou dizendo que a sua análise está errada. Você falou que é a primeira vez que isso acontece e eu estou dizendo que não…
Marco Antonio Villa – Sim…
Fernando Haddad – Estou dizendo que na gestão da Marta aconteceu, na gestão do Kassab, antes da reeleição, aconteceu e, portanto, não é uma novidade em São Paulo…
Marco Antonio Villa – E por que que isso acontece?
Fernando Haddad – Olha, tem várias razões. Por exemplo, tarifa de ônibus. É uma coisa que afeta muito a popularidade no Brasil, mas, em São Paulo, em particular…
Marco Antonio Villa – Sim…
Fernando Haddad – Se você pegar os quatro anos de mandato da gestão da Marta e os quatro anos de mandato da gestão Kassab – o segundo mandato, porque o primeiro não houve reajuste e, no segundo, um reajuste muito acima da inflação – você vai ver que as pesquisas que foram feitas na sequência dos reajustes de tarifa, deram indicadores [negativos] superiores a esse que você acabou de se referir…
Raquel Sheherazade – Prefeito Haddad…
Fernando Haddad – … Em março de 2003, a Marta estava no terceiro ano de mandato, como eu. Teve 45% de ruim e péssimo. Imediatamente depois do reajuste da tarifa. Se você pegar os dois reajustes do Kassab no segundo mandato, chegou a 46% de ruim e péssimo. Basta você  [Villa] pegar a série história – você é historiador, sabe fazer leitura de números – e vai ver que a coisa é bem diferente […]
Ufa! Haddad correu o risco de ser acusado de espancamento com requintes de crueldade. Ele mostrou que o “historiador” que tentou fustigá-lo não conhece nem a história recentíssima de sua cidade. Não teve nem o cuidado de ir ao site do Datafolha analisar como estava a popularidade dos antecessores de Haddad quando chegaram a terceiro ano de mandato nos primeiros meses do ano – quando a tarifa do transporte público aumenta em todo o país.
Ao longo da entrevista, Haddad mostrou um outro dado: é extremamente fácil rebater as críticas da mídia tucana. Só é necessário alguém com boa oratória e informado sobre dados políticos e técnicos da administração, dados que o prefeito paulistano mostrou que domina. Esse conhecimento, aliado a uma oratória extremamente fluente e precisa, triturou apresentadores despreparados.
Mais adiante, aliás, acuado por um entrevistado que já dominava completamente o debate, o “Jornal da Manhã” pôs no ar um ouvinte mal-educado que fez uma crítica boba ao prefeito, que já abordará a questão que esse ouvinte levantou. Vale a pena conferir, abaixo.
Ouvinte – Bom dia pessoal da Jovem Pan. Meu nome é [inaudível], eu sou de Carapicuíba. Em resposta a esse “prefeito Haddad”, o que define o mandato dele como péssimo são as ruas esburacadas, é esse preço do ônibus, a tarifa do ônibus, essa a saúde de São Paulo, é isso que define esse governo dele como péssimo. Esses números…
Fernando Haddad – É, você vê que a tarifa de ônibus fica na cabeça das pessoas. O que as pessoas não entendem é que o salário do motorista e do cobrador aumenta. Nos últimos quatro anos a tarifa ficou congelada […]. O último reajuste foi quatro anos atrás. O salário de motorista e cobrador aumentou 35%, nos últimos quatro anos; o reajuste da tarifa foi 17%. E ele [o ouvinte], você vê que ele não menciona o metrô. Ele poderia estar se referindo, também, ao metrô e ao trem. Ele não menciona. Provavelmente porque ele desconhece que é atribuição de outra esfera de governo… São dois governos de dois partidos diferentes que tomaram a mesma medida, não contra a população, mas porque tem custos aumentando […]
A entrevista foi longa – cerca de oitenta minutos, que o leitor poderá ouvir ao fim do texto –, mas os trechos que você leu acima sintetizam o que nela ocorreu. Haddad arrasou entrevistadores despreparados, ouvintes desinformados. Seguramente, pessoas de melhor nível intelectual entenderam e aprovaram os esclarecimentos do prefeito.
O que não se entende é por que um governante tão evidentemente sério, tão bem articulado, capaz de, inclusive, expor entrevistadores mal-intencionados ao ridículo só começou a falar, a travar o debate político de forma adequada, no terceiro ano de mandato.
Esse formato de entrevista favorece demais o prefeito. Ele tem que conseguir mais dessas entrevistas – e para o prefeito da maior cidade brasileira, não será difícil.
Futuramente, claro, a mídia antipetista tentará escalar adversários – não havia entrevistadores nessa entrevista da Jovem Pan, mas adversários – melhor preparados do que os sofríveis Marco Antonio Villa e Raquel Sheherazade. Mas isso talvez até facilite as coisas para um administrador que sabe do que fala e sabe como falar o que sabe.
Seja como for, Haddad ainda tem quase dois anos de mandato pela frente. Se se dispuser a enfrentar o debate democrático sobretudo nessas rádios que tanto fazem a cabeça dos paulistanos e que se dirigem a um público praticamente indefeso diante das manipulações tucano-midiáticas, fará esse público entender melhor sua excelente gestão.
Não há que nos debruçarmos muito sobre o conteúdo da entrevista, já que Haddad fala de problemas que, para a grande maioria dos leitores desta página, não dizem nada, pois essa maioria está em várias partes do Brasil. Mas há que ressaltar, além da atuação digna de aplausos do prefeito, o potencial político que alguém como ele detém.
Há poucos políticos tão preparados quanto Haddad, no país. E quando se alude a preparo não é só o administrativo, mas o comunicacional. O prefeito paulistano é um comunicador nato. Se se expuser mais, como vem fazendo, que não duvidem: ele pode chegar muito mais longe na política do que se espera. O PT já dispõe de um candidato a presidente para 2018.
Confira a integra no you tube
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