sábado, 25 de outubro de 2014

Artigo de BRENO ALTMAN

TUCANOS SÃO A CÔMICA VOZ DA BRUTALIDADE

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Apoiadores de Aécio Neves marcharam ontem em São Paulo.
Os petistas haviam dado seu grito de guerra, segunda-feira, no TUCA, superlotando um dos bastiões da resistência à ditadura. Também se manifestaram em Itaquera, um dos principais bairros proletários da cidade.
Militantes do PSDB e aliados, ao som do hino nacional, concluíram sua manifestação diante do Shopping Iguatemi.
Cada macaco no seu galho. Cada crença com seu templo.
A Polícia Militar estimou a presença em mil pessoas. Depois revisou para cinco mil. Os chefes tucanos especulam números entre dez e vinte mil participantes. Qualquer que seja a conta, estava presente a fina flor da oposição de direita.
A ideia da mobilização era pinta-la com cores extrapartidárias. “Um ato convocado pela sociedade civil, mas que reuniu todos aqueles que clamam por uma mudança e pedem que o Brasil volte a ser o que era”, afirmou Milton Flávio, presidente do PSDB municipal, à reportagem do UOL.
A “sociedade civil” estava bem representada em cima do carro de som: o deputado federal Paulinho da Força (SD), a cantora Wanessa Camargo, o humorista Juca Chaves e o vereador tucano Floriano Pesaro.
Forte mesmo, porém, era a presença da turma desejosa que “o Brasil volte a ser o que era”. Enquanto Paulinho gritava a plenos pulmões “fora, PT”, quase a seus pés um cartaz clamava: “Viva a liberdade! Fora o comunismo”.
Bem vestidos e elegantes, senhoras e senhores da República de Higienópolis, acompanhados de moças e moços da mesma nação, faziam soar os bordões do Brasil pelo qual muitos entre eles choram de saudades. Sem jamais deixar de lado, é claro, aquele tratamento educado e efusivo que aprenderam a proferir, contra a presidente, nos estádios de futebol.
“A nossa bandeira jamais será vermelha!”
“Dilma terrorista!”
“Ei, ebola leva a Dilma embora!”
“Ai que maravilha, a Dilma vai pra Cuba e o Aécio pra Brasília!”
“Dilma vai embora que o Brasil não quer você / aproveita e leva embora os vagabundos do PT” – ao som de “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.
Ah, o mestre de cerimônia era negro. O herói tentava inspirar palavras de ordem e cânticos mais civilizados, mas a horda queria mesmo era xingar e destilar seu ódio antipetista.
O trajeto e o cenário compunham tentativa de reeditar os protestos de junho do ano passado. Mas em uma versão particular: a dos herdeiros políticos e culturais da marcha com Deus e a Família, marcante na preparação do golpe militar de 1964.
Como dizia o velho barbudo, e não estou falando de Papai Noel, a história só se repete como farsa.
Eduardo Bolsonaro, o filho do favorito entre os gorilas, recém-eleito deputado federal por São Paulo, circulava pela passeata na companhia de ex-comunistas e outros tipos de vira-casacas que, no passado, combateram o regime militar.
Muitas tribos se unem na brutalidade que emana do rancor contra o partido de Lula e Dilma. Vão de fascistas declarados a uma curiosa “esquerda democrática”, todos arregimentados pela vontade de tirar o PT do governo a qualquer preço.
A frente ampla do Shopping Iguatemi, como seus antepassados, esbraveja contra a corrupção. Mas o que efetivamente lhes perturba é ver, aos pouquinhos, o Estado se deslocar da casa grande para a senzala.
Seus interesses, desejos, problemas e valores vão deixando de ser o fio condutor da vida nacional. Aos trancos e barrancos, multidões historicamente subalternas vão ocupando o centro da vida pública.
Ninguém tocou no uísque, nas propriedades e nos juros do andar de cima, mas o desconforto com a ascensão dos pobres do campo e da cidade não deixa dormir aqueles que jamais arrumaram sua própria cama.
Desesperados pela expectativa de nova derrota eleitoral, libertam-se de qualquer pudor. Ao odor de naftalina do velho repertório golpista, soma-se o cheiro putrefato das fobias contra a diferença.
Gritavam pela avenida Faria Lima como se fossem uma potência pronta para a guerra, mas o sentimento que os mobilizava era o direito à preservação da espécie.
A belicosidade tinha algo de pândega. Claro que gente dessa estirpe pode significar, em certo momento, perigo para a existência do regime democrático.
Por ora, tal ameaça está imersa no ridículo. Deve ser por isso que os petistas lutam e denunciam, vigilantes, mas preferem rir a xingar.
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